Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
A alma humana carece de reconhecimento, admiração e elogios, como o corpo de alimento. Não por acaso, recente pesquisa feita com profissionais de todas as áreas, levada a efeito no Brasil, revelou que a maior queixa dos trabalhadores não são os baixos salários ou conflitos no ambiente de trabalho, mas a falta de reconhecimento por parte de superiores ou das organizações a que dedicam seus esforços, seu tempo, sua vida.
O elogio e o reconhecimento são, ainda, vistos com reserva e suspeita, nos ambientes tidos como religiosos ou por pessoas pretensamente sábias, como um tóxico psicológico, a incentivar a vaidade e nutrir o ego do ouvinte. Entretanto, consegue-se, com isso, tão-somente, minar a alegria e até a vontade de viver dos entes mais amados, bem como de estranhos. Disciplinar, exigir e pressionar, sem dar estímulos positivos equivale a matar um pouco todos os dias aqueles que são foco de nossa sanha medonha de tirania. O ego não deve desaparecer ou ser imediatamente transmutado – mesmo porque isso é impossível, no nível humano de consciência (e quem acha que já fez ou está em vias de concretizar tal feito, com quase toda certeza porta patologias da emoção e do sentimento de valor pessoal). O ego tem que estar saudável e operante para servir ao Eu Superior, a centelha sagrada de divindade que habita todos nós, o campo de ideal e de bem-aventurança.
Elogio, porém, que não seja honesto ou moderado não é elogio: é bajulação ou idolatria. Todos dispensamos a bajulação, que é desprezível; e a idolatria que é alucinada. Mas ninguém pode viver sem receber algum nível de aprovação, de alguém ou de algum grupo social. Confunde-se orgulho e vaidade, com auto-estima e auto-confiança, e eis aí a grande questão a solver o enigma. O vaidoso, como o orgulhoso, querem rebaixar alguém, com a aparência ou mesmo a existência de virtudes que supõem possuir. Quem tem auto-estima e auto-confiança bem consolidados conhece o próprio valor, é motivado, sabe que tipo de compromissos e em que medida pode assumi-los, é otimista, alegre, humano e generoso.
Reconhecer alguém é validar-lhe a existência, dar-lhe visibilidade, propósito para viver, é imputar valor ao ser do outro, é nutri-lo de esperança e auto-amor, que, por conseqüência, extravasará amor de volta, para quem emitiu a afirmação positiva, como para outras pessoas, num efeito dominó que pode atingir centenas, milhares de pessoas, num único dia. Muita gente quer salvar o mundo, realizar grandes obras, resgatar e transformar vidas, e se esquece do poder do elogio sincero e justo, da gentileza, da atenção ao ouvir, da paciência em tolerar e compreender, para enxergar o ângulo melhor das coisas, eventos e pessoas.
Desesperadas desse alimento axial, muitos procuram compensar-se no sexo desbragado, na aquisição exagerada de patrimônio, no acúmulo compulsivo de títulos, no escalamento de posições de poder, prestígio e popularidade, no seio das humanas sociedades, muitas vezes, contudo, continuando a carregar, dentro de si, o fogo abrasador do desejo de ser visto, apreciado e amado. Os vícios, de um modo geral, incluindo os lícitos, como o álcool e o tabaco, são outra porta perigosa de fuga para tal premência psicológica, que constituem tétricas armadilhas no caminho dos desprevenidos – em legiões de centenas de milhões…
No relacionamento com entes queridos, não manipule culpa pela sua infelicidade: instigue-lhes a responsabilidade por ajudarem-no a ser feliz. Embora sabendo que ninguém é inteiramente responsável por ninguém, demonstre o quanto seus entes queridos são importantes para você e seu bem estar, dizendo-lhes claramente isso, com o cuidado de não denunciar nenhuma partícula de mágoa ou cobrança, mas evidenciando o quanto são valiosos para você. Isso nada tem a ver com reclamar, culpar ou punir pelo que eventualmente esteja sendo feito de errado ou pelo que de bom está sendo negligenciado. Mas justamente o contrário: exprimir estima pelo que de bom está sendo feito. Pesquisas psicológicas indicam que, quando se reclama algo em alguém, fomenta-se, no indivíduo reclamado, uma tendência inconsciente à repetição do gesto recriminado; já quando, de reversa maneira, elogia-se a conduta certa, ainda que rara, ela tenderá a ser multiplicada, no comportamento do que lhe recebe o estímulo. É o clássico princípio psicológico do reforço positivo.
Quem elogia, com moderação e sinceridade, cativa o ouvinte. Quem ataca, cobra ou critica, mais do que reconhece o valor dos interlocutores, nunca é ouvido de verdade, e, de forma irônica, desperta-lhes aversão para o assunto abordado na crítica, bem como antipatia pelo próprio acusador; e, pior que tudo: engendra-se uma tendência para se fazer exatamente o contrário do que se sugere.
Seja específico e detalhe o que o encanta. Dizer algo de: “você é uma pessoa maravilhosa”, embora possa ser uma declaração autêntica, pode soar falsa (a ouvidos menos atentos) ou inconsistente, para quem não se valoriza. Diga do que gosta, objetivando a sua admiração; algo como: “Você tem uma fantástica capacidade de tolerar pessoas desagradáveis: invejo-o por isso”.
Nada de adulação ou chantagens – ou, em outro sentido, elogios falsos ou vendidos (em acordo tácito de troca por outros favores): constituem traços de desonestidade. Todavia, não deixe de fornecer o alimento do afeto, da admiração e do reconhecimento, falando particular e publicamente, sem pudores, o quanto vê de positivo naqueles que convivem com você; e metade dos problemas que vivencia desvanecer-se-ão, como nuvens ao efeito de grandes ventanias.
Saiba ser amigo o suficiente para dizer coisas desagradáveis e duras, quando necessário, principalmente ao bem do outro. Mas saiba ser mais amigo ainda, em não se acanhando em proclamar o quanto aprecia e quer bem àqueles por quem nutre sentimentos especiais. Isso é sinal de maturidade: a segurança de dizer que ama, sem se preocupar em ser mal-visto, estimular abusos ou promover desinteresse. A quem pretender abusá-lo, por causa de seu afeto declarado, declare também que não está disponível para jogos neuróticos. Quem interpretar mal seu gesto afetuoso ou se afastar de você por causa disso é bom mesmo que se ponha à distância: nunca seu foi amigo de verdade. Em resumo: com um pouco de amor, a conta gotas, você só terá a ganhar, criará uma revolução em sua vida, na sua e na auto-estima daqueles que travam contato com você, e, por fim, gerará felicidade em cadeia, na existência de centenas de pessoas, que sofrerão os reflexos diretos ou indiretos de sua influência pessoal.
(Texto recebido em 12 de maio de 2004.)