Se você não ama a verdade, está se condenando à loucura. Se abre espaço a toda sorte de desmazelo, se não estabelece diretrizes de disciplina, nunca terá controle de sua circunstância, nem de si, nem de seu destino muito menos. Será sempre folha ao vento do momento, sem qualquer norte definido, arrastado para valas e abismos, ao bel-prazer da sorte… e do azar.
Reaja à volúpia da liberdade sem disciplina. Não é liberdade – é desatino. Sacrifique no altar do esforço metódico toda filosofia pseudo-sábia que se prontifique a dizer existir liberdade sem limites – são sempre sofismas perigosos, sedutores, altamente destrutivos.
Estabeleça parâmetros rigorosos de disciplina e obedeça-os, a que custo for – será mais alto o preço da não-disciplina, do que qualquer prazer fugaz ou pseudo-felicidade que não inclua o regime do auto-controle.
Sim, seja aberto, flexível, criativo. Entregue-se mesmo ao caos, refletindo em torno de suas intrincadas sugestões, em cada situação dada. Mas, para fazê-lo, faça-o com critério, fazendo preceder-se de longa ponderação cada gesto de ousadia. Adie para o dia seguinte cada ato de loucura que o inflama hoje. E, quem sabe(?), a loucura, refinada no crivo da razão e da intuição, amanheça uma oportunidade revolucionária, ou, o que é mais provável, revele sua goela sangüissedenta de abismo.
Não há nada mais a ser dito, e sim a ser cumprido. Sente-se hoje mesmo, agora mesmo, pare tudo que estiver fazendo, e escreva a sua constituição pessoal, o conjunto de princípios e valores inegociáveis que deve ter consigo, a fim de segui-los, com rigor.
Sim: que essa constituição pessoal, como a Constituição Norte-Americana, mereça, volta e meia, suas emendas, já que tudo evolui e exige revisão e melhora, mas isso feito somente após cuidadoso e detalhado processo de análise e reflexão, a fim de se verificar a procedência da proposta de mudança. Não existe progresso real, sem consideração das conquistas do passado. Não pode haver uma revolução verdadeira, sem respeito às grandes realizações da tradição.
Isso posto, faça agora. Pare tudo que estiver fazendo. Pare o trabalho por alguns minutos, deixe o bebê chorando por alguns instantes, esqueça o toque do telefone, pare tudo em função do essencial, ou tudo refletirá, ad infinitum, o vazio visceral que lhe atormenta o existir, deixando-o cada vez mais angustiado e frustrado.
Trace as linhas do essencial, ou o essencial, ignorado, fará com que tudo se destrua em sua vida, levando-o, de roldão, sabe-se lá Deus para que vala de inefável desespero…
(Texto recebido em 18 de julho de 2001.)