Benjamin Teixeira de Aguiar – Amigos(as) Espirituais, vocês nos poderiam dizer alguma coisa sobre o amor romântico?
Espírito Matheus-Anacleto – Apenas uma forma de afeto, entre inúmeras outras maneiras de uma alma ligar-se a outra. A supervalorização do amor romântico constitui severa e perigosa hipnose (de imprevisíveis e devastadoras consequências) a ser superada, na cultura ocidental hodierna, cultura essa prenhe de um conjunto de crenças com feições hegemônicas no globo, como já tivemos oportunidade de enunciar.
Importa compreender-se que o amor é um fenômeno muito maior e mais complexo do que o que poderia ser enquadrável num estreito esquema psicológico de elã passional. A busca angustiosa por um idílio conjugal consome encarnações inteiras de milhões de criaturas, que não só desperdiçam bons consórcios, para os padrões evolutivos da Terra, mas ainda depreciam grandes amores, de natureza não sexual (a maior parte dos relacionamentos de todos os seres humanos), relegando-os a segundo plano. Essa atitude amiúde desvia indivíduos e agrupamentos inteiros de seu escopo precípuo. Mesmo em casamentos felizes, não é o aspecto romântico (incluindo o sexual) que sustenta a relação, como é sobejamente sabido por quem vivencia essas experiências especiais, no domínio físico de existência.
A amizade, no sentido de afinidade de interesses e valores; a fraternidade, indicando sintonia de propósitos, finalidades e filosofia de vida; o devotamento, revelando laços cármicos, quais os que existem entre pais/mães e filhos(as); o companheirismo ou a camaradagem, evidenciado entre parceiros(as) de lides acadêmicas ou profissionais – há vários modos de se tecerem vínculos. Todos eles são necessários, a fim de que carências diferentes do espírito sejam supridas, e não se sufoquem os pilares relacionais em que se tenha maior segurança e estabilidade. Como exemplo, a propósito do tema, não raro se vê a destruição de um casamento com bom potencial ao êxito, por se exigir do enlace afetivo o atendimento de aspirações da psique que concernem a relações profundas de cunho familiar, amical ou mesmo espiritual.
Com respeito à sede de Espiritualidade, comumente projetada em utopias pueris de amor perfeito no campo conjugal, só pode ser ela realmente satisfeita por meio de práticas de natureza mística, na melhor conotação do termo – como a meditação ou a oração diárias –, atinentes ao seguimento de uma linha principiológica que confira significado à existência humana, não necessariamente (mesmo) uma religião formalmente organizada.
Todos os gêneros de afeto, por outro lado, precisam ser renovados, sistematicamente, por sofrerem naturais processos de desgaste. Assim, matrimônios, qual ocorre a relacionamentos não eróticos, padecem episódicas crises de transformação que se assemelham a rupturas – e o são, em algum nível: de padrões de aprendizado, de dinâmicas relacionais saturadas. E essas rupturas podem se tornar literais, com o afastamento dos(as) envolvidos(as), por tempo indeterminado, ou podem se converter em um refinamento do modus operandi de interação, para benefício tanto dos(as) que diretamente entretecem o laço afetivo, quanto de pessoas que indiretamente partilham dos frutos da relação.
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
em diálogo com Matheus-Anacleto (Espírito)
3 de outubro de 2019