Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

A pessoa ao seu lado surtou?

1) Não entre nos circuitos da loucura alheia – se você também delira, não poderá ajudá-la. Para tanto, não aceite manipulações, não faça concessões, não se iguale, não brigue. Simplesmente, corte as vias de comunicação emocional direta entre você e ela, a fim de que possa influenciá-la positivamente sem ser influenciado por ela negativamente.

2) Ela acha que você está errado? Claro. Tudo para ela parecerá errado: ela se desconectou da realidade. Cabe-lhe, portanto, com ainda mais firmeza, manter os seus pés no chão, a fim de poder sustentá-la e trazê-la de volta, caso essa seja realmente a missão que lhe está designada por Deus.

3) Se o desgaste é muito grande e freqüente, se você nota que o prejuízo, de um modo geral, para sua existência, seu progresso e sua paz é maior que o benefício evolutivo que pode colher para si e para seu interlocutor, com o convívio íntimo com ele, distancie-se da figura problemática, sem qualquer laivo de remorso. Ninguém é obrigado a agüentar os infernos e paranóias de quem quer que seja. Você pode ser fraterno e estar disponível, sem, necessariamente, abrir sua alma para os despautérios do outro, nos recessos da intimidade. Lembre-se que, em primeiro lugar, você é responsável por você mesmo e que se abdica de cuidar de si, não poderá realmente ser útil a ninguém.

4) Vaidades poderão ser ativadas no seu íntimo, de molde a se sentir amarrado ao processo perturbador do outro. Ninguém é totalmente responsabilidade de ninguém, mas apenas de si próprio. Ninguém é indispensável na vida de ninguém. Ninguém é de fato salvação de quem quer que seja, nem mesmo dos próprios filhos.

5) Não guarde mágoa, nem tenha receio de ficar preso a ciclos viciosos nesse relacionamento afligente. Transforme grandes dores em decisões; em deliberações lúcidas que lhe evitem incorrer em situações desagradáveis semelhantes. Não pretenda convencer ninguém de estar errado, de você ser isso ou aquilo, de estar ou não com a razão. Há pessoas que, muito embora aparentem querer uma coisa, ocultam intenções outras, de, por exemplo, simplesmente confundir, atordoar e, com isso, de alguma maneira, exercer controle e vampirizar a paz e o bem estar alheios. Fique alerta para esses, na linguagem do Cristo, “lobos em peles de cordeiro”.

6) Tenha particular atenção para não ser manipulado pela culpa. Não se deixe seduzir pelo envolvimento hipnótico de quem se impõe. A culpa é uma das táticas mais antigas, comuns e eficazes de domínio e tirania. Você não precisa ter pena ou remorso. Deve ter amor. Se numa relação não existe amor espontâneo, melhor que não simule aproximações ou aberturas que não existem verdadeiramente, já que o artificialismo, nesse campo sagrado do coração, é vizinho da hipocrisia e de todas as formas de insinceridade, inconsistência e, por conseqüência, de obsessões arrasadoras, que podem pôr em risco sérios trabalhos em nome de Deus. Por respeito e consideração ao outro, inclusive, não admita a indecência e a humilhação de se colocar, ante dele, forçando sentimentos que não porte. Seja educado, mas jamais cordato com o abuso.

Sim, é claro que esse conjunto de regras não é tão simples quanto parece de aplicar. Mas se você não seguir essas sugestões, ante o irmão ou a irmã destemperados que, à guisa de exercer influência sobre você, renuncia ao bom senso e aos princípios de boa convivência social, a situação far-se-á tão mais difícil e dolorosa que, então, você será forçado a reconhecer que é mais fácil empreender esse esforço disciplinar do que ser arrastado de roldão pelo turbilhão infernal da mente baratinada ao seu lado.

Por fim, não tenha medo de perder o controle da situação. Uma das mais usadas e famosas estratégias do mal é levar o indivíduo a crer que está perdendo o controle de si e de sua vida, que está impotente ante o inevitável, que a situação está cada vez e inevitavelmente pior, que ele será tragado inapelavelmente, num abismo de horrores. Assim, induz-se o indivíduo a render-se ao mal propriamente, que é a desistência de lutar pelo bem. A ilusão da falta de perspectivas é a antecâmara do desespero. Tudo tem solução, o bem sempre vence. O mal sempre é, em última análise, inconsistente e ilusório, porque provisório, por mais extensa seja essa sua temporariedade, que, inclusive, tanto menor será, quanto menos se lhe conferir poder, pela atenção e pelo medo que se conceda e que se tenha dessa sua particularidade.

Confie sempre em Deus, Sua Infinita Bondade, Sua Providência Perfeita e relaxe, após ter feito sua parte, após assegurar-se de que sempre está cumprindo sua parte. Quem lhe cobra excessos, quem o pressiona além do humanamente aceitável, quem o compele à infernização de sua vida, à angústia sistemática, não pode estar agindo em nome de Deus e, como tal, deve ser tratado com cautela e a devida distância terapêutica que o médico apõe do paciente, para não ser ele mesmo contaminado pelas enfermidades que acometem quem tenciona curar.

(Texto recebido em 24 de outubro de 2002.)