Benjamin Teixeira
pelo espírito Temístocles.
O ego fica magoado, guarda ressentimentos, tem medo e deseja controlar, julga e condena terceiros, apega-se a posses, pretende influenciar e submeter pessoas, quer ter poder para benefício próprio, ignora os interesses dos outros, para pensar exclusivamente nos seus. É ciumento, invejoso, raivoso, vingativo, conspira contra o bem, dissemina a malícia, age de modo perverso quando contrariado, põe-se como vítima, para pressionar circunstâncias e pessoas a seu favor. Não respeita nada nem ninguém. É arrogante, petulante e autoritário, calculista, macabro, angustiado, aterrorizado com tudo e com todos. Pérfido quando necessário, não titubeia ante a necessidade de mentir, roubar e, em situações extremas, até matar, se os seus valores ou interesses pessoais estiverem ameaçados. Não ama, só deseja e pretende possuir quantos lhe sejam foco de paixão. Não serve intencionalmente, mas sempre tenta tudo fazer, no sentido de colocar, quanto possa, o mundo a seu próprio serviço.
O Espírito, por sua vez, é amável e modesto, disposto ao serviço do bem, sem intenções embutidas de ganho pessoal; é generoso, doa prodigamente do que possui e dá de si mesmo, fartamente, aos irmãos em humanidade, com satisfação profunda em distribuir as bênçãos que porta consigo. É cheio de fé, de boa vontade, de alegria, de confiança no valor do próximo, de certeza na vitória do bem. Coloca-se como partícipe dos movimentos e agências da Providência Divina, cooperando com o reerguimento dos caídos, a cura dos enfermos de toda ordem, a instrução dos ignorantes de qualquer natureza. Compraz-se em realizar o bem sem ostentação, e, se lhe estivesse ao alcance, passaria incógnito, na articulação solidária, para só ver florescer o ânimo nos benefíciários das graças que dissemina, sem constranger aqueles que recebem o seu socorro dadivoso. É bom, justo e caridoso, na mais plena expressão destas palavras, portando-se, invariavelmente, qual espelho do ideal, da sabedoria, do equilíbrio e da harmonia, em toda circunstância em que esteja inserido, em qualquer ordem de relação que veja estabelecida com sua participação direta. É o ponto final da maledicência, o transmutador de energias deletérias em forças construtivas, o doador ininterrupto de esperança e consolações variadas, a geratriz de solução a problemas, de equacionamento de conflitos, de redução de atritos ou crises inevitáveis. Continuamente, constitui o estímulo, a resposta, a resolução, o suporte, a cura ou ao menos o bálsamo ante o inexorável.
Todos portamos o ego e o Espírito dentro de nós, lutando pela supremacia sobre a condução da psique total, em regímen de predominância sobre o animal interior, subjugado por um dos dois. A evolução pode ser resumida, a quem o desejar, nesta peleja milenar entre as duas geratrizes máximas de potência psíquica, no âmago do ser, com gradativa vitória do Espírito sobre o ego e o animal no interior de cada criatura.
Que percentual de prevalência de uma destas duas potências da alma humana, amigo, apresenta você? Quanto está disposto a laborar, no sentido de fortalecer e expandir a presença e atuação do Espírito em sua existência? Já que evoluir é sair da esfera do domínio absoluto dos instintos da besta interior e dos caprichos do mimado ego que nos subtrai e bloqueia os vetores criativos da mente, na direção do Espírito Eterno que somos, em essência última, e como todos existimos para progredir, indefinidamente, tudo que providenciarmos, de iniciativa própria, no intuito de favorecer este movimento, propiciar-nos-á uma alegria por ora de difícil compreensão, para os que estejam entregues, preguiçosamente, às induções restringentes do ego e suas ilusões, neuroses, vícios, argumentações e ansiedades hipnóticos.
Não renuncie à razão, não perca a malícia, seja realista, objetivo e prudente, mas não se deixe tomar pela mesquinharia, pessimismo, desconfiança e maldade, fobias e paranóias típicas do universo mental necessariamente patológico, porque esquizóide – no paradigma da desconexão com o Todo –, que o ego revela como característica indissociável à própria natureza.
Você não vai – nem deve de todo – superar o ego, “matando-o”, conforme propõem algumas linhas esotéricas de pensamento psicológico, que chegam a postular um termo para denominar este fenômeno – “egocídio” –, semelhando-se, em linha filosófica, às propugnações radicais e unilaterais das correntes orientais de pensamento religioso, que defendem a destruição da personalidade. Tentar elidir o ego é tão ou mais nocivo e mórbido do que se render completamente ao seu império. Ele tem funções muito próprias, na gerência de situações corriqueiras e na defesa imediata de interesses relevantes para o Espírito, bem como na administração de crises interpessoais de vulto. Todavia, não se deve permitir que ele assuma o papel de núcleo decisório, de norte para a escolha de rumos na própria e na existência de terceiros. O Espírito é quem deve ter a autoridade para deliberar, sob a égide – como inalteravelmente está – do ideal, da inspiração superior, do princípio de solidariedade, empatia e serviço a causas e Todos Maiores.
Pondo-se sob a tutela do Espírito, companheiro, além de conquistar a excelência na tomada de decisões e rotas em sua vida – pois que o Espírito reside, plenamente, no âmbito da intuição, do Fluxo (a sinergia com o universo) e da Assistência Divina –, ainda encontrará o máximo nível de felicidade exeqüível na existência física mesma que agora desfruta, sabendo descobrir, até em eventos menos felizes, motivos profundos de reflexão, aprendizado e gratidão a Deus. Já se vier a se confiar ao talante do ego, não só estará se condenando a fracassos retumbantes, como também impossibilitar-se-á ao gozo da felicidade, mesmo quando o sucesso e a abundância, ocasionalmente, espoquem em seus caminhos.
(Texto recebido em reunião mediúnica fechada, no dia 4 de março de 2008. Revisão de Delano Mothé.)