(Ensaio em torno da mais dilatada longevidade humana e seu melhor aproveitamento.)
Benjamin Teixeira
pelo espírito Temístocles.
No mundo inteiro (sobretudo nas nações mais desenvolvidas da Terra), o sistema previdenciário caminha para o colapso, a passos largos. A legislação atualmente em vigor, na maior parte dos países, é oriunda de uma época em que as pessoas, aos 60 anos, estavam (quando chegavam a este teto etário), majoritariamente, quase decrépitas e inválidas, imprestáveis para praticamente qualquer trabalho produtivo, fosse de natureza física ou intelectual. Por isso, não eram nada desconfortáveis, financeiramente, para cofres públicos ou privados, sistemas de previdência que previssem rendimentos vitalícios a partir desta faixa de idade, visto que, simplesmente, poucos lá chegavam, e os que alcançavam a meta sobreviviam, em média, curtíssimo espaço de tempo.
Os avanços da Medicina, do sanitarismo, da alimentação e do bem-estar geral, nas condições confortáveis de vida atualmente engendradas pelos fabulosos progressos na ciência e na tecnologia, têm realizado verdadeiros prodígios no aspecto não só da longevidade, mas também da qualidade de vida, nos anos que estão sendo adicionados à existência do cidadão médio, com um curioso elastecimento da fase adulta e madura (e não apenas da que se poderia chamar de velhice – esta mesma, menos doente e débil, em relação ao que foi outrora).
Com todo respeito aos especialistas encarnados, em matéria de geriatria, mas principalmente aos da área – em ascensão na medicina moderna – da gerontologia, arrogo-me o direito de estabelecer certas diretrizes conceituais, em forma de esboço filosófico ou, quiçá, ensaio propositivo, oferecendo novas perspectivas, de sorte que possam, quantos dele desejarem tirar proveito, ser estimulados a buscar meios de desacelerar o desgaste do aparelho biológico de manifestação no domínio material de existência, bem como, concomitantemente, de aprimorar os recursos de aproveitamento da vida física, maximizando, destarte, as possibilidades de felicidade e produtividade. Para dar um tom mais emocional ao tema (nossa intenção precípua é atingir o nível cultural e psicológico do assunto, já que cabe à Medicina e a seus grandes expoentes apresentarem um lastro científico à questão), utilizo aqui as quatro estações climáticas do ano, correspondendo, simbolicamente, às quatro fases fundamentais da existência humana no orbe terreno. Tomo, outrossim, uma ótica conservadora quanto ao potencial humano de longevidade (com expectativa-base de apenas 80 anos), que pode, perfeitamente, no espaço de três ou cinco decênios, estar completamente anacrônica (em função dos magníficos progressos em terapia genética, entre outros, que são prometidos para breve, neste âmbito da Medicina), mas, ainda assim, o faço, para não chocar demais os leitores coevos à publicação deste texto, a quem mais ele se destina.
Primavera – de 0 a 20 anos de idade.
É o período da efervescência dos hormônios (no seu quarto final), mas também o do desenvolvimento, da preparação física, psicológica e cultural, para os primeiros embates significativos com o mundo das relações interpessoais. Deve ser regido pela tetralogia: família, professores, psicólogos e orientadores espirituais (ou religiosos); e utilizado, basicamente, para se desdobrarem: atividades estudantis, desportivas, artísticas e de natureza humanística (como os serviços voluntários).
Verão – de 20 a 40 anos de idade.
Nesta fase, as mais importantes obras de realização pessoal, acadêmica e profissional costumam se dar, ou ao menos têm o melhor ensejo para acontecer. Normalmente, é neste período de abundância de energia vital e emocional, associado à adultidade, que os indivíduos adquirem diplomas de nível superior de ensino, ou outros que se lhe seguem; casam-se, constituem família e geram filhos (ou os adotam); e alcançam os pontos mais fortes da carreira profissional. É a época que se deve aproveitar para tudo que exige empenho treinado e sistemático, o que se mostra inviável, pela incipiência, no estágio anterior; e que se dificulta e problematiza, em quadras posteriores, dado o declínio dos potenciais psicofísicos do veículo orgânico, após o término desta estação da alma, no processo de envelhecimento do corpo material (que, a rigor, inicia-se, conforme já constatado por substancial número de estudiosos e pesquisadores encarnados, antes mesmo dos 20 anos, embora com efeitos, obviamente, imperceptíveis a uma análise superficial e não-técnica).
Outono – de 40 a 60 anos de idade.
É o quartel de ouro para as maiores realizações de liderança e produção intelectual. Quem se encontra nesta faixa etária, com saúde e bom coeficiente de disposição ao trabalho, está fértil e devidamente preparado para ocupações mais complexas, que exijam percepção fina e profundidade no poder de avaliação de situações, pessoas e eventos, sobremaneira nos aspectos proativos e criativos, longe da postura reativa, típica nos mais jovens e inexperientes. A gerência executiva e técnica de grandes conglomerados humanos ou estruturas complicadas de administração é excelente, então.
Inverno – de 60 a 80 anos de idade.
É o interlúdio etário mais apropriado às reflexões morais e filosóficas de maior abrangência e profundidade, para as realizações mais sérias e de caráter permanente do espírito. Constitui um intervalo de vida excelente (caso haja, novamente cabe reiterar, bom estado de conservação orgânica e maturidade psicológica) para a liderança de alto nível – qual a de ordem religiosa e a política (“lato sensu”: dentro ou fora dos governos nacionais e suas subdivisões constituintes) –, assim como para produções artísticas que recebam acréscimo de valores com a idade: a literária, a dramatúrgica, a cinematográfica, as artes plásticas. A visão global e sistêmica faz-se, nesta etapa da existência material, mais percuciente e fácil, para os anciães instruídos e esclarecidos, isto é: aqueles que não apenas sejam informados, mas também lúcidos na aplicação deste saber – o que, com acerto, popularmente, chama-se de sabedoria.
Pós-inverno – de 80 a 100 anos de idade (ou mais).
Para quem chega a esta última camada de oportunidades da reencarnação, não se pode dizer que se retorna a uma nova primavera, porque isto se dá com a recepção de um novo corpo físico, quando, então, portando um aparelho cerebral virgem, ostentando outro nome e inserindo-se em ambientes diversos (familiar, social e culturalmente), o indivíduo é propelido, significativamente, a patamar mais alto de consciência, pela ruptura de paradigmas cristalizados, tanto os de cunho intelectual, quanto, mormente, os de natureza emocional e espiritual. Todavia, a esta altura da vida, tem ocasião de se dar (e cada vez mais, pois que enormes segmentos da população – progressivamente mais largos – adentram este estrato etário) uma dilatação do período de responsabilidades e funções mais nobres da alma, que são nota dominante do “inverno existencial” – a faixa dos 60-80 anos (considerando como premissa, reitero novamente, a qualidade de saúde integral – incluindo desde elementos psicológicos até os de caráter meramente fisiológico).
Medite, amigo, em que ciclo de sua atual vilegiatura carnal você está; o quanto fez uso criterioso das propriedades e funções predominantes dos anteriores; o que pode fazer para extrair o melhor proveito do momento presente, ao mesmo passo que, paralelamente, envida iniciativas compensatórias em relação a eventuais desperdícios perpetrados no pretérito. Para isso, todavia, deve manter em mente que não há fronteiras claras entre estas grandes fases etárias, o que implica dizer que, por se estar plenamente em uma delas, não se possam assumir compromissos ou incumbências peculiares ou que seriam mais apropriados a outras. Peça, para tanto, o socorro da Inspiração Divina – por meio da prece –, como também procure o auxílio de psicoterapeutas e orientadores espirituais de nível adequado às suas necessidades, através de terapias ou consultas de natureza relígio-filosófica.
(Texto recebido em 17 de dezembro de 2007. Revisão de Delano Mothé.)