Se a homossexualidade fosse contra a natureza, ou seja, contra as leis de Deus, não haveria entre animais. Mais de 400 espécies de animais observadas por recente estudo etológico britânico apresentam conduta homossexual, em muitas delas, inclusive, apresentando-se predominante em relação à heterossexualidade. Animais não têm vícios, maldades, perversões ou safadezas. Seguem, cegamente, os instintos, que são as leis da Natureza, diretamente transmitidas por Deus aos reinos animais, por Seus desígnios sacrossantos. Opor-se, portanto, à homossexualidade é opor-se à Vontade de Deus. Aliás, não é novidade que os meios religiosos pretendam, em nome da fé, impor freios ao natural. Uma total adulteração dos propósitos genuínos da religião e da espiritualidade. Evolução nada tem a ver com repressão, como tão bem afirma a Psicologia. Reprimir é o mais rápido caminho para a perversão e toda forma de patologias psíquicas e comportamentais.
Gustavo Henrique.
Como a homossexualidade seria doença, loucura ou perversão, se o percentual de homossexuais entre os homens e mulheres mais influentes e realizadores de todos os tempos, em todas as áreas do saber e do conhecimento humanos tenha sido acentuadamente maior que o percentual de gays na população como um todo? Cidadãos criativos e produtivos, devotados à prosperidade humana, deveriam ser taxados como anormais e dignos de serem anatematizados, estigmatizados e alijados do convívio social? Que tal, então, só para começar, colocarmos nessa lista, gente que vai de Aristóteles e Platão (na Antiguidade), passando por Leonardo da Vinci e Michelangelo (na Renascença), até Tchaikovsky e George Sand (já no século XIX), só para citarmos alguns poucos dos mais notórios gays da História?
Roberto.
Dignos de reflexão os fatos que se seguem:
1) Nos ambientes mais cultos e informados, o índice de aceitação à homossexualidade é muito maior que nos que campeiam e ignorância e o analfabetismo.
2) Um dos maiores fatores geradores de homossexualidade em fronteiriços é justamente a homofobia.
3) Crianças educadas por homossexuais tendem a ter índices baixíssimos de inclinação homossexual, bem abaixo da população geral, quase toda criada por heterossexuais.
4) Segundo as mais respeitadas pesquisas quanto às preferências sexuais humanas, aproximadamente de 5% a 10% do contingente humano é gay, ao passo que metade(!), sim, isso mesmo: metade das populações tem algum grau de tendência homossexual em si.
Com isso concluímos: Contra quem se está quando se combatem os homossexuais? Contra as próprias tendências reprimidas, aumentando a alienação sobre si mesmo e a tensão mental inconsciente, gerando neuroses e infelicidade e desperdiçando-se energia psíquica que poderia ser muito melhor aplicada no que interessa? Contra os pais enrustidos, revolvendo a arma do verbo objurgatório em feridas mal-cicatrizadas que sangram há décadas? Ou será que se estará contra os próprios filhos conflitados, levando-os a se distanciarem dos pais e educadores e a se aproximarem de grupelhos de natureza duvidosa, para larga expansão ao culto das drogas ou outras formas de fuga do inevitável?
Temístocles.
O gueto e o desequilíbrio gays são decorrentes da própria homofobia. Se a sociedade fosse contra a heterossexualidade, esses cairiam em toda forma de perversão, revolta e desajustes que se vê entre uma parcela da população homossexual.
Aliás, por outro lado, que tipo de opinião ter-se-ia de um segmento social, ao se conhece-lo quase que somente pelos seus elementos mais desequilibrados e barulhentos. Que tal conhecer as mulheres apenas por aquele tipo caricaturesco de prostitutas ruidosas? Em parte, é isso que ocorre com gays, sem acesso à cidadania. Proscritos, muitos enlouquecem e se pervertem na clandestinidade.
Assim, a homofobia gera desequilíbrio, que gera mais homofobia, e o ciclo vicioso se estabelece, cada vez mais danoso.
Roberto.
Toda leitura conceitual deve partir da contextualização histórica e dos interesses subliminares que subjazem aos valores propalados externamente.
No passado da humanidade, em que se viviam tempos de exposição perigosa a intempéries naturais e em que se sofriam epidemias devastadoras e guerras sangrentas em proporções calamitosas quanto constantes, natural que o inconsciente coletivo humano tomasse inclinação por rejeitar sexo não-reprodutivo, manifestando tal tendência nas superestruturas culturais (incluindo, fortemente, a religião) e nos modelos de organização sócio-econômica.
Desde, todavia, que se entende o ser humano como mais que uma mera máquina de reprodução sexual, e que homens e mulheres sejam mais que machos e fêmeas, todas as sutis implicações dessa flexibilização paradigmática repercutirão em novos modelos de família, moral e costumes, bem como leis e diretrizes religiosas. Trata-se de uma questão de desenvolvimento civilizacional, uma tendência histórica irrefreável.
Anacleto.
Obviamente que existem daqueles nossos irmãos em experiência de inversão da sexualidade que, de fato, cometeram grandes equívocos em existências passadas, e que agora aprendem, a duras penas, a reeducação de seus impulsos. Mas há, também, entre eles, aqueles que estagiam em períodos de transição psicológica, bem como os que receberam importantes tarefas coletivas, escondendo-se em corpos que, em vez de prisões, constituem laboratórios ou monastérios para sacrossanto esforço evolutivo e de realização do bem para as massas humanas inteiras.
Ainda, porém, que considerássemos que todos fossem doentes – o que hoje sabe-se ser completamente incorreto dizer-se – o que o espírito de caridade cristã e os princípios de urbanidade e civilização nos proporiam? Deveríamos, por julgar incorreto alguém não andar com as próprias pernas, arrancar-lhe as muletas das mãos ou derrubá-lo da cadeira de rodas e lançar-lhe areia no rosto em meio a impropérios? Em quaisquer circunstâncias ou quaisquer sejam os valores morais esposados o preconceito homofóbico é bárbaro, quando não patético.
Gustavo Henrique.
As mães sempre souberam compreender seus filhos gays, amando-os acima das convenções de seu tempo. Sentiam a dor na alma, ao verem que sofreriam preconceitos, bem como, principalmente, ao notar que seus rebentos padeceriam de toda sorte de discriminação, mas jamais deixaram de ver seus filhos como tão dignos de seu amor como antes. Afora isso, seria dizermos que o respeito e amor que temos por nossos entes queridos é condicionado a circunstâncias de adequação a costumes e esquemas social e culturalmente impostos – o que constituiria uma total perversão dos ideais da alma e do espírito.
Eugênia.
O ser humano não é homem nem mulher. Estagia nos dois sexos, para adquirir expressões de experiência características mais à organização biopsíquica feminil ou masculina. Transcender à humanidade é a meta da evolução para quem estagia nessa condição. Nos anjos, não há definição sexual pela anatomofisiologia reprodutiva, já que as encarnações físicas e mesmo a forma humana de há muito terão desaparecido, por completamente desnecessárias. A fixação em modelos comportamentais para esse ou aquele sexo, portanto, denotam apego a valores circunstanciais e não a princípios eternos.
Brígida.
A promiscuidade e os comportamentos indignos é que caracterizam distúrbios psíquicos ou disfunções da personalidade. Não se deve definir o ser humano por seu sexo, nem por suas preferências sexuais, e sim por seu caráter e seu intelecto, bem como pelas contribuições específicas que pode ofertar à sociedade de que é partícipe. Avaliar-se alguém por seus hábitos de alcova é algo de extremamente retrógrado, primitivo e simplório, denunciando pouca inteligência, cultura, sabedoria e atualidade de quem propõe tal forma de julgamento humano.
Anacleto.
Desde a virada do século anterior, Freud conseguiu acabar com a barbárie da criminalização da homossexualidade. Passou-se a sugerir, então, o tratamento de gays em hospitais e não a trancafiá-los em presídios, como párias perigosos da sociedade. Desde 1973, todavia, a Associação Psiquiátrica Americana tem como conclusão científica que a homossexualidade não constitui doença mental. Não aceitar tal perspectiva é declarar-se cidadão do século XIX, em pleno século XXI.
Demetrius.
A Religião é sempre resistente aos avanços culturais e sociais – sempre foi assim. É uma questão de natureza epistemológica – tem função conservadora, mais que outros campos gnosiológicos, pelas presunções de verdade em que facilmente se deixa envolver. A Ciência e a Filosofia, como as Artes, e outros departamentos do saber e agir humanos são mais livres para esposar idéias novas, mais complexas ou revolucionárias.
Por isso, eis a importância de se afirmar, com veemência, que a interpretação de textos sagrados jamais deverá ser literal. Todo literalismo revela ou estultícia de quem o faz ou, muito pior que isso: más intenções. Jesus e os grandes mestres da religião e da espiritualidade jamais rejeitaram qualquer forma de amor. Somente os homens, sobretudo os doutores em teologia, contaminados por suas pretensões de superioridade e impregnados de concepções inteiramente ultrapassadas, cunharam editos contra mulheres, homossexuais e artistas, bem como cientistas e livres-pensadores, no carreiro dos séculos.
É hora de se parar e se pensar, com critério e lucidez, no que se diz e no que se prega. Não adiantou que grandes autoridades teológicas queimassem vivos em fogueiras sagradas os ousados homens de ciência que se atreveram a dizer que a Terra era redonda. Ela nunca deixou de ser. Mas a culpa dos que agiram mal perdurou, de qualquer forma, para além, muito além daqueles dias insanos…
Anacleto.
Milhões de corações bons e almas nobres, amiúde de respeitável envergadura evolutiva, costumam envergar corpos que não estão em consonância com suas predisposições psicossexuais. Encarnados na Terra ainda discriminatória em relação à sua situação melindrosa, acabam sofrendo toda sorte de angústias, muitas vezes obrigados a mentir e se ocultar, para poderem trabalhar em paz. Nós, mães do além, temos enorme preocupação e sinceramente nos movemos de compaixão, com a imensa fatia deles que pensa em ou tenta suicídio, outros tantos que enlouquecem de dor, e muitos ainda que mutilam suas almas e sua vontade de viver, em nome de preconceitos que nada acrescentam à humanidade e só lhe retiram a dignidade de espécie que cuida dos seus espécimes mais fracos.
Abaixo essa tirania terrível e abominável de tempos idos! Abaixo com essa indignidade imoral que, de modo sacrílego, arroga-se espiritual! Abaixo com esses anátemas diabólicos que se fazem, blasfêmia das blasfêmias, em nome de Deus!…
Quem insistir em dizer que o Criador, Ser Todo Amor, condena o que Ele próprio criou, não faz idéia em que tipo de sérios comprometimentos morais e espirituais incorre, de que terá que dar contas, mais cedo ou mais tarde, e, normalmente, tanto agora como depois, a altos custos de dor e infelicidade…
Apelo aos corações bondosos e sensíveis, sobremaneira às mães, que atendam ao meu chamado. As confusões de identidade sexual já são, por si mesmas, por demais dolorosas. Ajudemos aqueles que estão ao nosso lado e que padecem de conflitos angustiantes, dando-lhes nosso amor incondicional. Negar afeto a quem quase sempre, ao menos na adolescência, quase tresvaria de dor moral, é crime injustificável aos olhos do Ser de Infinita Bondade.
Eugênia.
(Textos recebidos pelo médium Benjamin Teixeira, em 14 de maio de 2001.)