(Entrevistando Benjamin Teixeira – 04.)
Wagner Mendes (*1) e
Benjamin Teixeira.
Hoje entrevistaremos Benjamin Teixeira, fundador e dirigente do Instituto Salto Quântico. Apresentador do programa mais antigo da TV brasileira dentro da temática espiritualista, exibido há mais de 15 anos (dede janeiro de 1994; atualmente, pela Aperipê TV, desde 1997), com dimensão nacional desde 1996 – por parabólicas analógicas, até 2000; por duas redes nacionais, entre 2001 e 2009 (TVE e CNT); e, agora, em emissão digital via satélite. Benjamin é escritor de 19 livros, faz palestras há 18 anos (incluindo visitas anuais aos EUA, desde 1996) e contacta o espírito Eugênia há 21, desde 1988, momento que ele marca como surgimento do Instituto como um todo. Além disso, realiza, com expressiva equipe de colaboradores, trabalho de assistência ao Bairro Santa Maria, com serviços gratuitamente disponibilizados à população, como acompanhamento pré-natal, entregas semanais de sopa e pão, atendimento médico e odontológico, cursos de dança (entre outros) e doações mensais de cestas básicas. Mais informações podem ser obtidas no sítio eletrônico na internet: www.saltoquantico.com.br.
(EmContato) – Benjamin, as atividades de responsabilidade social realizadas pelas empresas, quer revelem sua intenção de ressarcirem-se perante a sociedade por malefícios a que sejam associadas, quer se apresentem apenas como marketing social, dizem respeito, em sua grande maioria, ao atendimento de necessidades básicas, como alimentação, moradia, educação e saúde. Na sua opinião, o conceito de responsabilidade social deveria ser mais amplo?
(Benjamin Teixeira) – Necessariamente, é mais amplo. Existe um conceito corrente, inclusive, uma velha crítica (muito bem fundamentada) aos processos de mera assistência social (principalmente os levados a efeito nos meios cristãos católicos, como na América Latina como um todo), que levou à lavra de uma alcunha de tom altamente pejorativo: “assistencialismo”. Por meio deste, a pessoa é apequenada com a mensagem subliminar de inferioridade e dependência da caridade dos “superiores’, que, então, têm a “generosidade” de socorrê-la. Isso é de uma indignidade ímpar (apesar da eventual boa intenção dos que o pratiquem), criando vícios de negligência (naquele que se sente inferior) e de narcisismo “onipotente” e, não raro, prenhe de favoritismos inconfessáveis (por parte de quem se coloca como superior – qual é comum observar-se na ‘”caridade eleitoreira”). Devemos, antes de tudo, visar a reintegração do indivíduo à cidadania, à sua plenitude como ser humano – dar-lhe liberdade de escolha, em todos os sentidos e departamentos de sua existência; e, para tanto, conferir-lhe poder para fazer suas escolhas. Tal não é possível quando não há acesso à instrução básica, nem à alimentação e assistência médica elementares, pois os pilares corpo-mente ficam comprometidos o bastante para relegarem a criatura a um permanente degredo social às baixas opções de realização profissional e crescimento pessoal. Em função disso, nosso trabalho social no Bairro Santa Maria possui vários departamentos de caráter educacional – a mães gestantes, a crianças –, que vão desde a cobertura de conceitos moral-espirituais basilares a princípios gerais de direito e profilática rudimentar nos cuidados com a higiene pessoal e alimentação caseira. De qualquer forma, não deixamos de oferecer o pão a quem tem fome agora, com a desculpa de que é mais importante educar, porque nos soa completamente hipócrita entregar-se a questão às mãos dos governantes, ou alegar-se que o busílis está em propiciar meios de o indivíduo resolver seu problema, visto que “não adianta” dar o peixe, e sim ensinar a pescar (a famosa máxima de Confúcio). É impossível ensinar a pescar se o aprendiz está de barriga vazia e mal consegue se manter de pé e atento ao que se lhe diz. Por óbvio, o grande sábio chinês concordaria conosco. No Brasil, todavia, temos o malfadado hábito de nos confiar à maledicência contra iniciativas beneméritas de instituições e pessoas, com os ares elegantes da pseudoconsciência política, transferindo a responsabilidade de um problema, que é de todos nós (se é que nos julgamos partícipes de uma sociedade), para governantes e empresários milionários. Se cada pessoa de classe média alimentasse alguém que se encontra em nível de miserabilidade material, não só nossa realidade social seria completamente diversa, como, por consequência do novo padrão de valores, já estaríamos elegendo governantes mais responsáveis, pela lei natural de reflexão que acontece, na relação povo-governo. Segundo disse o grande iluminista Robespierre: “Cada povo tem o governo que merece.” Faria uma correção-atualização do conceito: “Cada povo naturalmente produz representantes públicos em correspondência a seu perfil psicológico.” Ou seja: não se trata de nenhuma espécie de castigo místico ou divino, mas de resultado da lei de causa e efeito. Não podemos ter políticos honestos ou elites econômicas sábias e conscientes (aludindo-nos à média de seus componentes), se existe uma esmagadora maioria de elementos, nos contingentes populacionais, disposta a “levar vantagem” sobre os outros – como se diz no vernáculo pátrio (leia-se: beneficiar-se, ainda que prejudicando terceiros) –, a cada oportunidade que surja, desde a “cola escolar” às transgressões no trânsito, até as manifestações quase genocidas do desvio do erário público para fins de locupletação pessoal.
(EC) – Observa-se que até em animais há a noção de ajuda mútua, de solidariedade. Por que esse sentimento no ser humano não se expressa tão naturalmente?
(BT) – Conforme etólogos revelam claramente, em suas pesquisas muito bem documentadas, o apoio a outros elementos da espécie, no reino animal, restringe-se a limites muito estreitos, determinados pelos instintos. Há exceções honrosas, como é o caso dos denominados “insetos sociais”, quais abelhas, formigas, vespas e cupins, bem como de mamíferos de grande porte, qual o elefante. O caso dos insetos sociais, aliás, é motivo de deleite para os entomologistas, que, em Harvard, chegaram a criar curioso conceito: “tendência imanente à transcendência”, para explicar o fenômeno da dedicação, até o sacrifício (por parte dos componentes de uma colméia ou de um formigueiro, por exemplo), aos interesses reprodutivos de um único indivíduo, denominado de “rainha”: em verdade, uma mãe coletiva. E, no que concerne aos elefantes, notam-se manifestações de compaixão nem sempre encontradas em seres humanos. Mas são situações pontuais na natureza, porque a disposição de doar até a própria vida pela proteção da prole, em fêmeas paridas, é vista como, tão-só, imperativo genético de defesa da espécie, estando longe dos arroubos de afeto universal e desinteressado de que o ser humano é capaz. Numa manada (de bois, búfalos etc.), indivíduos doentes, deficientes ou envelhecidos são simplesmente abandonados à própria sorte. Não há qualquer sentimento ou noção de piedade. Mesmo na espécie humana, em períodos remotos da história e da pré-história, tais condutas eram não só corriqueiras, como estabelecidas por convenção. A comunidade de Esparta, a famigerada cidade grega da Antiguidade, fazia uso de um precipício, d’onde se lançavam crianças que nasciam com deficiências congênitas ou anciães inválidos. A justificativa para semelhantes atos de barbaria inqualificável era de que os sacrificados constituíam fardo social, um peso para os cidadãos sãos, devendo, pois, ser alijados do seio da comunidade, a benefício geral. Foi Jesus e Seus seguidores que instituíram o espírito de caridade, em larga escala. Orfanatos, asilos para idosos, indigentes ou deficientes mentais e físicos, bem como hospitais e leprosários, etc. – tudo que diz respeito ao amparo ao semelhante em condições de penúria física, emocional, intelectual e moral –, surgiu e se foi disseminando, em quantidade e qualidade, no correr dos séculos, desde que o Cristo esteve entre nós, há dois milênios. Desta perspectiva de amplo horizonte temporal, temos uma noção mais clara do quanto avançamos, em relação a períodos históricos primitivos, a fases civilizatórias anteriores à atual, de nossa humanidade terrena. Mas, para que fundamentemos esta nossa argumentação, recordemo-nos dos circos romanos dos primeiros séculos de nosso calendário gregoriano: turbas gigantescas se reuniam para assistirem, como deleite supremo de momentos festivos, a espetáculos sangrentos, levados a cabo com seres humanos, entre os quais se destacam os ataques de feras esfaimadas a mártires cristãos e os célebres confrontos entre gladiadores até a morte. Compare-se isso à mesma alacridade encontrada nos nossos grandes estádios esportivos, em que se vêem, hoje, espetáculos de desporto de natureza infinitamente mais civilizada e pacífica. Passaram-se dezessete séculos de lá para cá. Indagamos, então, agora: como estaremos dentro de mais dezessete séculos?… Há um século e meio (bem mais próximo ainda, portanto), vivíamos em regime sócio-político-econômico escravocrata. Atualmente, na legislação pátria, o racismo constitui crime inafiançável, e um dos ministros mais respeitados do Tribunal máximo da República, o STF, é negro, tanto quanto a maior celebridade nacional, uma das criaturas mais amadas do país, é, por meio século, um futebolista igualmente negro. Como estará o país em mais um século e meio?…
(EC) – O que dizer a respeito de pessoas que utilizam o argumento de que já pagam impostos e de que a obrigação de oferecer assistência à população carente compete ao Estado, como justificativa para não realizarem trabalhos caritativos?
(BT) – Racionalização de seu desinteresse pelo próximo, mero pretexto para ocultar sua baixa consciência social, máscara para ocultarem o nível sofrível de maturidade espiritual que portam. Os proponentes desta opinião podem ser inteligentes, ocupar posições sociais de destaque, mas não são seres humanos desenvolvidos. Entre eles, normalmente vemos tiranos domésticos ou patrões-chefes carrascos, odiados por quase todos os indivíduos que os conhecem, e, às vezes, pelos mais íntimos, sem que eles mesmos se deem claramente conta disso.
(EC) – Após as grandes contribuições do bilionário Rockefeller às universidades, escolas e museus norte-americanos, passou a ser malvista, nos Estados Unidos, uma pessoa muito rica que não realiza vultosas doações. Haveria como trazer esse costume para a classe média brasileira, ainda que em menor escala?
(BT) – Podemos ousar dizer que John Davison Rockefeller Nixon (1839-1937) foi um dos maiores responsáveis pela constituição desta mentalidade de espírito solidário e de consciência social (que está profundamente impregnada na mentalidade norte-americana), mas não foi o único. Os nossos “irmãos do Norte” têm sólidas e antiquíssimas tradições de serviço voluntário e de espírito de grupo (por suas origens estóicas de calvinismo devoto), as quais nós, brasileiros, estamos muito longe de vivenciar, com vícios arraigados e cristalizados há séculos, provenientes da estrutura de poder nepotista que herdamos da península ibérica, com sua filosofia elitista, extrativista, escravagista e exploradora, em todos os sentidos, dos outros e da natureza, para fins pessoais e familiares. Das capitanias hereditárias à presente data, vemos um continuum deplorável, pois que muitos preservam a crença não declarada de que o Estado existe para que os mais sagazes adentrem-lhe a máquina, de molde a se beneficiarem e aos seus, em detrimento do bem comum. Isso, evidentemente, é da natureza humana. Mas a questão é que nós, latinos, de raízes católicas, e principalmente os brasileiros (que unimos o patrimonialismo lusitano ao comodismo indígena e ao ludismo negro), criamos uma psicosfera e sociosfera que favoreceram, em nossa cultura, as manifestações de tais tendências detestáveis do gênero humano: o ego e seus desatinos. Não só os muito ricos, nos EUA, partilham desta mentalidade ressaltada em sua indagação. Como aludimos, acima, na questão sobre governantes, também as elites econômicas retratam a base da sociedade. Entre 60 e 70% dos adolescentes ianques se dedicam a serviços voluntários (logo lá, onde todos começam a trabalhar cedo e a se preocuparem em fazer dinheiro e viver por conta própria ainda antes de se completar a maioridade), constituindo, inclusive, este dado, um elemento positivo no currículo escolar. No Brasil… bem, é impressionante, mas a nossa estatística é exatamente dez vezes inferior à dos norte-americanos: menos de 7% dos adolescentes brasileiros aplicam uma parte de seu tempo aos menos favorecidos da “sorte”.
(EC) – Costuma-se acusar a mídia de não divulgar as misérias que assolam nossa pátria, acrescentando-se que esse seria o motivo da perpetuação desses problemas. Você concorda com o posicionamento dos defensores dessa ideia?
(BT) – Tolice (desculpem-me a rudeza), se não má fé e cinismo. Ninguém que seja alfabetizado e tenha acesso à imprensa desconhece as cruentas injustiças que pervagam nosso tecido social, em todos os níveis, desde a vergonhosa distribuição de renda ao acesso desnivelado aos tribunais e demais meios de reivindicação dos próprios direitos.
(EC) – Benjamin, em nome da equipe da Revista EmContato, gostaria de agradecer a sua participação, que em muito contribuiu para o enriquecimento cultural de nossos leitores. Desejaria apresentar algum comentário adicional?
(BT) – Que busquemos a felicidade como nosso direito, mas também como nosso dever. É o lema de nossa Organização. E para fazer isso com qualidade, bom lastro no bom senso e pragmatismo, sugerimos conheçam o pensamento da mestra espiritual de nossa Instituição de ensino em massa, o Espírito Eugênia. Diálogos, dissertações, incorporações, programas de TV realizados sob sua inspiração – tudo pode ser facilmente acessado e consultado, gratuitamente, em nosso site na internet: www.saltoquantico.com.br. E, para os residentes em Aracaju, nosso convite a que compareçam às nossas palestras públicas de domingo, em que temos não só a participação do público presente, fazendo perguntas, como ilustrações cinematográficas comentadas com fins educativos, e, ao fim, a manifestação da Mentora desencarnada do Instituto, por intermédio de minhas faculdades mediúnicas, no habitual espetáculo de serenidade, profundidade, grandeza moral e sabedoria que lhe são peculiares (*2).
(*1) Wagner Mendes representa sua equipe universitária, responsável pela formulação das perguntas para esta entrevista.
(*2) As palestras domingueiras proferidas por Benjamin acontecem às 20h de domingos, no auditório da Sociedade Semear, Rua Vila Cristina, 148, Bairro São José. Cortesia garantida na primeira visita.
(Revisão de Delano Mothé)