Benjamin Teixeira
pelo espírito Temístocles.
(O termo “assombroso” caracteriza bem a profundidade, complexidade e abrangência dos assuntos ventilados, com incrível poder de síntese, pelo gênio analítico de Temístocles. Recomendo enfaticamente, aos prezados leitores do site (principalmente aos estudiosos do Espiritismo), não apenas a leitura, mas o estudo desse artigo do grande mentor desencarnado, que é um verdadeiro quebrador de estruturas, com suas idéias revolucionárias, fundamentadas cientificamente e irretorquíveis filosoficamente. Pela concisão de seu estudo, as entrelinhas e implicações de suas proposições podem constituir uma verdadeira revolução paradigmática no entendimento do fenômeno psíquico-mediúnico.
Nota do Médium.)
No afã de dissecar questões complexas, conforme o paradigma ultrapassado do Sistema Industrial de Sociedade, buscava-se desmembrá-los em problemas menores, como se fosse possível, por exemplo, um ser humano ser esfacelado em células e, pelo conteúdo e funções de suas organelas, ser compreendido todo o universo psicológico, cultural e espiritual do ser humano.
Hoje, o paradigma da Física Clássica, ou seja: do estudo de uma realidade objetiva, material e inerte, está sendo substituído pelo paradigma da Biologia, ou seja, dos organismos, dos sistemas complexos e abertos, das interações infinitas, probabilísticas, quânticas (no sentido de campos probabilísticos quânticos).
Quem quiser respostas simples, para uma realidade intrincada, subjetiva, difusa e em aberto, em processo contínuo de reelaboração, ressignificação e reconstrução, deve desistir completamente de se aproximar da realidade e ainda mais da verdade.
Hoje, por exemplo, nada é previsível, quase tudo é imponderável, até mesmo no campo de estudo da Física de Partículas, que se esperava ser o reduto fundamental de segurança e certeza para a constituição de um universo lógico, físico e sólido. E o que se encontrou foi um cosmo probabilístico, energético e fluido.
No campo dos estudos psíquicos, então, reina um tal nível de complexidade, que se pode colocar sempre a mente em estado de assombro, sem estar fugindo à percepção pura dos fatos. Muito pelo contrário: não ficar pasmo é sinal de não se estar em sintonia com toda a abrangência, profundidade e multidimensionalidade das questões envolvidas.
Por exemplo, peguemos o simples caso de um sensitivo em transe, canalizando uma “entidade”. São tão numerosos os elementos envolvidos, que um leigo poderia ficar aterrorizado e fugir de um estudo criterioso e um crente negá-lo facilmente, para não pôr em risco seu universo de verdades simples, estanques e primárias. Vamos agora enumerá-los, mas lembrando que, apesar dessa preocupação em abordar uma vastidão maior de aspectos, não se deve esquecer que eles mesmos são difusos, entrelaçam-se e fundem-se em apanhados confusos, e, quase sempre, orgânicos, criando sínteses únicas a cada processo, circunstância, pessoa ou momento. Estamos, obviamente, descartando a hipótese de mistificação consciente ou charlatanismo, já que o que nos importa é o fenômeno em si e não as patologias de caráter que aqui não cabem ser analisadas diretamente.
1. Manifestação de sub-eus, ou sub-personalidades.
Aspectos do inconsciente do médium, estruturados como núcleos autônomos de pensamento, núcleos de potenciação que podem agir como se fossem espíritos desencarnados, apresentando neuroses, tendências altruísticas e inclinações doentias, em tudo se assemelhando a um ser vivo, sem o ser, na verdade constituindo um epifenômeno, se é que assim podemos dizer, ou uma irradiação psíquica da consciência do médium, que se supõe sob influência estranha, mas que, na verdade, está “possuído”, provisoriamente, seja de modo voluntário ou não, por um espectro consciencial que é derivado de sua própria essência individual, um elemento de sua totalidade indivisa.
Dentre sub-eus podemos considerar não só os sub-eus concernentes a estruturas patológicas geradas por cisões traumáticas, como uma criança carente e assustada que se desconecta do todo mental e vive nos subterrâneos da inconsciência, causando distúrbios afetivos, alimentares, sexuais e emocionais, seja um sub-eu relacionado a uma personalidade que se ostentou em vida passada, como, por exemplo, o padrão de pensamento, sentimento e cultura que se tinha há seis ou sete encarnações atrás. Essas “entidades”, portanto, em se manifestando, podem (porque de fato são) parecer muito reais, mas não se tratam, na verdade, de seres vivos, espíritos eternos como somos, mas sim sistemas complexos de pensamento, assim como um computador que parece pensar, mas que não está vivo.
Estão também inclusas, aqui, algumas manifestações menores (as maiores serão abordadas em no tópico 3) de figuras arquetípicas, como o Eu Superior, ou Self, que canaliza o padrão máximo de superconsciência de um indivíduo, ou sua sizígia, como a anima e animus, respectivamente o polo complementar psicossexual feminino e masculino inconsciente nas mentes humanas, como acontecia, por exemplo, a artistas “tomados” por suas animas, a que chamavam de musas inspiradoras, às vezes, projetada em figuras femininas reais, ou como ocorria, por outro lado, a freiras devotas, em êxtase, na contemplação da imagem de Cristo, chamando-se a si mesmas, de modo tão denunciador desse processo psíquico, de “esposas de Cristo”.
2. Supermentes.
A mãe sensível senta-se à mesa para realizar o culto do Evangelho em família, preocupadíssima com um dos filhos, e, pela tensão, no meio de uma prece, sente-se entorpecida e elétrica ao mesmo tempo, sendo “incorporada” por uma força mental alienígena, que lhe atende aos apelos do coração. Canaliza mensagem belíssima de reconforto e estímulo, dando a todos motivos de viver, sonhar e lutar pela concretização dos próprios ideais. Mas ela, apesar de ter alterado o tom de voz, de haver se transformado completamente, de ter usado um linguajar diferente do seu e ter pensado num nível de entendimento e criatividade muito além do seu habitual, não estava recebendo uma consciência domiciliada no mundo espiritual, mas sim a supermente familiar, ou a estrutura psíquica coletiva decorrente da interação mental, consciente e inconsciente de todos os componentes daquela pequena célula social. Alguns chamam de “psicosfera”, mas a psicosfera não é apenas um campo mental, mas pode e quase sempre se personifica, criando padrões de raciocínio, sentimento e desejo, paixões e desequilíbrios, que em tudo se assemelham a um ser humano, sem ser. É como se uma mente maior usasse todos os cérebros, sem estar na verdade em nenhum, ou um cascão astral fantasmagórico, sem alma, sem consciência, sem vida, adquirisse-as, sempre que alguém lhe emprestasse sua força vital, para poder se manifestar e demonstrar o que é. Cidades, países, e a própria Terra (eis aí o fundamento para a tese Gaia) e, por fim, a Humanidade (o inconsciente coletivo de Jung) têm suas supermentes, que, como é fácil inferir, funcionam no mesmo complexíssimo sistema holossomático de todos dentro de todos, constituindo organismos psíquicos cada vez mais abrangentes, assim como as células constituem órgãos, que, por sua vez, constituem organismos completos.
3. Arquétipos.
Assim como existem os sub-eus em nossas totalidades psíquicas, existem sub-eus na totalidade psíquica ciclópica da supermente da humanidade, que representam padrões de comportamento, emoções, idealismo ou paixão, que, muito embora não sejam personalidades vivas, assim como o entendemos, apresentam todos os elementos indicativos de consciência, como autonomia de pensamento, volição, inspiração e degradação. Só que com um fator adicional altamente grave: o seu poder mastodôntico, por ser resultado do somatório da força psíquica de toda a humanidade, não só dos tempos atuais como dos idos, não só dessa civilização terrícola, como de outras, em mundos infinitos, nesse e em outros universos desconhecidos da Ciência terrena.
Destarte, quando uma personalidade se deixa inspirar por um arquétipo, pode se fazer invencível, tanto quanto quando se deixar possuir por ele, fatalmente destruída. Exemplos disso vemos em Hitler, no arquétipo de estadista-profeta, assim como Merilyn Monroe, personalidades respectivamente genocida e suicida (conscientemente ou não), que foram dominadas por reversos negativos de forças arquetípicas, por não estarem atentos à necessidade de ter controle sobre o próprio livre-arbítrio e de determinar o próprio destino, sob critérios de razão e bom senso, contextualizando inadequadamente, na sua ausência, o poder arquetípico em suas vidas, assim sendo fulminados por ele e não inflamados e vitalizados, como deveria ser.
Nas suas feições positivas, encontramos os exemplos de Jesus, como o arquétipo vivo e poderosíssimo do Messias Salvador, e Gandhi, na expressão do estadista-profeta no melhor sentido (um exemplo da aplicação construtiva do mesmo arquétipo que inspirou Hitler). Guerreiros, Afrodites e Magos jornadeiam pelo mundo, como empresários, mega-estrelas da moda e médicos e psicólogos extraordinários. No exercício de suas profissões, uma irradiação infinitésima dos arquétipos predominantes que os inspiram pode “falar” com eles, e “vozes” surgem para dar sugestões, e mesmo diálogos inteiros são travados, interna e secretamente, às vezes de modo totalmente inconsciente, sem contudo, serem esses interlocutores invisíveis propriamente vivos na dimensão extra-física, mas sim uma interpretação pessoal de uma emanação da imagem arquetípica que os motiva.
Uma diva da passarela, por exemplo, apesar da beleza invulgar que costuma portar, pode estar “possuída” por uma fração do arquétipo de Vênus-Afrodite, irradiando de si um carisma arrebatador de nova-Eva. Analisando friamente, vê-se facilmente que não há nada de lógico nessa força mística-mítica que a envolve. Havia outras mulheres lindíssimas no tempo de Merilyn, como antes e depois dela. Há mulheres também lindíssimas como Gisele Büdchen e Cindy Crowford, mas elas são os canais preferenciais de hoje da “Deusa” da Sedução.
4. Consciências do Futuro.
Até pouco tempo atrás, esse assunto era proibido abordarmos, por limitações da ciência terrena. Mas desde que a “Teoria das Supercordas” ou das dobras dimensionais no espaço-tempo foi cunhada, no campo avançado das especulações em Física Quântica, ficou clara a possibilidade – teórica ainda – de viagem no tempo, e, assim, temos agora condições de falar de tal temática, sem escandalizar as mentes destinatárias de nossa mensagem.
Não podemos, obviamente, entrar em detalhes, mas podemos garantir que, sem interferência direta nos destinos humanos e com absoluto respeito pelo livre-arbítrio individual, massas de pesquisadores psíquicos do futuro adentram o cosmo psíquico de todos os tempos passados, fazendo estudos importantes para sua cultura avançada. Diversos sensitivos do passado pressentiram-no claramente e o mesmo se dá hoje, com mais facilidade e freqüência, já que os bloqueios culturais para essa idéia são menores, dando menos espaço a racionalizações ou releituras das impressões psíquicas (como supor que se tratam de espíritos desencarnados, por simplesmente não se poder aceitar ou conceber algo diferente, assim como no passado se imaginavam anjos com asas, já que não pareciam respeitar a lei da gravidade).
Em particular, figuras históricas são visitadas, incluindo aquelas que só serão conhecidas no futuro, de modo que um jovem de 16 anos pode se sentir observado por uma personalidade do futuro ou todo um grupo delas, que lhe observam os tempos de adolescência, seguindo as mesmas regras de escrúpulo e respeito à privacidade que regem as atividades do Plano Superior presente.
Obviamente, as fantasias egóicas, narcísicas e megalomaníacas podem criar esse tipo de sentimento num adolescente (muito comuns, nessa fase etária, por suas carências de auto-afirmação) ou mesmo num adulto. Mas existe uma clara diferença entre a experiência neurótica e a psíquica-intuitiva, de um poder integrador, facilitador e catalisador nas estruturas e processos psicológicos do indivíduo de todo inconfundíveis dos mecanismos dissociativos, degradantes e infelicitantes dos processos psicopatológicos.
Não é por outra razão que figuras importantes da humanidade costumam se sentir fadadas a um destino: (1) porque se lembram de seu planejamento pré-encarnatório (elemento subconsciente), (2) porque são suficientemente comprometidas com suas responsabilidades e vocações (elemento consciente), e (3) porque intuem um futuro que já aconteceu na eternidade (elemento superconsciente).
5. Espíritos Desencarnados.
Por fim, um espírito, de fato, albergado na dimensão extra-física de Vida, pode assenhorear-se temporariamente do sistema mental-orgânico de um sensitivo e fazê-lo comunicar, parcialmente, conforme sua interpretação personalíssima, seus conteúdos de pensamento e sentimento. Pela natureza profundamente complexa do fenômeno mental, porém, nunca existe uma manifestação mediúnica pura, de modo que sempre conteúdos anímicos (do próprio inconsciente do médium, ou seja, seus sub-eus), bem como supermentais (influência do meio, dos circunstantes e das psicosferas permanentes) e ainda arquetípicas se interfundem em sistemas altamente complexos de resultância psíquica que constitui a comunicação interdimensional, e que, por isso mesmo não se deve dizer apenas propriamente mediúnica, mas medianímica, transpessoal (quando faixas inteiras de coletividades astrais são acessadas mentalmente pela sintonia fina do médium e todo o grupo fala por sua tradução mental, como foi o caso das comunicações mediúnicas de “O Livro dos Espíritos”) e, em alguns casos, mística, quando altas esferas de consciência se manifestam, como padrões cósmicos de pensamento, revelando, mais diretamente, emanações da Divindade.
Assim, quando alguém ri, descrente, de um fenômeno psíquico, ou, em inversa maneira, quando aquel’outro recebe-o sem análises ou dúvidas nenhumas, são dignos de piedade, ante a extensão quase patética, definitivamente precária e hoje totalmente obsoleta de ignorância sobre quem é, d’onde veio, onde está, por que está e para onde vai.
(Texto recebido em 18 de agosto de 2002.)