(Homens olham para máquinas; mulheres, para casas.)
(Sérgio Santana) – Tenho um vizinho que tem o hábito de, ao estacionar seu carro, dar os primeiros passos olhando-o, como se estivesse admirando sua “máquina”. Conhecendo aquele ditado que reza: “Quem aponta o dedo para os outros tem três dedos apontados para si”, percebi que também tenho esse hábito, em alguma medida. Benjamin, de onde vem esse interesse masculino pelos automóveis e pelas máquinas em geral?
(Benjamin Teixeira) – A estrutura psicológica masculina – considerando aqui o perfil básico de personalidade dos homens, em nosso planeta, na atualidade, com preponderância para os aspectos de maior atividade e menor passividade de temperamento e conduta – é condicionada para tudo que diga respeito a movimento, eficiência e potência, voltados ao mundo exterior, incluindo o que faça alusão metafórica ao falo (lá vai o onipresente inconsciente freudiano, que, descontados os exageros do mestre vienense da psicanálise no estudo de seu famoso conceito: a “libido”, tem considerável respaldo de verdade). Velocidade, capacidade, poder da máquina… tudo isso remete, simbolicamente, aos valores que a figura masculina média de nosso orbe gosta de associar à sua própria identidade. Amamos, diz a psicologia, o que somos ou o em que desejamos nos tornar. Logo, os homens são propensos a admirar veículos e recursos de alta tecnologia, que os reportam a esta busca de excelência na ação e realização, competitivos, por sinal, como eles costumam ser, exacerbadamente – apesar de, com muito preconceito e inverdade, a cultura machista em vigor apontar as mulheres como muito competitivas (sem dúvida, são, mas nem de longe como os homens se mostram, cruéis em seu foco neurótico na superação do outro e do destaque social como “macho dominante” ou, nos dizeres da biologia: “macho alfa”).
Curioso que, em contrapartida a este interesse masculino por automóveis, motocicletas e máquinas de um modo geral, as mulheres, na mesma medida, interessem-se muito mais por casas, apartamentos – tudo que diga respeito a estabilidade, segurança, seio familiar – ou, de outro lado, por moda e dietas – ambas, dimensões da realidade que concernem a seu universo: a interioridade, atinente aos assuntos relacionados ao ninho doméstico e ao corpo (diferentemente da exterioridade masculina, do domínio do espaço exterior ao corpo, como dissemos acima).
À proporção que evoluímos e nos tornamos menos masculinos ou femininos e mais seres humanos, no sentido da completude e da realização íntima profunda, não só integraremos os valores do sexo oposto ao que nos era dominante, emocional e mentalmente, como ainda transcenderemos as preocupações e fixações com o mundo material, dirigindo-nos, por conseguinte, não mais para máquinas ou casas, e sim para pessoas, cultura, arte, ciência e espiritualidade… É a nossa destinação e o caminho seguro para nossa felicidade e plenitude!
(Texto redigido em 10 de julho de 2007. Revisão de Delano Mothé.)