(Catalepsia parcial e “duplo acordar”.)
(Luidje Barboza) – Tenho uma dúvida. Inicialmente, gostaria de parabenizar Benjamin e a equipe do Salto Quântico pelo excelente trabalho que realizam, assim como a iniciativa do amigo Sérgio de criar esse tópico. Várias vezes, acontece comigo a seguinte situação. Penso que acordei, mas não consigo me mexer. Fico consciente, sei em que local e em que posição estou, mas nada de conseguir mover meu corpo. Outras vezes, acontece diferente. Eu faço o movimento de levantar, mas percebo que não estou realmente acordado – é como se eu fosse e o corpo ficasse. Às vezes, tenho dificuldade de me locomover nesse estado, e a minha visão não é muito boa. O que poderia ser isso? Como devo agir? Quais as conseqüências? Grato pela atenção.
(Carlos Henrique Magalhães) – Eu também. Pois é, Luidje, isto acontece comigo também. Vamos esperar a resposta do nosso Professor e Amigo.
(Benjamin Teixeira) – Luidje e Carlos Henrique, agradecido pelas palavras gentis e fraternas. Todo louvor e mérito aos bons espíritos, de quem sou mero porta-voz, no domínio físico de existência. Você (Luidje, que minudenciou a questão) relatou haver experienciado dois fenômenos que, embora diferentes num primeiro exame, pertencem a uma mesma família de vivências paranormais, ou, como melhor ainda poderíamos dizer, são componentes de um mesmo continuum psíquico, existindo muito mais uma diferença de grau, que propriamente de espécie entre ambos.
O primeiro é denominado de catalepsia parcial ou projetiva. A catalepsia (quando se dá por completo), clinicamente falando, é um distúrbio sério que pode levar uma pessoa a ter os sinais vitais tão sutilizados, que os instrumentais de medição disponíveis, hoje em dia, na parafernália eletrônica que equipa salas de emergência e UTI’s hospitalares, não os capta, de modo que o indivíduo pode ser dado por morto, receber atestado de óbito e até ser enterrado… vivo(!) – é isso mesmo! Felizmente, é uma ocorrência relativamente rara. Já a vivência que você descreve – acordar-se, mas não conseguir mover o corpo – dá-se pelo retorno do espírito ao organismo físico, de uma experiência fora da dimensão material de vida, logrando-se acoplar o cérebro do psicossoma ao do soma (do perispírito – ou corpo do espírito – ao veículo de carne), sem que haja um completo assenhoreamento de todos os implementos da complexa engrenagem encefálica. Assim, seu cérebro material já pode estar perfeitamente ativo, no âmbito da lucidez, registrando, mnemonicamente, tudo que se passa – ou seja: o córtex frontal e pré-frontal plenamente operacionais –, sem que tenha havido um “encaixe” ou um “despertar” das regiões mais primitivas do magnífico “computador biológico”, como o córtex motor e o próprio cerebelo, conferindo-lhe esta estranha sensação de desconexão com o corpo – que pode, para os menos avisados, afigurar-se assustadora.
Disse pertencerem a uma espécie de continuum fenomenológico, exatamente porque a primeira experiência, a catalepsia parcial, constitui uma forma incompleta de saída do corpo, em que nem se trafega fora da engrenagem celular, nem há um acoplamento completo a ela – por isso, também adjetivada como “catalepsia projetiva”.
No que concerne ao segundo tipo de experiência, a em que você descreve ter a impressão de acordar, levantar-se e dar início às suas atividades habituais, depois percebendo não haver acordado realmente, trata-se do que a Dra. Dianne Morrissey, Ph.D., autora de “You Can See the Light: How You Can Touch Eternity – And Return Safely” (uma obra lamentavelmente ainda não traduzida para o Português, cujo título pode ser lido, lusofonicamente, como: “Você Pode Ver a Luz: Como Você Pode Tocar a Eternidade – e Retornar com Segurança”), denomina de “twice awakening”, que poderíamos traduzir, em nosso idioma, por: “duplo acordar”; e que outros autores conceituam de “false awakening”, que pode ser vertido para nossa língua como “pseudo-acordar”. É comum que, com o espírito plenamente desperto, mas a máquina biológica refratária a seus comandos psíquicos, a pessoa suponha já estar integrada em sua rotina ao tentar, por exemplo, girar a maçaneta da porta ou levar um copo d’água à boca, e acabe por descobrir que a mão atravessa os objetos materiais. É quando, sobressaltada, desperta no corpo realmente, já que as emoções intensas disparam um sistema de defesa da ligação soma-psicossoma, fazendo-os religarem-se, plenamente, em meio a uma “out-of-body experience”, para citar os autores anglofônicos, já que o fizemos há pouco.
Este mecanismo de proteção da união corpo-espírito bem revela como tais “projeções da consciência” ou “projeções astrais” ou ainda “viagens astrais” são seguras, chegando a ser horrivelmente frustrantes, quando, por exemplo, um médium está experimentando uma ocasião muito rica de aprendizado e sofre uma brusca interrupção do que lhe ocorre, por motivos, amiúde, prosaicos. Certa feita, para ilustrar o fenômeno, estava em uma interessantíssima conversa com instrutores desencarnados, numa instituição do plano extrafísico de vida, quando comecei a sentir puxões na nuca (por onde o famoso “cordão de prata” liga os corpos – material e espiritual – um ao outro). Lembro de ter conseguido verbalizar, em tom de profunda lamentação:
– Ah, não! Agora não! Não acredito…
E me vi velozmente tragado de volta ao meu ninho físico: estava com a bexiga cheia, e o organismo não sabia o que fazer com aquilo. Assim, por automatismo da educação, trouxe-me de volta à colméia microorgânica que o corpo constitui, para conduzi-lo, pesadamente, ao banheiro… Não riam: foi decepcionante! (risos).
(Texto redigido em 17 de julho de 2007. Revisão de Delano Mothé.)