Lamentável que a narrativa a seguir represente evento corriqueiro, no circuito do “mercado do casamento” – como certos(as) autores(as) do domínio físico de existência denominam o fenômeno, com boas razões para tanto.
Numa era de empoderamento de mulheres, há ainda daquelas irmãs encapsuladas em aparelhos fisiológicos feminis que deponham contra sua tão nobre categoria humana, pretendendo fazer do matrimônio uma via de ascensão social, embora, de ordinário, relutem em admitir, até para si mesmas, esse padrão de escolha e comportamento.
Sim, há pessoas que se enamoram por gente de poder, influência e fortuna, conquanto sejam a exceção e não a regra. Sim, há jovens que desejam engravidar, por ditames do relógio biológico, e que optam por se envolver com homens mais velhos, portadores de maior estabilidade financeira, a fim de vivenciarem o sacerdócio da maternidade, o que é compreensível, não só em termos práticos, mas também, relativamente, no sentido moral. Todavia, sabemos que há casos e casos…
Uma onda cultural de futilidade, exibicionismo e superficialidade, nas redes sociais, incentiva o lado primitivo, imaturo, menos sensível e insincero dos indivíduos, justa e ironicamente numa crítica fase de transição planetária, que se dá no campo da consciência.
Que todos(as) os(as) leitores(as) se alertem, para não serem seduzidos(as) pelos tentáculos inúmeros e poderosos dessa besta medonha, devoradora de almas, de corações… que tem arruinado vidas, famílias, bem como a felicidade e a paz de multidões sem borda…
O estudo de caso que aqui apresentaremos foi um drama ocorrido há alguns anos, não obstante certas informações terem sofrido modificações significativas, de modo a preservar a privacidade dos(as) protagonistas, ainda encarnados(as).
Triste reconhecermos, porém, que, a despeito desse nosso esforço de ocultar identidades, muitos episódios podem soar pungentemente parecidos com outros que testemunhamos… nesta época de horrores e distopias generalizados, sinalizando os estertores do fim de uma civilização e o despontar, ainda que muito modesto, de um novo paradigma de humanidade.
Uma jovem, que chamaremos de Tereza, em meados da casa de vinte anos, vinha de uma sequência de namoros malogrados. Eis que resolve procurar um homem com o dobro de sua idade, bem-sucedido e bastante conhecido por seu hábito de ter relacionamentos extraconjugais – em cunho ilustrativo, nominaremo-lo Armando.
Tereza tomou a iniciativa de procurá-lo, por comunicação eletrônica, sem nunca haverem permutado mensagens antes, apesar de frequentarem um mesmo ambiente social. Armando, dado a aventuras sexuais, prontamente se abriu a um encontro. Ele contraíra núpcias, há não muito tempo, com uma mulher mais nova, de idade semelhante à de Tereza, e estava realizado com um bebê recém-nascido, fruto da relação distinta em que se encontrava.
No desenrolar da interação breve dos dois, em cujos tópicos mais íntimos não adentraremos, ficou claro para Tereza que não haveria condições de “furtar” Armando de seu casamento. O cavalheiro, porém, generosa e solicitamente, ofereceu-lhe um emprego, em retribuição pelos favores sexuais – não nos importando muito dizer se foram ou não consumados.
A moça enfureceu-se. Desabafou com familiares. E o assunto veio a lume, no seio da comunidade de que faziam parte, de maneira que Armando foi tachado como o homem salafrário que, na maturidade, abordava sexualmente mulheres mais jovens, em troca de emprego.
Reiteramos: a iniciativa do contato foi da casadoira estroina. Tereza não poderia deixar entrever socialmente que o movimento fora dela, já que então perderia pontos e capital “moral” – digamos melhor: convencional – no tal “mercado do casamento”.
Com o desmantelamento da situação, Tereza dispara, poucos meses depois, em direção à segunda opção, sua próxima cartada: um profissional liberal também muito bem-sucedido, embora não tão afortunado quanto o primeiro. Deu certo.
Armando, que fora publicamente atassalhado por Tereza, notou de pronto a jogada da moça, detectando-lhe o perfil, mas aquietou-se e silenciou, com muita lisura e elegância, não entregando a ninguém que ela apenas pulara de uma alternativa para outra, sem nenhuma consideração para com os sentimentos alheios, por uma questão de mero cálculo de ganho pessoal. Oprimido pelo “escândalo”, Armando chegou ao extremo de pedir desculpas a integrantes da família daquela que o abordara.
Como é próprio do tão complicado universo psicológico dos(as) que se permitem render à própria concupiscência, nos dizeres de Paulo de Tarso, Tereza entrincheirou-se em desconfianças, mudando de personalidade de forma súbita e evidente para todos(as) que a conheciam.
E muitos(as) se perguntavam: o que houve com a jovem simpática, risonha e comunicativa que se convertera, de uma hora para outra, com o início daquela nova relação, em uma mulher pernóstica e distante?
Talvez nem mesmo Tereza soubesse responder para si própria, por negar, no espelho d’alma, o que fizera, tornando-se assim vítima de motivos traiçoeiros que albergou, no plano inconsciente de sua psique. Não procurara o primeiro homem por amor, nem o segundo. Não respeitara um casamento, nem mesmo havendo um bebê envolvido, e inconscientemente presumia que todas as amigas poderiam se portar como ela, tentando subtrair-lhe, perfidamente, o companheiro endinheirado que jazia “debaixo de seu controle”.
O fato, entrementes, é que seu cônjuge, a quem sequer julgamos necessário criar um pseudônimo, continuou mantendo encontros furtivos com uma ex-esposa, enquanto Tereza perdeu praticamente todas as amigas-irmãs, além do respeito que desfrutava em seu círculo social, por buscar um objetivo que, tragicamente, ela não conseguiu evitar: a traição do marido – um carma que lhe espocou, espontaneamente, pela lei da sintonia, por efeito de seus sentimentos confusos e indignos, ou, como seria melhor dizer: pela ausência de sentimentos.
Amarga sina de quem não age pelo coração e se deixa reger pelas aparências… Mulher que poderia ser mulher com inicial maiúscula, preferiu apequenar-se como ser humano, fechando-se em concha, na mesquinharia de emoções subalternas de arrogância e poder a que se confiou, no jogo mentiroso do “triunfo” social…
Os anos, no entanto, passam, e a idade vai chegando… E não sabemos por quanto tempo um consórcio matrimonial constituído sobre bases tão frágeis se sustenta. Bela e magra, Tereza pode se conservar. Sempre jovem, contudo, não. E dado o histórico de seu atual consorte, que troca de beldades a cada década, para ostentá-las como troféus, a tiracolo, para o mundo, diríamos, por baixo, que as probabilidades correm contra nossa irmã em humanidade.
Uma coisa seu esposo já providenciou: não lhe deu filhos(as), não só por já os(as) ter de relacionamentos anteriores, mas também para mais facilmente se desvincular de Tereza, tão logo ela não mais se preste a seus gostos e paixões.
Obviamente, nada disso é dito de ninguém para ninguém. A realidade, entretanto, é o que é. E o tempo, implacável magistrado de todos os seres, em Nome de Deus, revela, cedo ou tarde, o fundo verdadeiro de cada circunstância.
Jesus defendeu pecadores(as) autoconscientes, chegando a asseverar que “prostitutas e publicanos” entrariam no Reino dos Céus antes daqueles(as) que se enquadravam no prestígio social e nas tradições culturais (Mateus 21:31).
O caso de que tratamos, infelizmente, não é de uma profissional do sexo, que assume quem é e o que faz, no mínimo para si mesma, mas sim de alguém que, diante de familiares e “amigos(as)”, perante o mundo e até no meio religioso, apresenta-se como dama e traja-se com as longas mantas da falsa virtude, depois de se haver vendido, corpo e alma, para estar ao lado de um homem de destaque.
Misericórdia, Senhor(a), suplicamos para essas pessoas moralistas e hipócritas, habitualmente prontas a condenar e humilhar terceiros, quase sempre supondo estarem abaixo de si indivíduos que estagiam em nível espiritual muito superior ao que elas possam viver ou sequer imaginar…
Para essas criaturas, Senhor(a), impetramos, mais uma vez, Sua Misericórdia. Porquanto, se algumas delas são conscientemente dissimuladas, muitas enlouquecem parcialmente e se julgam, de fato, decentes.
A Lei do Retorno, porém, não leva em consideração caprichos ou opiniões de quem quer que seja, cumprindo-se de modo automático, tão mais duramente quanto mais empedernido for um coração em assumir seu próprio pecado. Em adição, a Justiça da Lei Cármica é acionada tão mais gravemente, quanto mais demorar a se manifestar, porque se expressará então com o efeito cumulativo do período temporal transcorrido.
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Gustavo Henrique (Espírito)
LaGrange, Nova York, EUA
31 de janeiro de 2022