pelo espírito Eugênia.
Alma querida e boa:
Combalida e completamente desanimada, você olha para os destroços de seus sonhos arruinados. Olhos secos, sem mais nenhuma lágrima a verter. Boca hirta, cansada de sorrir sem motivo. Você é o retrato da dor oculta – que o mundo desconhece, mas que Deus sabe.
Disseram-lhe que não realizaria seus sonhos, e, em parte, acertaram. Chegou longe, mas os pés de sua alma sangram, abertos em chagas vivas – sinceramente, não sabe por quanto tempo mais vai agüentar.
Supuseram-na em boa situação, e, no entanto, sente o coração bater, sem ritmo, cheio de vontade de não ter vontades, cansado de viver e lutar, cansado de ser.
Diante de tudo isso, você se preocupa, pesadamente – e com louvor –, com os compromissos a que jungiu seu nome.
Porém, alma boa, no instante supremo em que o pensamento de desistência passar por sua cabeça, cogite das crianças inocentes, ainda que poucas, beneficiadas pelo trabalho que inspira; recorde-se dos corações nobres e puros, que seguem seus alvitres, embora singelos e desprovidos de grande envergadura filosófica; lembre-se dos jovens desorientados, que recebem avisos seguros de sua mente lúcida, para não se perderem em terríveis desmandos e lamentáveis e irreversíveis desperdícios existenciais.
É verdade que os desafios lhe têm sido ingentes. Prossiga mesmo assim. De fora, um mar de rosas e facilidades parece atapetar seu caminho, e muita gente inveja o campo de batalha que vive diuturnamente, qual se se tratasse de um engalanado e ridente salão de festas. Da perspectiva de dentro, entrementes, segue você suportando todas as pressões invisíveis que a vanguarda exige, e seu coração ameaça ser posto a pique.
Em última análise, rememore-se, estimado amigo, que Corações Bondosos velam pelos seus caminhos, e, se você enveredou pelas complexas, confusas e perturbadoras sendas da frente evolutiva, onde roteiros são difusos e a dor da incerteza se mostra pungente, não julgue, indevidamente, estar fora do alinhamento com Deus. Muito pelo contrário: pela coragem de não se confiar à segurança do ser e se entregar à volubilidade atordoante do devir, você se faz instrumento de experimentação e escolha da Divina Providência, para a construção do seu e do futuro de outros, da sua e da felicidade de tantas pessoas, que, por ora, nem de longe tem condições de intuir.
Por isso, deprecamos-lhe, querido amigo, com toda ardência d’alma: não desista; persista a todo custo, confiante de que a Infinita Bondade de Deus sempre nos reserva maravilhosas surpresas – desde que façamos, com um mínimo de dedicação, a parte que nos cabe.
(Texto recebido em 19 de agosto de 2000. Revisão de Delano Mothé.)