por Benjamin Teixeira.
INTRODUÇÃO:
Um grupo de irmãos me enviou um e-mail, há alguns dias, dizendo-se decepcionados porque haviam sido informados que um deles estava doente e que outro médium, em outro lugar, havia alertado que estava em estado grave. Decepcionados por, ao frequentarem o nosso grupo há três anos, os espíritos por lá não terem se manifestado diretamente, mandando-a procurar socorro médico. Curioso que, até o presente momento, não me falaram ainda de haverem consultado um médico propriamente para um diagnóstico científico do mal que, é claro, pode nem sequer existir.
Além de falarmos a todo momento que todos devem procurar médicos para questões médicas, ainda dizemos, como uma das pedras fundamentais de nosso trabalho, que a Ciência é a base e o crivo para a filtragem das informações que nos chegam, em nossa busca epopeica pela verdade.
Na reunião pública seguinte, disse isso em público, sem adivinhar a presença da pessoa em foco, já que supunha que a decepção fora forte demais e que o dito e-mail havia constituído uma despedida final. Aproveitei o ocorrido para comentar, trazendo para todos a lição do perigo da falta de bom senso, já que os remetentes do e-mail, inclusive, não me haviam dado nenhuma condição de resposta.
Eis que, hoje, recebo um e-mail lamurioso, da tal fulana “doente”, que estava presente à palestra, a dizer que se sentiu arrasada… que não esperava que eu, que era – segundo me disse – um pai para ela, “tivesse agido daquele jeito”, mas que mesmo assim me enviava um abraço e me pedia orientação de novo, mas me alertando que deveria ser carinhoso com ela, que era o de que precisava…
Bem, após encerrar a carta de resposta, os espíritos me disseram que seria interessante (educativo) trazermo-la a público, obviamente com o nome da pessoa substituído por outro, a fim de lhe preservar a privacidade.
Espero que, efetivamente, o(a) prezado(a) leitor(a) de fato retire algum proveito de nossos dizeres.
Muita paz e felicidade,
O irmão em Cristo,
Benjamin Teixeira.
Aracaju, 21 de maio de 2002.
Aracaju, 21 de maio de 2002.
Prezada Alice:
Que a infinita bondade de Deus nos cubra de bênçãos sempre.
Não tive intenção de magoá-la. Mesmo porque, achava que não estivesse por lá, já que o e-mail anterior de seu irmão parecia-me uma despedida. Se soubesse que estava teria sido mais brando. De qualquer forma, não saber foi bom para que transmitisse toda a verdade que era necessária ser ouvida. Não desprezei-a, mas condenei a atitude – que não sei se foi sua ou de seu irmão – de acusar os espíritos de irresponsáveis, ao não terem feito o que vocês deveriam ter feito: procurar tratar sua saúde. Sempre sou duro na defesa da verdade, principalmente na defesa dos Seres Amorosos e Sábios a quem devemos tanta proteção e amor. Não tenho, nunca tenho remorsos por isso. Eles, esses seres justos muito acima de nós, mereceriam ser tratados assim? Não creio que eu tenha desprezado você, mas que você tenha-os menosprezado, ao supor que devam fazer a parte de nós seres humanos.
Quanto ao médium, vou repetir: para problemas médicos você deve procurar MÉDICOS; deve procurar a MEDICINA, e não a mediunidade. Fenômenos mediúnicos de cura só acontecem para reforçar a fé das pessoas, e não para substituir a Ciência e a Medicina que estão na Terra em nome de Deus. E se procurar médicos e eles não lhe disserem nada sobre seu estado de saúde, o médium que procura pode estar apenas assustando-a, ou o espírito que por ele manifesta, devendo ser encarado com reservas. Todo médium comete falhas, porque todo médium é humano. Allan Kardec alertou inúmeras vezes para a necessidade de usar a lógica e o senso crítico no trato com o mundo espiritual. Devemos ser sempre eminentemente racionais com quaisquer trabalhos mediúnicos e espirituais. Se alguém foge ao bom senso, deve ser ignorado ou alertado quanto ao desvio da verdade que faz.
Quanto ao seu estado de bem-estar geral, deve procurar esforçar-se para sair de si e dedicar-se ao serviço ao semelhante. É a melhor forma de esquecermos e curarmos nossas dores: tratar as dos outros. Quanto mais nos concentramos em nossos problemas, mais eles se avultam, inclusive os orgânicos. E quanto mais saímos de nós mesmos, para oferecer uma palavra de conforto, um momento de atenção, um gesto de amor, mais nossas dores diminuem, até sumirem de todo. Eis por que Chico Xavier, sempre tão doente, continuou trabalhando pelo próximo, carregado e praticamente mudo, até os 92 anos de idade.
Mais uma vez vocês quiseram me responsabilizar por sua dor. Repito: ninguém é responsável por dor de ninguém. Não a desprezei por mandá-la procurar a Medicina em questões médicas. Deve sair do complexo de vítima e lutar para ser feliz. Enquanto se sentir “coitadinha” não vai encontrar sua força e, assim, vai viver sem energia para realizar nada. E não deve, por outro lado, manipular as pessoas, tentando fazer com que elas se sintam culpadas, como fez comigo. Como sou experiente nessas questões, lidando diariamente com todo tipo de neurose e complexo, há doze anos, obviamente, não caio na armadilha, mas se faz isso com outras pessoas, diante de Deus, será responsabilizada por fazer as pessoas se sentirem mal por não fazerem o que você quer e não agirem com você da forma que você deseja.
Em verdade, essa é uma forma muito dissimulada de você fugir à responsabilidade e preguiçosamente não se esforçar para resolver os próprios problemas, permanecendo, assim, infantil, dependente e, por consequência, impotente. É, por outro lado, uma maneira insincera de ocultar o próprio egoísmo e capricho por detrás de uma aparência justa e digna. Esse fenômeno psicológico, nos Estados Unidos, é chamado de “tirania benevolente”, usada, inclusive, de modo mais comum, por pessoas que vivem doentes e exigem que as pessoas as tratem dessa ou daquela forma por estarem doentes, principalmente entes queridos que com elas convivem. Provavelmente nada disso você faz conscientemente, mas pare e faça uma reflexão sincera. Você não estaria exageradamente centrada em sua dor? Você não estaria forçando um pouco as coisas, pessoas e acontecimentos à sua volta, a girarem em torno de você? Observe, acima de tudo, se você está feliz e se está promovendo a felicidade de quem convive com você…
Não falo as coisas para as pessoas me amarem. Se você disse que me via como pai, e não quer mais me ver, isso não faz diferença para mim, primeiro porque, como disse, não faço meu trabalho para agradar ninguém e sim à minha consciência e aos espíritos, e depois porque se um pai não pode chamar de irresponsável um filho que não procura um médico quando está doente, isso não é um pai: é um louco. E se você quer me fazer sentir culpado com esse tipo de argumento, não me conhece, e não se conhece muito menos, porque não percebe quanto deve acordar de suas ilusões, para poder ser realmente feliz.
Você diz que precisa de carinho. Antes de carinho, precisamos da verdade. “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, disse Jesus. Carinho demais amiúde constitui complacência com o mal, fomentando o pior em quem é foco do mimo. Já ouviu falar em crianças mimadas, não é? Crescem como verdadeiros demônios de egoísmo e mesquinharia. E os pais são responsáveis diretamente por esse processo. Não espere que eu seja desses com ninguém.
Apesar da aparência, não estou com raiva de você. Estou cumprindo o meu dever: orientar as pessoas, e não me fazer de bonzinho. Espero que compreenda, para que possa ser mais feliz. Se não me compreender, paciência… Um dia me compreenderá.
Se quiser conversar comigo pessoalmente, para maiores esclarecimentos, estou à disposição no final da reunião de sábados, na Escola Técnica.
Desejo, sinceramente, que seja feliz. Mas lamento se esperar que eu “passe a mão na cabeça” das falhas que encontrar nas pessoas que me procuram e que sei que as fará infelizes. Minha função é falar a verdade e não falar coisas para ser mais amado e mais “legal”(como disse) para a opinião alheia.
Que Deus a abençoe e a faça muito feliz.
Benjamin Teixeira de Aguiar Machado.