Benjamin Teixeira
pelo espírito
Roberto.

Minha querida:

Você botou p’r’arrebentar comigo.
Façamos, porém, um rápido inventário de tudo que aconteceu em nossa rápida história:

Dei meu amor, declarei-me. Dispus-me a colocar minha vida em função de você. Esqueci-me de mim. Ofereci tudo que de mim poderia partir, desde carinho, meu conhecimento e influências pessoais, até dinheiro e meus bens. Você retribuiu e estimulou meu afeto, na medida em que exatamente deixasse-me totalmente apaixonado e… de repente, sumiu! Não atendeu mais às minhas ligações, mandou-me recados desaforados por terceiros, fez-se de superior e distante, quando era você quem estava recebendo muito de mim. Achou-se muito para mim, e desprezou-me, sem nem me dar chances de falar com você.

Fiquei louco, triste por perder a vivência provisória do afeto romântico, procurando descobrir onde poderia ter errado, na busca sincera de me responsabilizar pela experiência. Não enxergando onde poderia ter errado, preparei-me até, psicologicamente, para perdoá-la; depois fiquei magoado, depois enraivecido, depois desesperado. Mas, aí, então, em meio às minhas preces e meus pedidos de socorro, um e outro amigo vieram em minha direção, dando-me apoio e conforto. Vi outros amores, numerosos, que tenho em minha vida, e, em meio ao oceano de amor que me circundou, lembrei-me de você. E, sinceramente, apiedei-me de sua tão mesquinha pessoa. Lembrei-me de sua histeria, de seu desequilíbrio emocional, mental (e talvez até moral), de sua arrogância e de como você é detestada por todos, de como está só, de como as pessoas correm de você. Lembrei-me de que você costuma envaidecer-se por tudo e de humilhar as pessoas e colocá-las para baixo, tiranicamente, e, feliz da vida, pude gritar, no imo do meu coração:

Muito obrigado, minha querida, por ter me libertado de você!!! Como você foi generosa e boa comigo, ao não ficar em minha vida, para criar uma devastação que mais cedo ou mais tarde faria maior do que a que já estava começando a acontecer. Obrigado por não ficar ao meu lado, vampirizando-me e me enlouquecendo. Obrigado por ser tão ruim com você mesma, a ponto de se afastar de mim, que tanto a amava e tanto me dispunha a me dar a você, para ficar apenas com o carma de maltratar um afeto verdadeiro, enquanto, eu, totalmente livre, parto para buscar amores muito melhores, verdadeiros, que já me circundam por toda parte, bastando você ter sumido. Obrigado por ter escolhido ficar longe de mim, deixando-me em paz. Obrigado por ter ficado na pior, com pessoas hipócritas que a aconselharam a se distanciar de mim, e me deixando tão bem sem você! Obrigado por que ouviu palavras mentirosas contra mim, e, com isso, afastou-se de mim, já que tinha sintonia com meus inimigos. E, principalmente, se falou mal de mim, após ter recebido tanto bem do meu coração, francamente, minha cara, coitada de você, quando a Vida lhe for cobrar a conta deste débito moral, enquanto eu sigo com créditos espirituais em acréscimo, mártir do amor em que fui convertido não por meu mérito, mas por sua tão prestimosa iniciativa, graças a Deus, porque assim merecerei alguém bem melhor que você!

Por tudo isso, assim, sinto-me credor de sua loucura suicida, por nem ter conseguido ser egoísta e não ter percebido como ia ganhar permanecendo ao meu lado, tão idiotamente apaixonado por alguém que nunca me retribuiria no mesmo nível o meu afeto.

Talvez você quisesse supor que essas palavras fossem um jogo de mágoa ou vingança, para manipulá-la e fazê-la voltar ou se sentir péssima. Mas o fato é que estou ótimo e a prova é que sei que essas palavras nem sequer chegarão a seus olhos, e fico muito feliz e em paz por desabafar minha experiência e mostrar a outros que lerão essas linhas como é bom quando a gente transforma o complexo de abandono e rejeição, em grande êmulo à auto-estima, à auto-confiança e à fé.

E, assim, tão-somente, do fundo de meu coração, digo-lhe, minha cara louca-estúpida do passado: que as forças do universo tenham pena de você, e não lhe cobrem tão alto pelo mal que tentou me fazer, com sua crueldade e ignorância, porque, sinceramente, estou muito feliz pelo bem enorme que você me fez: livrar-me de você, e fazer ver como sou feliz longe de sua pessoa! (*)

(Texto recebido em 13 de outubro de 2004.)

(*) Esclarecimento Oportuno:

Que se diria, em linguagem mais suave e nobre, para alguém muito magoado e deprimido com a rejeição sofrida com muita injustiça, que tivesse efeito tão bombástico e persuasivo para a linguagem emocional do ser humano médio, no sentido de levantar a auto-estima e o próprio senso de valor, como consegue Roberto, neste artigo? Para alguns dos leitores, podem soar óbvios alguns dos raciocínios e conclusões que o amigo desencarnado expendeu, mas não para quem padece de co-dependência emocional, um vício psicológico que faz o indivíduo sentir a culpa e as necessidades do outro como se fossem próprias.

Muita gente bem intencionada, sendo desprezada ou maltratada por tipos problemáticos, supõe que deve apenas orar e perdoar, como se o processo de aceitação da raiva, da frustração e da decepção não fizesse parte do primeiro momento da elaboração do genuíno perdão; e, assim, reprimindo a necessidade de vivenciar as fases de luto psicológico pela perda e de percepção da realidade, negam os fatos, fogem à lógica do bom senso e dos mínimos princípios de auto-respeito e auto-proteção, e imaginam que, com isso, estão sendo humildes, espirituais e cristãs, quando, incoerentes e semi-loucas, estão apenas doentes e agindo de modo pretensioso, para explodirem, mais tarde, na somatização de num câncer ou num quadro mais leve de artrite reumatóide, depressão clínica ou, simplesmente, infelicidade crônica.

Pela sua forma de falar e escrever escandalosamente honesta, direta e sem muitos “enfeites”, passa-me à mente a idéia de que o espírito Roberto é a versão invertida do espírito pseudo-sábio do além: as almas de palavreado empolado e más intenções que se acercam de médiuns invigilantes, prodigalizando-lhes elogios e mimos, com o fito de amolecer-lhes o caráter e desviarem-nos dos objetivos espirituais que lhes estão traçados para a presente encarnação. De maneira diametralmente oposta, Roberto tem um estilo e linguajar quase-chulos e implacáveis, mas fazendo-se extremamente eficiente para quem tiver “estômago” para ouvi-lo, o que os menos auto-conscientes dificilmente conseguem ter.

Muito comumente, vemos embusteiros da outra dimensão de vida passarem-se por mentores venerandos, enganando médiuns e instituições sérias (mas insensatas), apenas porque respigaram um vernáculo ligeiramente mais polido ou um conjunto de idéias um pouquinho mais inteligente, normalmente simulacros patéticos e grotescos da legítima sabedoria. E, todavia, quantos pais e mães, professores e mentores do outro Lado da Vida, profundamente preocupados com seus pupilos, mas não tão evoluídos para agirem como anjos, aproximam-se de seus tutelados com abordagem direta e enérgica?

Como diria Jesus, “veja quem tem olhos de ver, e ouça, quem tiver ouvidos de ouvir”. Ou, como Ele se referia aos falsos amantes da virtude, principalmente religiosos tradicionalistas, sempre preocupados excessivamente com as aparências, mas esquecidos da essência: “Sepulcros caiados: brancos por fora e cheios de podridão e rapina por dentro.”

(Nota do Médium)