Crônicas de Gustavo Henrique

Benjamin Teixeira
pelo
Espírito Gustavo Henrique.

Chovia, torrencialmente. Poucos médiuns no Centro, lamentavelmente. “Gripa, e eu não posso faltar ao trabalho amanhã” – pensou um colaborador dos que faltaram. “Deus me livre: chego despenteada e molhada como um pinto recém-saído da casca do ovo – é até um despudor. Não tenho os recursos de D. Fulana, que tem carro próprio e pode chegar até a porta do centro sem se ensopar toda!…” E os remoques seguiam, variados, inúmeros, por parte dos partícipes da reunião mediúnica, incluindo o de considerar o trânsito mais caótico e lento em momentos de chuvarada.

Observamos em torno, avaliando a equipe disponível no dia, e suspiramos, entristecidos, entreolhando-nos em confidências trocadas pelo olhar, inarticuladas pelas bocas. Uma quebra de um quarto na força-tarefa de médiuns e esclarecedores para aquele dia. Com algum esforço e criatividade, poderíamos atender a dois terços do programado para a noite, mas não mais que isso.

Pedi a Cagistério – que conduzia, de nosso domínio de vida, as atividades interdimensionais de cura e orientação a desnorteados desencarnados – a palavra, para inspirar ao diretor da reunião mediúnica solicitasse mais disciplina e critério com as tarefas medianímicas, mais firme compromisso com a Espiritualidade, não só a sofredora, mas também a dos professores, médicos e psicoterapeutas despojados de corpos materiais, que mobilizavam providências socorristas importantes, desde várias horas antes da realização dos trabalhos, no tratamento de enfermos de nossa dimensão, contando com a colaboração dos encarnados.

O diretor do plano físico, em sintonia com meu diapasão psíquico, sem dificuldade, pôs-se a falar fluentemente, reproduzindo-me, em linhas gerais (com uma ou outra interpolação e raras extrações de conteúdo), o pensamento, o que eu gostaria de dizer à reduzida plateia de cooperadores irritadiços uns, enfadados outros, raríssimos com o estado de devoção e respeito devidos ao ambiente.

Só que, entre a assistência, campeavam a indisciplina e a intemperança:

“Que acinte!” – pensou uma dama empolada. “Quem ele pensa que é para nos dar ‘sermão’, como se fôssemos crianças?”

“Que ab-sur-do!” – cogitou com seus botões, uma outra senhora, acadêmica desacostumada a ser repreendida. “Faço um esforço enorme para estar aqui, em meio a este escarcéu de chuva, e ainda tenho que ouvir broncas por ausentes.”

Ao notar a rebeldia grassando na sala, insuflei no porta-voz encarnado as seguintes palavras, aproximadamente:

“Talvez estejamos com opinião muito distorcida a respeito da Espiritualidade e do que sejam as relações com os que nos são Superiores, na Hierarquia dos Trabalhos do Bem. Tendemos a ser muito voluntariosos e displicentes com disciplinas basilares, e se não incorremos no deslize dos companheiros que faltaram, apenas por estar chovendo, muitos aqui se esquecem de obrigações ainda mais elementares, como a oração, o culto do Evangelho, que nossa Instituição recomenda sejam diários…”

As duas senhoras silenciaram, constrangidas, seus solilóquios prenhes de crítica. Logo adiante, soprei ao diretor, em quase completo fenômeno de psicofonia:

“Por fim, é justo considerarmos que o pouco que fazemos, desde as doações financeiras até a dedicação de tempo, é extremamente diminuto, em relação às nossas dívidas morais com a Causa do Bem, que saldamos aos poucos, por meio destas pequenas côdeas de participação, na Obra do Cristo, no sentido de estender auxílio a nossos irmãos em humanidade, sejam encarnados ou desencarnados.”

A parte propriamente dedicada às atividades mediúnicas teve início, e as luzes do local foram reduzidas. Mas, além dos faltantes da noite, pelo “horror da chuva”, tivemos que contar com mais cinco criaturas, na sala, que resolveram entrar em crise existencial com as palavras firmes do nosso representante, em vez de começarem por aplicá-las ali mesmo, fazendo-se mais produtivas no serviço a oferecer, saindo um pouco do próprio umbigo.

Em suma: o resultado da noite, em termos de ajuda prestada, por meios psicofônicos e energéticos, a sofredores de nossa dimensão, na reunião mediúnica que deveria ser de desobsessão, mas que mais parecia uma sessão de desenvolvimento elementar da mediunidade, foi de metade do que havia sido planificado.

A despeito desta narrativa, ainda temos que agradecer a Deus pelo concurso limitado e prenhe de oscilações caprichosas de nossos amigos encarnados, porque muitos sequer conseguem manter-se fiéis aos compromissos assumidos antes de voltar ao plano da matéria, nos diversos segmentos do serviço a cumprir, e simplesmente desertam das atividades de que faziam parte, com mil argumentos, fantasias e outras desculpas, para a fuga à responsabilidade – que sua consciência lhes acusa, entrementes. Menos de um terço de todos… menos de um terço dos cooperadores projetados a se engajarem, em quase toda obra legítima do bem. É este o percentual médio de lealdade às próprias intuições e consciência.

Na Casa que visitávamos, felizmente, alguns começavam a retornar, após período relativamente longo de afastamento; a fidelidade de outros era “à prova de bala”, mas urgia amadurecermos, pela extensão das tarefas. Mister se fazia acelerarmos a expansão do número de trabalhadores, porque logo haveria uma duplicação de audiência nas palestras públicas da Instituição, e teríamos que estar preparados para essa nova aluvião de gente, acompanhada de seus satélites mentais: perturbadores do ambiente doméstico, profissional, social, ou mesmo atraídos pela sintonia com seus vícios pessoais.

Que Jesus, como operou a multiplicação dos pães e dos peixes, logre-nos fazer muito, com o pouco que detemos, para que demos conta do que nos foi confiado, bem antes de este século se iniciar, bem antes da descida aos proscênios reencarnatórios de nossos camaradas encapsulados em organismos físicos.

(Texto recebido em 1º de abril de 2010.)

Errata:

No início da mensagem postada imediatamente abaixo desta, na interface de nosso site, uma incorporação do Espírito Anacleto, houve um truncamento do texto falado que o ínclito professor produzia no momento. A Entidade veneranda pretendia citar o ano de nascimento de Chico Xavier e a data do centenário numa mesma frase; e, na condição de intérprete mediúnico imperfeito, passei apenas o primeiro. Por isso e por todos os equívocos havidos em nossa lavra mediúnica, por gentileza especial atribuam quaisquer erros à minha condição de tradutor psíquico de qualidade sofrível, em vez de imputá-los aos Mestres da Espiritualidade, que não apresentam falhas à altura de nossa condição direta e razoável de avaliação.

(Nota do Médium)


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