Em 1998, inspiramos o companheiro encarnado que nos serve de medianeiro no mundo físico a fazer um trabalho público de condução à felicidade, num seminário que levou o nome: “Como Ser Feliz”, à época enfeixando o tema em 213 princípios, como uma síntese de tudo que foi transmitido à humanidade, em termos de valores fundamentais a favorecerem a realização pessoal e a sensação de plenitude e paz¹. Aqui, porém, gostaríamos de propor um resumo básico para se encontrar a felicidade, a meta fundamental de todo ser humano, quer isso seja consciente ou não.
Polarize sua atenção no Criador. O impulso à transcendência é atributo indissociável à consciência humana. Buscar a superação de si e a conexão com um todo maior, que imprima significado e propósito à existência, é elemento basilar para a consecução da felicidade. Ore, medite, frequente o grupo religioso ou a tradição espiritual do seu agrado, ao menos uma vez por semana, e faça da vida um hino constante de busca de reconexão com as Origens, pela prática do bem e a procura da verdade.
Ame, desmedidamente. Aponha a razão como norte de sua alma, mas jamais deixe de auscultar sua consciência como um paradigma fundamental do seu viver. Não tenha medo de seus sentimentos. Fale a quem ama o quanto ama. Busque os sonhos de sua alma. Ouça a voz da intuição, abrindo-se ao novo e ao melhor. Sentimento, amor e intuição estão interligados, de modo místico, no íntimo do ser. Procure encontrar a expressão legítima de um deles, e estará por consequência ativando os outros.
Concentre-se no motivo central de sua existência. Defina um projeto maior de vida, em torno da qual tudo gravite, e polarize esforços na persistência por atingir o objetivo, ainda que tendo que alterar inúmeras vezes os procedimentos para alcançá-lo ou mesmo adaptar a meta às possibilidades externas, quanto aos recursos internos que forem sendo intuídos, à medida que a experiência for-se acumulando.
Preste atenção aos aspectos positivos da vida. O copo pode estar meio cheio ou meio vazio. A opção por interpretá-lo como uma ou outra coisa é sua. Assim, decida por enfocar sua atenção no lado melhor da vida, potencializando-o, em vez de fixar a mente no pior, aprofundando-o. Seja grato pelo que tem, pelo que é, pelos avanços da ciência, pelos confortos da modernidade, pela liberdade de pensar e pelo poder – ainda que limitado, embora não tanto quanto pareça – de gerir o seu destino e construir a sua felicidade. Ser feliz é, em última análise, uma questão de escolha. Aliás, o vocábulo inteligência, que nomeia o apanágio dos que mais caracterizam a condição humana significa, em suas raízes latinas – inter legere – estar entre escolhas.
Contente-se com pouco. A ansiedade por se fazer tudo ou se ter muito faz com que o melhor da vida seja desperdiçado. Preocupado em adquirir mais milhões, muita gente perde momentos sagrados de estar e deleitar-se com a o convívio de quem ama – o que é inapreciável. À guisa de se ler cinco horas por dia, e adquirir grande cultura, muita gente se desanima (do latim: des-anima – falta de alma) e não lê a meia hora diária que seria possível, e que realmente constituiria, no correr do tempo, o padrão informacional que seria possível atingir.
Adquira conhecimento de todas as formas que lhe seja possível. Informação é poder, sabedoria é fonte de felicidade. Estude, leia, faça cursos, viaje, converse com gente instruída e sábia, consulte-se com psicoterapeutas e líderes espirituais. Faça tudo que estiver ao seu alcance no sentido de expandir seu cabedal de percepção e cognição. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, já dizia Jesus. Nessa era de informação e de evolução célere, dispensam-se maiores argumentações em favor dessa proposta.
Por fim, procure ser você mesmo, estar em sintonia consigo próprio, aceitando o nível atual de evolução em que está, sem se insurgir contra isso. Procure progredir, mas compreenda os limites inclusive para evoluir que atualmente apresenta. Só se pode superar alguma coisa quando se a foi plenamente primeiro. Só se passa a uma etapa posterior de crescimento, após esgotar os conteúdos de aprendizado da anterior. Procure ser honesto, coerente consigo próprio. Não se deve buscar ser bom, mas ser íntegro, afirmava o grande psiquiatra e psicanalista suíço Carl Gustav Jung, o pai das correntes de Psicologia de Profundidade. “Por que me chamais de bom? Bom, somente Deus o é”, asseverou Jesus. A integração psicológica é função de capital importância para a consecução da felicidade. Toda a multidimensionalidade do ser humano, nos seus aspectos biológicos, psicológicos, sociais e espirituais, deve ser atendida, a fim de que não haja desequilíbrio e mutilação de departamentos psíquicos ainda indissociáveis à maneira de ser do indivíduo. Respeite-se e ame-se como hoje é, e poderá ser algo melhor amanhã, se Deus permitir.
Pare de fugir da dor. O sofrimento não é contraditório à felicidade, muito embora não se deva buscá-lo, à guisa de maior crescimento, o que seria patológico. O sofrimento contém informações capitais, para se aprimorar a capacidade de ser e de estar feliz. Felicidade não é uma sequência ininterrupta de prazeres. Aliás, esse é o caminho mais curto para a desgraça e a tragédia, como milhares de exemplos abarrotam penitenciárias, manicômios e clínicas de desintoxicação. Felicidade não é facilidade – é estar em paz, nos trilhos do que se deve ser e se tornar, pelo trabalho benevolente, pela busca de conhecimentos novos, pelo amor ao próximo, a si mesmo e a Deus.
Sobretudo, amigo, entenda que a felicidade – do latim fe licitas: uma fé genuína – só o será, quando você suplantar a preocupação com o eu limitado e lançar-se ao universo infinito do outro. Somente é feliz quem, de alguma forma, vive em função do serviço, de ser útil, de favorecer a felicidade de outras pessoas. Não há felicidade solitária ou egoísta. Somente é feliz quem se dá e se integra, sem medo de partilhar o que tem e o que é. É esse um desdobramento da proposta do amor, mas de tal modo importante, que julgamos de bom alvitre aqui apor como um princípio à parte. Doe-se, viva com um projeto de serviço ao bem comum, à felicidade do próximo, ao progresso da humanidade, e a felicidade se lhe converterá em uma fatalidade, um curso de facilidade, perseguindo-o por toda parte…
Esse foi uma síntese ousadamente diminuta de tudo que um ser humano deve fazer para descobrir a plenitude, o bem estar e a paz, dentro do contexto de imperfeição em que se estagia. Todavia, exortamo-lo a seguir essas sugestões simples. Se o fizer, garantimos-lhe, em nome de Deus: será feliz, mais, muito mais do que por ora imaginava ser possível.
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Eugênia-Aspásia (Espírito)
27 de junho de 2000
¹ Texto extraído do livro “Perspectivas”