Os(as) orientadores(as) do Mundo Espiritual pediram-me que partilhasse um “segredo d’alma” publicamente, de modo a auxiliar pessoas que vivam experiências similares à minha.
Desenvolvi, com o tempo, um padrão mental que hoje reconheço haver surgido em resposta a uma carga variada e significativa de abusos que sofri na infância e na adolescência, boa parte deles decorrentes de minha condição de integrante da comunidade LGBT – estou ciente de ser homossexual desde os 6 anos de idade, antes mesmo de conhecer a palavra elegante que nominava o que era qualificado como uma aberração perante a humanidade e, extrema blasfêmia, uma abominação aos Olhos de Deus.
É que a felicidade me parecia um objetivo de vida para indivíduos normais e saudáveis, e não para os deformados moral ou psicologicamente, como fui doutrinado a me sentir – doutrinação essa que, nos anos 1970, acontecia através da mídia, da escola, da igreja, da família, por toda parte.
A criaturas como eu estariam reservadas a loucura, o suicídio, o escárnio público e – para quem fosse religioso(a), que também era o meu caso – a condenação eterna no inferno.
Não admiti o desespero. Mas, apesar de ter nascido no Brasil, cuja cultura ameniza os rigores da apologia ocidental ao “trabalho duro”, demorei muito a descobrir que compreendia o bem-estar ou, pior ainda, a ousadia da pretensão da felicidade como indicativos de egoísmo, preguiça e futilidade.
Secretamente, sempre julguei a busca por ser feliz uma meta infantil, viciosa e medíocre. A vida deveria ser dedicada a projetos “sérios”, voltados ao bem comum, lastreados em uma rotina de disciplinas estoicas. E quaisquer desconfortos advindos dessa filosofia e sistema de gerência existencial teriam que ser banidos, como consequência natural de um progressivo “amadurecimento psicológico”.
Precisei adoecer sucessivamente, já na maturidade do corpo físico, para perceber que essas pressuposições eram patológicas e que me cabia, ao menos, modificar meus conceitos de felicidade, traduzindo-os como paz de consciência, sentimento de dever cumprido ou atendimento a uma “vocação” – na acepção mais profunda do vocábulo: a “Voz” de Deus ou a Vontade Divina para cada um(a) de nós.
Eis um dos mais relevantes motivos por que fui escolhido para difundir uma principiologia que prima pela observação da bússola da felicidade – esta, em última análise, constitui uma ferramenta para que o ser humano se oriente, em todos os departamentos de sua vida, e se alinhe com o eixo de sua própria consciência, com seus mais nobres e autênticos valores morais.
Benjamin Teixeira de Aguiar
LaGrange, Nova York, EUA
2 de outubro de 2021