Benjamin Teixeira
pelo espírito Eustáquio.
Tens a clara sensação de estares na voragem de um torvelinho. Teus pensamentos, desencontrados, deixam entrever, sorrateiramente, as nuanças de uma ameaça indefinível, qual demônio oculto, a te afligir com mil vaticínios sombrios. A angústia rouba-te a alegria de viver e quedas-te em torpor da morte… morte da confiança e da paz…
Reergue-te, agora mesmo, prezado amigo, de teu catre de terror. Ora e confia em Jesus. Por mais apreensivo que estejas, entrega-te, incondicionalmente, ao regaço do Cristo, cônscio de que nunca estarás desamparado, se estiveres nas mãos do Salvador. Existem forças contrárias ao Cristo, mas nada se pode comparar ao poder e a glória do Enviado do Altíssimo.
As obsessões nefastas sitiam-te a alma, assoberbando-te as emoções com cargas deletérias de medo, tristeza e desânimo. Os vetores do mal envolvem os trabalhadores do bem, volta e meia, pugnando calar-lhes a boca, a fim de poderem prosseguir em seus propósitos nefandos. Se representas o bem, no mundo que ainda não tem o bem como prevalência definida, sofrerás – é natural – os ataques mefistofélicos do mal, atordoando-te, em nome do Cristo.
Não penses, porém, que ao dizer isso, estejamos-te exortando a uma visão negativista em torno da vida, cultuando temores místicos, medievais, como daqueles que se sentem seguidos diuturnamente por agentes diabólicos. Estamos apenas apresentando um fato. Não se deve, como antes (e lamentavelmente ainda hoje), exagerar-se na fixação da existência do mal, nem ignorá-lo, como propõem vários pensadores modernos, qual se não existisse. O ponto de equilíbrio, que aqui postulamos, está na ótica sensata que reconhece os elementos do mal, transmutando-lhes a existência em estímulo constante ao próprio fortalecimento e à consolidação das propensões ao bem, no íntimo de si próprio.
Converte, assim, caro amigo, a onda de angústia que te tenta assolar a alma, em grande incentivo a desenvolveres teu lado espiritual, tua conexão com Deus, tua energia para a prática do bem e, então, estarás utilizando a força do inimigo em teu favor, como tão sabiamente sugerem fazer determinadas correntes de artes marciais. Não resistas ao mal – disse Jesus – ceda a outra face. Mas, concomitantemente, impelia-nos a suplicar ao Alto: Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, o que parece, em primeiro exame, contraditório. Quis, porém, o mestre, com esse paradoxo, dizer que precisamos estar receptivos a concitações ao bem, que subjazem aos assaltos do mal, sem que, entrementes, rendamo-nos às suas sugestões malévolas. A desenvolver, por exemplo, a paciência e a humildade ou a defesa justa, por outro lado, ante um ataque gratuito e injusto, sem, todavia, desenvolver mágoa ou ódio.
Estás triste e envolto numa nuvem de apreensões sinistras? Pensa na força que te constringe a alma como um convite à transcendência. Em vez de te supores pressionado a desistir de teus propósitos no bem e de retraíres o coração a expressões menores de mediocridade espiritual, entendas-te sendo incitado a apresentar-te ainda mais resoluto e ativo, na prática do bem que lhe alvitra o coração e a que te propele, imperiosamente, a consciência. Desse modo, estarás absorvendo o aparente impulso à tua desgraça, como ímpeto à tua ascese.
(Texto recebido em 20 de dezembro de 2001.)