Benjamin Teixeira
pelo espírito Anacleto.
Anacleto, poderia nos dizer alguma coisa sobre esses acontecimentos chocantes do dia de hoje: os ataques terroristas ao World Trade Center, em Nova York e ao Pentágono, em Washington, nos Estados Unidos da América?
Os acontecimentos revelam o quanto, hoje, indivíduos ou pequenos grupos isolados podem fazer de mal a grandes massas de pessoas, incluindo nações inteiras, e, como no caso de agora, todo o planeta, com repercussões para as relações internacionais, tanto no plano econômico, quanto no político. Houve tempo em que apenas estruturas organizacionais poderosas como os Estados nacionais tinham poder para tanto. Agora, porém, com o avanço da tecnologia, ações isoladas são capazes de causar estragos tremendos. Com estratégia bem urdida, três aeronaves de porte grande se converteram em armas gigantescas para matar e ferir. Que Deus proteja a Terra, porém, para que iniciativas como essa, que hoje se restringem a ataques suicidas na pilotagem de aviões ou carros-bombas não passem, eventualmente, para o uso de armas nucleares e bacteriológicas. Em outras palavras, revela a urgência com que medidas de segurança e reversão da atual crise internacional devem ser tomadas, de modo efetivo e profundo, sob pena de ser posta em risco a sobrevivência da espécie.
Então, seria o terror? Como podemos nos prevenir de tudo isso?
Obviamente que os mecanismos de defesa das nações vão se sofisticar a níveis atualmente desconhecidos. Mas, em tese, nenhum sistema de defesa é invulnerável, o que esta experiência amarga deixou bem claro, com a ironia do centro de defesa da maior potência bélica do planeta em ruínas chamegantes, diante das câmeras de todas as televisões da Terra. Aos procedimentos militares de rotina para tal circunstância devem-se somar outras, de iniciativa religiosa, espiritual, cultural, fazendo-se uso dos meios de comunicação de massa, para atingir o coração dos povos e dos indivíduos em particular, conduzindo as nações para a paz e a busca harmônica da prosperidade comum. Faço essa assertiva de modo categórico, ainda que soe piegas para aqueles que se acostumaram a lidar com os problemas prementes do mundo material. Mas devo afirmar, com a mesma segurança, que quaisquer iniciativas que desconsiderarem o coração do ser humano redundarão em malogro, por pecarem em superficialidade. A etiologia profunda das questões sócio-político econômicas jazem na consciência humana individual, por mais que a externalização da análise, propugnada pela cultura vigente deplore tais tipos de elucubrações. Evidentemente que palavras não serão bastantes, é óbvio. Iniciativas de ordem político-enconômica deverão ser tomadas, no intuito de debelar e, de modo imediato, arrefecer, as discrepâncias gritantes e desumanas de distribuição de renda em todo o globo. Mas reforçamos a importância de se instilarem valores novos na mente popular por meio do uso consciente e maciço da mídia nesse sentido, a fim de que, com a conscientização das massas, a opinião pública lentamente pressione seus governos e os governos, por sua vez, também encontrem respaldo nas populações, para realizar iniciativas benemerentes de socorro aos países em estado de miserabilidade extrema. É a injustiça grave de muitos com tanto, como nos Estados Unidos (que vivem em estado de desperdício generalizado de alimentos e inúmeros recursos, incluindo os naturais, muitos não renováveis) e outros com tão pouco, como os 340 milhões que sobrevivem em níveis sub-humanos, na África, metade da população do continente, com menos de um dólar ao dia, que fomenta e mantém a psicosfera de ódio e belicosidade em toda parte.
De modo imediato, o que se pode fazer? O que cidadãos, organizações e governos podem fazer diante desse quadro?
Refletir e agir. Um dos maiores símbolos do capitalismo veio por Terra. Isso se assemelha à Queda da Bastilha, não é verdade? E aquele evento foi um momento símbolo do início da Revolução Francesa. De modo algum estou pretendendo dizer que se trata de ocorrência que terá as mesmas proporções de implicações que a do fatídico 14 de julho de 1789, mas, de certa forma, uma tragédia de proporções muito maiores e com conteúdo simbólico e psicológico muito mais poderoso aconteceu nessa terça-feira 11 de setembro, que nos exige cuidadosa ponderação. O que vai de errado no sistema planetário de organização social, econômica e política? O que vai tão errado a ponto de fazer colapsar os maiores ícones (o do plano comercial e o da esfera política) do poderio norte-americano, a primeira verdadeira potência hegemônica do planeta, na História da Humanidade? O que se deve fazer, de imediato, no sentido de sanar essas chagas obviamente muito graves? Cabe a cada cidadão refletir em suas relações com o dinheiro e com o poder, nas interações entre diversos segmentos sociais, principalmente no trato com aqueles que se convencionou colocar em posição hierarquicamente inferior. Há uma severa crise de significado em todo o mundo. A Humanidade terrícola carece de propósito e de uma grande visão. Uma visão que confira sentido ao caos da vida ultra-dinâmica moderna, que lhe dê uma finalidade, uma razão de ser. É hora de um novo movimento de renovação planetária surgir, assim como houve aquele desencadeado com a Queda da Bastilha e que, a despeito dos retrocessos provisórios que lhe seguiram, disseminou por toda a Terra os ideais de fraternidade, igualdade e liberdade, criando ambiente propício para a instauração das primeiras democracias do orbe.
Que tipo de nova onda civilizatória seria essa? Poderia antecipar alguma coisa a seu respeito?
Sim. Será uma ordem social que possibilitará a todos o bem estar mínimo, a justiça e a equanimidade elementares que foram propalados, no século das Luzes, pela Revolução Francesa e que, até hoje, não foram totalmente cumpridos nem mesmo nos países ricos. Chegou a hora da verdade. As incoerências e injustiças, ao menos as mais severas, serão pouco toleradas. Mais que, todavia, uma concatenação melhor dos recursos materiais e seus meios de extração, produção e criação, tratar-se-á de uma revolução que estenderá seus tentáculos mais firmes no campo da especulações filosóficas e políticas mais profundas que aturdem o ser humano. Idéias como paz, sentido para viver e amor serão conceitos essenciais para essa nova ordem mundial, ou não poderá haver nenhuma mais, já que a sobrevivência da civilização humana e de toda a biosfera planetária dependem dessa mudança dramática e profunda de valores, princípios e paradigmas.
Isso parece utópico. Como vamos conseguir isso?
Não é tanto quanto parece. Grandes mudanças acontecem em pequenos espaços de tempo, assim como os saltos quânticos acontecem no interior dos átomos. Em poucas décadas um Japão arcaico se industrializou, entre meados do século XIX e início do século XX. O Brasil transubstanciou-se de uma nação agrícola para uma industrializada, no espaço de três décadas, no período 1950-1980. O Muro de Berlim foi posto a baixo e a União Soviética esfacelou-se, deixando perplexos os mais perspicazes analistas políticos do mundo. Ou seja: quando certas mudanças importantes têm que acontecer, ainda que contra as expectativas do possível, elas acontecem. Quando, todavia, propomos essas mudanças substanciais, postulamo-las para as próximas décadas, e não para logo num sentido literal. Digamos que sugerimos que essas modificações basilares devem tomar o cenário internacional, em seus primeiros desdobramentos, já na primeira metade do século XXI. Uma transformação na mentalidade planetária, numa era de informações e comunicações tão rápidas, massificadas e intensas, não me parece uma proposta visionária. Trata-se de uma questão de visão, vontade e determinação, para levar adiante o projeto de mudar o padrão de consciência do planeta, de modo deliberado e planejado. Isso vem ocorrendo no transcurso dos séculos de modo automático, por assim dizer; apenas devemos fazer isso agora conscientemente. A Inglaterra vitoriana e os Estados Unidos e Brasil escravocratas do século XIX nada têm a ver com os mesmos países na virada para o Terceiro Milênio. E agora, as mudanças são muito mais rápidas e também mais profundas. Façamo-las acontecerem, de modo voluntário e programado, em função de objetivos de concórdia e felicidade gerais.
Mais alguma coisa a dizer sobre tudo isso, Anacleto?
Não. Precisamos partir para a prática. É hora de agir mais e especular menos.
(Diálogo travado em 11 de setembro de 2001.)