Benjamin Teixeira
pelo espírito
Anacleto.

Anacleto, existe o risco de uma guerra a partir desse conflito, não é?

Sim. Os acontecimentos deixam isso claro: a possibilidade é muito concreta.

Então, existe envolvimento de algum Estado?

Isso se pode deduzir, pela observação dos fatos. Ao mínimo, na condição de acobertador, existem um ou mais estados envolvidos.

E, diante desse novo quadro, em que o terrorismo toma feições de guerra, quiçá guerra mundial, agora que até a OTAN se colocou em quase estado de guerra, em aliança aos Estados Unidos, o que você teria a nos dizer?

Reforço o que disse na ocasião anterior: nunca os indivíduos e pequenos grupos puderam fazer tanto mal. Isso apresenta o reverso da medalha: o enorme poder que pessoas isoladas e em grupos possuem para fazer o bem. A solução do atual conflito cultural-étnico-econômico-político está no coração do ser humano. Não adianta serem tomadas medidas drásticas, porque enquanto houver radicalismo, fanatismo e ódio, a fogueira da destruição estará acesa, em proporções gigantescas.

O que você sugere, além do que você nos disse, no início da semana, a respeito dessa crise?

Que cada cidadão apresente sua contribuição mínima à paz, todos os dias. Que cada mulher, homem e criança ore pela paz do planeta, que procure sanar seus próprios focos de desarmonia em casa, no ambiente de trabalho, nos círculos acadêmicos, na via pública. Que os conflitos sejam dirimidos, por meio da busca da confraternização, da transcendência do confronto de interesses, por um espírito de cooperação mais amplo, que englobe as necessidades de todos. Isso deve se tornar hábito no dia a dia, a fim de que se espraie uma psicosfera de paz, como uma bendita epidemia de otimismo, de amor, de esperança, de felicidade. Pequenos gestos de fraternidade: um olhar afetuoso, um aperto de mão, um minuto de atenção, um abraço, um telefonema amistoso, um e-mail gentil, uma carta terna podem fazer milagres, em efeito dominó, sobretudo quando realizados sistematicamente e a partir da iniciativa de uma massa de pessoas, ao mesmo tempo.

Mais alguma coisa acha necessário dizer?

Que esse cidadão comum que terá acesso a nossos escritos não mesnospreze seu poder de ação, por julgar muito diminuta sua possibilidade de contribuição para o problema global. O paradigma holográfico, o novo parâmetro filosófico das ciências, diz que não só a parte está no todo, como o todo está na parte. Gandhi disse certa feita: um único homem que se converta ao verdadeiro amor pode aplacar o ódio de milhões. A transformação genuína e profunda de uma pessoa pode ter efeitos extraordinários, em cadeia, em torno de seus passos, afetando milhares de outros corações. Sem perceber, por vias diretas ou indiretas, cada ser humano tem um poder de influência sobre milhares de almas, encarnadas e desencarnadas, todos os dias. É muito importante que o homem e mulher comuns tenham bastante consciência desse seu poder excepcional, quase sempre ignorado, tanto de fazer o bem, como de promover o mal, até mesmo por sua negligência. Como disse Jesus: o Reino dos Céus está dentro de Vós. Essa passagem dos Evangelhos pode perfeitamente ser aplicada para essa reflexão. O Reino de Deus não se implantará na Terra por meio de decretos ou iniciativas econômico-sociais, mas pela transformação verdadeira dos valores, da forma de interpretar e de sentir o mundo de cada ser humano, o que terá efeitos diretos em sua conduta e em sua interação com outros seres humanos. Nesse busílis é que se dará a verdadeira e definitiva revolução: no coração de cada habitante do planeta.


(Diálogo travado em 14 de setembro de 2001.)