Benjamin Teixeira
pelo Espírito Temístocles.
Século I.
“Como Ele ousa curar os enfermos e até ressuscitar os mortos?
Como Ele Se atreve a Se dizer Filho de Deus?
Como Ele Se digna a dizer-nos ‘hipócritas’, porque seguimos as tradições da nossa religião, da lei e dos costumes de nossa sociedade?
Crucifiquem-n’O!”
E Jesus foi morto na cruz.
Século XV.
“Como ela ousa vestir-se de homem e dirigir homens em campo de batalha?
Como ela se atreve a dizer que, mesmo assim, fala com os santos, se nossos sacerdotes não dialogam com os anjos?
Como ela se digna a se colocar como salvadora da pátria, se não consegue sequer seguir as normas sociais para uma mulher?
Queimem-na viva!”
E Joana d’Arc foi morta na fogueira.
Século XIX.
“Como ela ousa dizer que, ignorante e simplória, confabula com a Própria Virgem Maria, em cima de uma lixeira?
Como ela se atreve a enfrentar as autoridades civis e eclesiásticas, quando recebeu ordem de se calar, insistindo em seu testemunho de ter visto Maria Santíssima?
Como ela, uma menina, se digna a manter seu testemunho, falando com uma Mulher do Céu, quando os homens ‘santos’ do mundo não falam com o Homem Divino no Céu?
Como a época das fogueiras se foi, torturem-na psicologicamente, tanto quanto puderem!”
E, emocionalmente exaurida, Bernadette Soubirous morreu de câncer nos ossos, aos 36 anos inconclusos.
Ainda no século XIX.
“Como ele ousa afirmar que dialoga com o mundo espiritual, na era da vitória da ciência material?
Como ele se atreve a dizer-nos orgulhosos, em vez de reconhecer que somos realmente superiores à ralé ignorante e manobrada pelos que ‘têm cérebro’?
Como ele se digna a persistir em declarar que estamos errados e que ainda vamos pagar por isso?
Ridicularizem-no, tanto quanto puderem!”
E Kardec explodiu um aneurisma no cérebro, aos 65 anos, sendo sua obra varrida da França num espaço de meio século.
Século XX.
“Como ele ousa, mestiço, analfabeto e efeminado dizer-se canal do Seres Superiores?
Como ele se atreve a continuar impecavelmente reto, apesar de termos certeza de ser ele uma aberração?
Como ele se digna a nos calar com sua postura irrepreensível e santa, década sobre década, até o fim?
Já que não há jeito, digamos que é impossível mais alguém ser assim, que só ele poderia aguentar tanta pressão, e esperemos que ele morra. O que ele representa morrerá com ele.”
E Chico Xavier morreu sem sucessores, num movimento espírita com lideranças divididas e sem carisma.
Século XXI.
“Como ele ousa dizer que não importa ter ou não ter religião?
Como ele se atreve a se declarar publicamente gay, e ainda defender que qualquer um pode se dedicar ao bem, espalhando a mensagem do amor e da sabedoria?
Como ele se digna a, mesmo assim, continuar canalizando Seres Angelicais, insinuando que somos hipócritas, lembrando que Jesus disse o mesmo dos moralistas e religiosos como nós; que Joana d’Arc foi morta por sacerdotes de sua pátria, por ser mulher, gay e médium; que Kardec foi ridicularizado por ser racional até o fim e vanguardista sem medidas; e que Chico foi isolado de todos, para que não influenciasse ninguém mais a prosseguir em seu exemplo impoluto de homem inteiro e santo até o último momento. E, para completar, ainda se defende, quando atacamos sua obra, sem posar de santo (como os que encenam humildade – os quais podemos lançar ao descrédito) e sem se preocupar em parecer arrogante (o que nos bloqueia a agressividade, porque ele simplesmente mostra nossos pontos fracos, sem vacilar), para proteger a Causa destes tais Anjos que ele diz representar?
Como não há meios de fazê-lo calar-se, e convencer toda a gente de juízo que o ouve, demonizem-no…
Vamos dizer que ele é um canal do mal, como o fizemos ao Cristo. Taxemo-lo de degenerado, como fizemos a Joana d’Arc. Ridicularizemo-lo, como fizemos a Kardec. E ainda vamos isolá-lo de todos, como fizemos a Chico, julgando-o uma pessoa muito orgulhosa e perturbada, com um trabalho sem nenhuma importância e que encolhe todos os dias, só não aos olhos dele, megalomaníaco e manipulador!
Assim, mantemos nosso controle sobre a massa de manobra que atende aos reclamos do ego e que perpetua o império do mais forte sobre o mais fraco, inclusive do mais astuto sobre o mais ingênuo, até nos ambientes religiosos e no reduto sagrado dos próprios lares.
Jamais compactuaremos com quem tenta libertar pessoas da manipulação da culpa por não se enquadrarem nas expectativas da família, da sedução da vergonha por não se encaixarem nos esquemas sociais, sugerindo a todos que busquem ser felizes, em vez de se renderem escravos dos interesses de uma minoria mentirosa!…”
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(Texto recebido em 19 de agosto de 2009. Revisão de Delano Mothé.)
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