Benjamin Teixeira
pelo espírito
Roberto.

Meu caro companheiro da condição masculina:

Às vezes a mulher é um “saco” mesmo. Fala pelos cotovelos… e, quando a gente tenta sobreviver ao falatório, distraindo-se com outra coisa, embora ouvindo… ela logo diz: “’Tá vendo? Você não me dá atenção!”. E aí não adianta dizer que “‘tava ouvindo tudo”, porque ela vai dizer que não estava dando a devida atenção, mas “só ouvindo com os ouvidos”. E a gente se pergunta se por acaso se ouve com os olhos, não é? Só porque os olhos estavam na TV, enquanto ela desfilava a centésima lauda da conversa…

Bem… A gente tem que mostrar que é homem, que é forte, que não chora, que paga as contas. Tem vergonha de se mostrar fraco. Fica “p” da vida quando ela diz que a gente não cumpriu o prometido… e que “não é mais aquele”… (O que ela quer dizer com isso? “Eu dô um duro danado na cama, p’ra deixar ela satisfeita… Será que ela ‘tá me achando insuficiente? Pô… cara… que tragédia!” E… pior… não se tem com quem desabafar, n’é? Vai falar com quem? Com o Zé? Imagina só… “Mané não é mais aquele!”… Vai virar lema de chacota na turma). Mas, fazer o quê, n’é? É a vida: a gente tem que ouvir calado uma afronta dessas… e fazer de conta que não ouviu nada…

Bem, mas eu vim aqui foi p’ra dizer que as coisas ‘tão mudando. A gente tem mesmo que dividir as contas com a patroa, “rodar a baiana” (é isso mesmo, velho!) quando ela quiser se escorar feito uma parasita, “a la” dondoca dos tempos antigos, e, por fim, dar uma de bicho morto quando ela quiser e a gente não quiser… Afinal, elas não falam tanto em dor de cabeça? Homem que é homem tem direito também a férias!

Por fim, queria dizer que não vivemos sem elas, mas que não devemos apenas pagar as contas (ou dividir), nem dar bronca nos meninos (apenas). Temos que aprender com elas a ser amorosos, carinhosos, a ouvir com paciência, olhando nos olhos, a pôr o filho homem no colo, tanto quanto botamos a filhinha do papai, a dar um beijo no primogênito assim como damos na caçulinha e dar o ombro p’r’ele chorar, assim como faz a mãe. Já foi o tempo do homem-troglodita, do John Wayne do Cariri, a fazer pose de machão toda hora, como se mil câmeras ocultas nos avaliassem a virilidade a todo tempo. Chegou a hora de sermos também intuitivos e bem relacionados como as mulheres, antes que elas tomem a nossa dianteira p’ra sempre no mercado de trabalho. Chegou a hora de sermos gentis e maleáveis como elas, de sermos sensíveis às necessidades dos outros, a “sacarmos” o clima do ambiente como elas, a fim de nos defender e posicionar com mais acerto e eficiência, e, principalmente, a nos fazermos simpáticos e amados como elas conseguem tão brilhantemente. Porque, meu chapa, ou fazemos isso, ou, em bom Português, estamos “ferrados”! E não vai ter cara-dura ou disposição p’ro serviço que contorne nosso fracasso. E aí, Zé, é chorar sobre o leite derramado, e assistir à vitória delas, enquanto se chupa o dedo; vitória no trabalho, onde elas são as líderes intuitivas e simpáticas tudo fazendo e acontecendo; vitória em casa, onde elas são o vértice de influência e amor, em torno do qual circundam os filhos e nós mesmos…

Chegou a hora de arregaçarmos as mangas e nos atualizarmos… Homem que é homem, hoje, não pode ser homem demais. Tem que ser um pouco mulher, um pouco sensível, um pouco intuitivo, um pouco social, um pouco tudo que não nos foi educado sermos, mas que ou desenvolvemos, ou não sobrevivemos no mundo moderno!…
Inclusive porque não é isso que nos ensinam: que somos espíritos eternos, que não “somos” propriamente homens ou mulheres mas apenas “estamos” homens ou mulheres? Que todos estamos fadados a ser anjos e que os anjos reúnem, em si, as qualidades de ambos os sexos? Pois é, cara, a questão é que as mulheres estão aprendendo muito rápido a nossa parte, e nós estamos muito refratários em aprender a delas. É hora de lutar p’ra compensar o atrasado! Antes que seja tarde demais e sejamos só a escória da humanidade e elas sejam as insuportavelmente vencedoras em tudo!

(Texto recebido em 26 de maio de 2003.)