pelo espírito Eugênia.
O Espírito Eugênia pediu que transcrevêssemos o item 3 do capítulo VII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, que coincide com uma passagem do Evangelho sinóptico de Mateus, 18:1-5, e depois teceu os comentários que se seguem ao trecho citado.
Por esta ocasião, os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram: “Quem é o maior no Reino dos Céus?” Jesus, chamando a si um menino, colocou-o no meio deles e respondeu: “Digo-vos, em verdade, que se não vos converterdes e tornardes quais crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Aquele, portanto, que se humilhar e se tornar pequeno como esta criança será o maior no Reino dos Céus. E aquele que recebe, em meu nome, a uma criança, tal como acabo de dizer, é a mim mesmo que recebe.”
Vivemos numa cultura que supervaloriza as questões do corpo, entre elas o comportamento no plano físico e social e outros elementos relacionados ao organismo e às posses materiais (e posições sociais correlatas), como a adultidade (jovem), a heterossexualidade (por ser função reprodutiva de corpos), a raça (branca ou amarela de preferência), a beleza (quanto maior melhor), a compleição física (robusta e que inspire saúde), a cor dos olhos (clara, é claro), e ignora-se ou se põe em segundo plano tudo que diz respeito ao espírito e que condiga com fraternidade, amor e proteção, como a infância ou os envelhecidos do corpo, os que portam deficiências físicas, os que não são abençoados com beleza especial, os que pertencem a etnias (ou mesmo apenas mestiços) que não são tão valorizadas pelos padrões estéticos preconceituosos da cultura. Tal tendência indica prevalência de lamentável superficialidade e pobreza de raciocínio e sentimento nas massas, revelando que a maior parte dos componentes da população possui personalidades pouco desenvolvidas não só moral como também intelectualmente, presas mais à aparência do que à essência do que observam e com que interagem, assim como alguém que lê um texto e não consegue interpretar o conteúdo, preocupado apenas com o desenho da impressão das letras sobre o papel branco. Esta é a análise psicológica da questão.
Por outro lado, em termos espirituais-religiosos, Jesus chamou atenção para este fato: que veio para os enfermos, os perdidos, os desesperados, os desgraçados, os perseguidos, os desprezados, os desorientados, e não para as elites supervalorizadas de qualquer bem correlacionado à matéria. Ou seja: veio para os que merecem e precisam de misericórdia, que, em última análise, incluem todos, até mesmo os perversos e maus-caracteres, que são os mais carentes entre todos; mas, obviamente, em sentido mais pragmático, aludiu o Mestre aos que sugerem uma abordagem piedosa já de modo imediato: os sofredores e necessitados maiores do mundo.
Se você quer ser cristão, na mais genuína conotação do termo, pelo coração e não pelas convenções, cristão para Jesus e não para a sociedade, não faça conta de simpatias imediatas ou de benefícios pessoais que, respectivamente, alguém lhe insufle ou pareça trazer para você. Procure viver a piedade, na mais extrema acepção da palavra, e, assim, incline-se a beneficiar e abençoar com o seu convívio e afeto os que não poderão retribuir o que lhes tiver a ofertar.
São Francisco de Assis, à falta de ungüentos apropriados, limpava as feridas de chagados com a própria língua.
Madre Tereza cuidava pessoalmente de crianças doentes e sujas, como se fossem rebentos do próprio corpo.
Chico Xavier convivia com leprosos e outros doentes estigmatizados, como se estivesse em meio a anjos, com deferência e carinho ímpares.
Irmã Dulce cuidava de crianças enjeitadas pela sociedade, muito além do que seu frágil organismo permitia, com três horas de sono recostada a uma cadeira, com apenas 35% da capacidade pulmonar ativa, com quase oitenta janeiros de vida física altamente desgastante.
Você não repetirá o gesto magnífico destes seres especiais que aportaram ao mundo físico, mas pode fazer, em medida menor, o exercício da caridade, da fraternidade, do perdão, ou, ao menos, da paciência, da tolerância e da gentileza, a fim de que a espiritualidade sublime comece a fazer morada em seu coração, e uma nova era de paz e de equilíbrio íntimo brinde seu espírito, com prenúncios de uma alvorada nova de plenitude e de paz.
Não faça conta do que pode ganhar ou perder em relacionamentos. Dê de si largamente, e esteja certo de que não só estará se introduzindo no Reino dos Céus, mas o próprio Reino dos Céus descerá até o seu coração, fazendo o paraíso estar com você, onde você estiver, com quem estiver, porque você será a própria ponte viva entre o Céu e a Terra, disseminando bênçãos e graças, por onde passar.
(Texto psicografado por Benjamin Teixeira, em 14 de março de 2006. Revisão de Delano Mothé.)