Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
O hipócrita observa o esforçado sincero e, vendo-lhe o momento de fraqueza ou de vacilo, no empenho de acertar, afirma, para si, seguro, quando não propala aos quatro ventos: “é um velhaco completo”.
O interesseiro percebe as necessidades humanas da alma santa, quando encarnada, e declara, venal e inescrupulosamente: “Vê que ela não é uma santa?” E, logo em seguida, notando que existem elementos que indicam virtude excepcional no objeto de sua malícia, afirma, categórico: “Vê que é um monstro, porque quer se passar por santa?”
O criminoso de baixo calão observa os gestos sinceros de amor em alguém, e supõe flagrar venalidades inconfessáveis, desmerecendo as afeições mais puras.
O cúpido não consegue divisar desapego ou ideal em ninguém, em tudo acreditando notar intenções de ganho material ou pessoal.
Diante disto, se percebe que alguém quer caprichos pessoais atendidos, para vê-lo como digno, deixe ir a pessoa, ao modo dela, com as opiniões que quiser tecer a seu respeito: está louca e nem tem noção de quanto, preferindo ver doente o mundo, para não reconhecer que está enferma, tomada pela fúria letal do egoísmo e do orgulho conjugados. Prefere de todos se afastar, ou unir-se aos pérfidos como ela, para não imaginar que tenha que melhorar o caráter dominador e a personalidade narcisista que porta.
Aquele que não consegue ver bondade em ninguém, que não logra entretecer relações sólidas e profundas, por isso duradouras e sérias, com pessoa alguma, fala muito de si, com tal peculiaridade relacional. Quem não tem família biológica ou espiritual, enxergando fascínoras ou frívolos em todos com quem convive, por mais que alguns meses, bem revela o que vai em seu coração. Então, que esta pessoa siga seu caminho, para que, a duras penas, aprenda a respeitar e aceitar os outros, com suas características personalíssimas, em vez de tentar submetê-las, ao talante de sua vontade caprichosa e tirânica, sob condição de se afastar delas, vendo o monstro que é nos outros.
Há de fato lados ruins em todas as pessoas, mas também lados bons. Isso é um truísmo elementar. Há mesmo aquelas em que a parte malévola é superior em força à benévola. Ninguém precisa ensinar isso a uma criança em tenra idade. Mas, mesmo na Terra, aproximadamente metade da população tem mais elementos positivos que negativos na personalidade. Se alguém só vislumbra abjeções em todos, não está vendo nos outros, mas espelhando a si mesmo no que supõe apreender no mundo externo. Para isso, faz uso, inconscientemente, de diversos mecanismos de defesa do ego, de modo tão profundo e intenso, que poderia jurar estar vendo verdades concretas, como o chão em que pisa, e não fantasias projetadas da própria mente enferma. Assim, distorce o senso de proporções, filtra o que vem de fora, aumentando o que não presta nos demais (quando não projeta ou cria, com suas neuroses delirantes), e, por fim, como a cada um é dado conforme “as próprias obras”, nos dizeres de Jesus, acaba intoxicado e envenenado pela própria maldade, correndo espavorido dos semelhantes, sem se dar conta de que leva o dragão que teme dentro de si próprio.
Nem vê como não tem consideração pelos laços de afeto que cria, nem pela preocupação de ninguém: muito pelo contrário – tem prazer em espalhar o fel do mal-estar e, se possível, pintaria o mundo de negro, atassalhando reputações dignas e destruindo as esperanças e a fé de todos, para que todos se sintam mal como elas se sentem. Com isso, entrementes, só atrai mais sofrimento ainda para si mesmo, ligando-se a almas tão doentes ou mais ainda que ele, por afastar as verdadeiras amizades, pela conduta totalmente descomprometida e irresponsável nos relacionamentos. Gente sã, naturalmente, afasta-se ou não procura quando abandonada por quem se mostra tão “estranho”.
Ore por aqueles que não o compreendem, e torça pela sua paz, sinceramente, onde estiverem. Ironicamente, você atrairá ainda mais bênçãos para sua vida, com este estado de espírito, ao passo que eles, sob o signo de suas mágoas e raivas medonhas… andarão com a sintonia do mal que preferem focar. E, por outro lado, concentre-se, a maior do tempo, em fixar a mente nos amigos, nos eventos construtivos e nas maravilhas de Deus em sua existência, deste modo potencializando-os em seus caminhos.
Você é feliz, porque já vê o bem maior nas pessoas. Você já é feliz, porque, com esse padrão interno, atrai para perto de si pessoas que, como você, preferem ver o melhor em cada um, porque elas próprias já têm o melhor como aspecto dominante nelas mesmas. Quanto aos adversários em surto, todavia… Que a Divina Bondade deles se apiede, porque não sabem a seqüência e a dimensão de carma e de dor que programam para si, nesta e em próprias existências, dentro e fora do corpo físico.
(Texto recebido em 15 de fevereiro de 2005.)