Benjamin Teixeira
pelo espírito
Mike(*).

Eu nasci no início do século XX. Tempos dourados. O cinema, a telefonia, as viagens aéreas, o automóvel usado em massa, os eletrodomésticos – tudo era motivo de deslumbramento. Para mim, que nasci nos Estados Unidos da América, na região riquíssima de Nova York, o céu, realmente, parecia ser o limite.

Talvez até tivéssemos levado, inconscientemente, essa idéia ao pé da letra. Foi nesse estado de espírito que assisti à inauguração do mais famoso arranha-céu da história: o Empire State Bulding. Aquela torre gigantesca, a desafiar a gravidade, mais de cem andares, quando era raro se construir qualquer coisa com mais de três pisos, era, de fato, um gesto de ousadia, mesmo de atrevimento do povo que parecia capaz de tudo. Corria o ano de 1931 e a Grande Depressão nos fazia sofrer o primeiro baque em um orgulho que praticamente nunca havia sido posto em xeque.

Eu fui, porém, à Guerra de 39. Já estava em idade relativamente avançada para ser convocado, mas, como militar e um ás da aeronáutica, não foi difícil, apesar dos quase quarenta anos, participar do grande conflito mundial.
Nunca mais seria o mesmo. Ver a carnificina de perto, saber da morte de meus companheiros, um a um, sentindo-me impotente para fazer qualquer coisa para deter aquela colheita cruel de vidas, era realmente angustiante. Muito embora poupado do pior (estar no chão, nas forças do Exército, que participaram da chacina bem mais de perto), pela condição de aeronauta, sofri a depressão e a frustração de ser um combatente e sentir, na pele, o quanto é inglória a guerra, o quanto é absurda toda busca de supremacia, toda arrogância hegemônica.

No final da vida, assisti, ano sobre ano, à humilhação coletiva que padecemos no Vietnã, e ainda presenciei os primeiros anos da terrível crise do petróleo, desencadeada em 73. Mas eu mesmo era uma vítima deplorável de nossos vícios e de nossa decadência de costumes. Estava com quase oitenta anos e quarenta quilos acima do peso. Obeso como um suíno, nada mais em mim lembrava o rapaz audaz e ágil que fora, quarenta, cinqüenta anos antes. Estava desiludido, comigo e com a América, e me recordava, com freqüência, do Império Romano em sua fase de declínio, com seu exército de homens gordos, devassos e alcoólatras. Olhava-me no espelho e me via como uma nova versão daqueles longínquos guerreiros latinos degenerados e me entristecia ao me recordar do ideal do sonho americano, àquela altura convertido, para mim, em trágico pesadelo.

Recebi permissão de voltar para, em pinceladas ligeiras, contar minha história. Fui homem, branco, protestante e o que se costuma chamar, no plano físico, de herói de guerra, num tempo de florescência da maior nação, do maior império que até hoje a Humanidade viu surgir. E nada disso significou alguma coisa, quando parti para o Lado de Cá. Estou certo, todavia, de que, por muitos anos ainda, os Estados Unidos da América continuarão sendo o líder de um mundo em desagregação. Tomamos novo hausto, na última década do século XX, que contemplei da Dimensão de Cá, mas a maior crise também de nossa grande nação está por vir. Seremos testados ao limite de nossas forças, de nossas convicções, de nossos princípios e ideais. Nunca foi tão importante a necessidade de nos recordar da grande insígnia da Constituição de 1787, que nos diz que é considerado axiomático o direito de todo ser humano à vida, à liberdade e à felicidade e que cabe aos Estados o dever de proteger esses direitos inalienáveis do ser humano.

Os gêmeos foram abatidos, de forma dramática e espetacular. Fomos feridos diretamente em nosso orgulho, mas essa nação se levantará das cinzas… mesmo porque bem longe está de ser reduzida a cinzas. Pagamos, com a grande tragédia, o carma coletivo que tínhamos, com relação ao ataque a Hiroshima e Nagasaki. O assalto nuclear era completamente desnecessário para finalizar a Segunda Grande Guerra, e sabíamos disso. E, assim, como 70.000 pessoas morreram, imediatamente, vítimas das duas bombas de 45, agora 70.000 vidas humanas poderiam ter sido ceifadas, caso as torres de Manhatam estivessem em seu pico de movimento e também se ruíssem de imediato, o que seria razoável esperar, já que não haviam sido projetadas para sofrer a dimensão do impacto que sofreram. Em vez disso, somente cinco mil perderam suas vidas, como um sinal da Misericórdia Divina, por termos salvo a vida de milhões de criaturas, no correr do Século XX, afastando o mundo de ser submetido ao Império de Hitler, bem como dos horrores de outra besta encarnada: Stalin. Como defensores da liberdade e da democracia em todo o globo, fomos poupados de algo pior.

Cabe-nos, porém, agir em uníssono, em nome da defesa dos princípios e dos ideais em que acreditamos. A Besta está à solta. E terá seu tempo para criar perturbações de todas ordens e de todas as proporções. Cabe-nos, não só aos meus compatriotas no corpo, mas a todos os indivíduos de todos os povos civilizados da Terra, unir forças, para combater a Besta da Barbárie, e, deste modo, proteger o patrimônio de milênios de evolução social e política, cultural e econômica, que, pela primeira vez na História da Humanidade, prepara-se para se espraiar por todos os povos. O mal não está nos Estados Unidos, mas na falta de distribuição de renda. O mal está em todos não serem como os EUA. Somos ainda um povo viciado e arrogante, mas, em última análise, um povo bom, cordato, hospitaleiro e trabalhador, interessado no progresso e na confraternização entre todos os povos e nações, ou não seríamos um país em que mais de 80% da população é constituída de imigrantes ou de descendentes deles.

Que Deus nos abençoe e proteja a todos! Que Deus salve a América!

Mike (*).

(Texto recebido em 18 de setembro de 2001.)

Nota do espírito Gustavo Henrique.


(*) Mike é residente da cidade astral de Andrômeda, nas circunvizinhanças de Aracaju, capital de Sergipe. Há mais de dez anos, reside no espaço extra-físico brasileiro, em projetos de intercâmbio entre as duas nações americanas, atualmente em desdobramento, por iniciativa da Espiritualidade Superior.