Benjamin Teixeira
por espíritos incógnitos.
Amigos espirituais, gostariam de falar sobre algum assunto em particular?
Sobre o desejo.
O que teriam a nos dizer sobre o desejo?
Que é forte impulso da alma que pede vida e transcendência, porque não há vida sem transcendência, e cujo propósito original pode ser totalmente desviado e desperdiçado.
Não é o que dizem as escolas modernas de psicologia.
Não é o que dizem as clássicas. Mesmo a ciência psicológica no plano físico já reconhece que existem mais necessidades humanas que meramente aquelas que são sugeridas diretamente pelos desejos. Se alguém se detém numa única esfera de necessidades, frustra-se, em todas as outras, podendo destruir, inclusive, por fim, a única fonte de prazer em que focou sua atenção.
E o que a pessoa deve fazer para seguir o caminho certo do impulso, querendo dizer: o caminho certo para onde o impulso do desejo está propelindo-a?
Perguntar-se, em profundidade, se quer aquilo que é diretamente sugerido pelo desejo momentâneo. Assim, alguém que deseja sexo pode estar carente de amor, tanto quanto quem deseja comida pode estar terrivelmente carente de conhecimentos. É por isso que, após saciado um desejo, uma forte sensação de vazio costuma esbater as pessoas – indicando que a real necessidade indicada por aquele desejo não foi atendida, uma necessidade mais profunda, mais sutil, que poderia ser apreendida por uma boa capacidade de ouvir-se. Os impulsos não costumam ser bem traduzidos, porque os indivíduos não conhecem a linguagem da própria alma. Quem é ignorante no trato consigo mesmo paga um preço muito alto por isso. Exercitando-se com regularidade no hábito de auscultar-se, logo o indivíduo notará que, logo abaixo do desejo, uma sensação sutil de apreensão acompanha-o, revelando não ser aquele o verdadeiro ímpeto do espírito, chamando o indivíduo a apurar as percepções e descobrir-lhe o conteúdo informacional oculto e, então, canalizar o impulso no sentido certo. Com o tempo, com prática, esse impulso mais profundo ou esse propósito mais profundo do desejo é imediatamente divisado, recebendo imediata atenção e atendimento por parte do auto-observador.
O que vocês sugerem àqueles que têm grande dificuldade em domar os próprios impulsos?
Que aprendam, primeiramente, a serem felizes, para que depois procurem o prazer. O mal dos que gostam de atender aos reclamos dos próprios desejos é suporem que prazer é sinonímia de felicidade, de benefício pessoal, de vantagem, de ganho. Prazer é uma dos vetores da mente, a conduzirem o indivíduo ao acerto nas decisões. Um único, entre muitos outros como: intuições, conhecimentos, razão, bom senso, fé, espiritualidade, valores morais. Quem escuta tão-somente a voz dos instintos – muitas vezes já degenerados pelos vícios – rebaixa-se a categoria inferior à dos animais, porque os irracionais nesse nível estagiam por se tratar de seu plano de desenvolvimento, ao passo que o ser humano, dotado de maior complexidade psíquica, fazendo isso, gera patologias instintuais graves, por trazer ao nível dos impulsos fisiológicos premências que não podem nesse patamar serem saciadas.
Que aprendam a dizer não a si mesmos – a capacidade de abnegar-se é uma das maiores fontes de prazer espiritual e segurança, por o indivíduo pressentir que tem poder para se dominar sempre que necessário. Que aprendam a adiar gratificações, como hoje propõem os especialistas em “Inteligência Emocional”: que saibam portar-se como adultos de verdade, que têm uma percepção suficientemente abrangente para verem além do momento presente. Que lutem por ativar e desenvolver os potenciais em gérmen que jazem em si próprios e que clamam por desabrochar, por meio dos impulsos afligentes da própria alma, os mesmos que costumam ser interpretados como pedidos a excessos.Que aprendam a orar, meditar, estudar, refletir, sobre as grandes questões da vida e da morte, do ser e do destino, do bem e da verdade.
Quem coloca a mente em um patamar mais alto de reflexão, não fica sujeito às intromissões mesquinhas da perturbação reptiliana do imo de das próprias entranhas. Quem está nesse patamar de desenvolvimento, percebe os impulsos bestiais em si próprio, mas, ao reverso de a eles se entregar, absorve-lhes as forças e transmuta-as na aplicação em atividades construtivas, de acordo com os interesses mais altos do ideal e da felicidade.
Quem não deseja agir, portanto, de modo maduro, terá que pagar o preço pela própria imaturidade que, mais cedo ou mais tarde, tanto mais doloroso quanto mais tarde, compeli-lo-á ao mesmo piso de maturidade que rejeitou por capricho subalterno.
Mais alguma sugestão?
Não.
(Diálogo travado em 10 de junho de 2002.)