Benjamin Teixeira
por espíritos incógnitos.
Amigos espirituais, desejam propor algum tema hoje?
Sim, a fé.
O que nos poderiam dizer sobre a fé?
Que a fé é resultado de convicções bem fundamentadas, a partir de uma mente sensata e sensível trabalhando longamente nas reflexões em torno do Divino. Que todos podem ter fé, se realmente quiserem.
Fé, então, não é acreditar?
Acreditar é quase o anverso de ter fé. Quem acredita pode deixar de acreditar. Quem tem fé, está convencido da realidade de alguma coisa, tem conhecimento de sua existência, por meios seguros de avaliação, análise e percepção. A dúvida, que naturalmente surge, por vício de pensamento ou provocada por acontecimentos do dia a dia, então, ao reverso de eliminar sua presença ou enfraquecê-la, fortalece-a, já que propele o indivíduo a investigar com mais cuidado os canais de observação e raciocínio que o levaram a suas convicções.
Então…
Ter fé não é um sentimento: é o conhecimento de um fato. Tem-se fé na Ciência, hoje em dia, como na tecnologia e nos mecanismos democráticos de poder, porque essas três “entidades”(ninguém nunca apertou a mão da ciência ou da democracia) já deram suficientes provas de serem não só existentes como eficazes para os fins a que se propõem.
Mais algo a dizer?
Que quem não tem fé e qué-la ter que se esforce nesse sentido. As pessoas desejam que a fé aconteça em suas vidas, por uma prova dramática, um fenômeno extraordinário, um milagre excepcional. Isso é uma mistura de preguiça com presunção. Quem disse que alguma potestade do mundo divino está disposta a atender os caprichos de gente que tem que se esforçar para aprender e crescer? Não só não está disposta, posso garantir: não vai fazer nada nesse sentido, por uma questão de dever. Quem está iludido com essas falsas esperanças de um dia receber um sinal fabuloso do céu, a fim de ter fé, está fadado a se frustrar, para que amadureça e tome o caminho certo de reflexão, meditação e busca de contrição genuína. Quando começar a estudar com afinco e tentar conectar-se a Deus com sinceridade, os sinais e as provas, então, começarão a abundar em seu derredor. Não antes disso, porém. A causa vem antes do efeito. O objetivo é o progresso das criaturas e não a instituição do parasitismo delas em relação a Deus.
Então, não há barganhas, nem nenhum tipo de comércio com Deus?
Exatamente, não há. Há pessoas que entendem a relação com Deus desse modo. “Faço uma promessa e serei atendido dessa forma. Coloco o ‘santo’ de cabeça para baixo, ‘de castigo’, e ele ficará daquele jeito até que me atenda.” Isso é patético. Somente por meio da verdadeira espiritualidade, do espírito de contemplação, de contrição e de busca sincera pelo sagrado, Deus se revela.
Podemos dizer, então, que religião desse modo compreendida poderia ser enquadrada no que Marx chamava de “ópio do povo”?
Sem dúvida. E se trata, realmente, de um processo de fuga. O indivíduo está num processo de alienação da realidade, almejando uma saída fácil para os problemas da vida, um atalho para o menor esforço. Deus não tem nada a ver com as questões da imaturidade psicológica no ser humano. Muito pelo contrário: as genuínas experiências de conexão espiritual despontam em caracteres desenvolvidos, em personalidades bem consolidadas e jamais em egos fragmentados, doentes ou inflados. A verdadeira fé, como convicção, exige, para seu surgimento e manutenção, uma intensa atividade intelectual de crítica, auto-crítica e análise isenta dos fatos. Portanto, nada tem a ver com as superstições e crendices ingênuas de mentes pouco preparadas e cheias de delírios neuróticos.
Há daquelas que também declaram ter perdido a fé porque Deus não lhes poupou alguém querido da morte ou por privações mais prosaicas que sofreram.
Isso é mais um indício daquela fantasia narcísica da criança como centro do mundo. Quem pensa assim supõe que o universo deva girar em torno de si, de suas visões de mundo, a ponto de supor que sua tragédia pessoal é maior que a cosmogonia do universo. Se elas não compreendem o propósito de Deus em alguma coisa, deduzem, com tranqüila presunção, que Deus, que, segundo sua loucura e estupidez, deveria se enquadrar em seus valores e expectativas de vida, não pode existir já que não lhes atendeu em algo que elas consideram importante. Não lhes passa à mente, nesses momentos, que o Criador é a Inteligência Suprema do universo e que, é claro, tem razões que fogem ao domínio do ser humano. E se seria absurdo uma criança duvidar do amor da mãe que lhe obriga a ingerir um medicamento, que dizer daquele que declara não acreditar em Deus por o universo não ser um grande pirulito nas suas mãozinhas de criança crescida?
Mais algo a dizer?
Não.