Benjamin Teixeira
po
r espíritos incógnitos
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Desejam abordar algum tema específico?

Sim, a fé.

Vocês falaram já sobre o assunto há mais ou menos duas semanas. Querem mesmo falar sobre isso novamente?

Novos prismas sobre um novo tema é algo importante: dão-lhe uma visão mais completa e profunda.

O que gostariam de nos dizer sobre a fé hoje?

Que se trata de um hábito, do resultado de uma escolha profunda, de opção por uma faixa de valores, por um padrão de idéias e sentimentos que favorecem o melhor. Que é resultado de um bom nível de amadurecimento intelecto-moral, e que se expressa de múltiplas formas, como no caso da fé na própria capacidade, a fé em uma idéia específica: uma nova tendência ou produto para o mercado, ou a fé em uma pessoa digna de confiança. A vida humana é impossível sem fé: as relações mais comezinhas colapsam sem fé. Existe fé em documentos públicos, fé nos registros históricos, fé no barbeiro e na cozinheira, que poderiam matar seus clientes, fé na espiritualidade amiga e em Deus, que, todavia, tanto se discute… Essa a questão: tem-se fé em tudo, até nas pessoas mais indignas disso, por parecem espertas. Por que, então, não dar um voto de crédito ao Ser Supremo do Universo e Seus representantes?

Muito interessante essa nova ótica sobre fé.

É impossível viver sem fé, como é impossível viver no corpo físico sem ar. Existe fé na ciência. Não notam como a ciência, em uma geração, renega vários dos postulados que considerava indiscutíveis na anterior? E por que as pessoas reputam tanta fé à ciência? Exatamente por isso: porque se trata de fé e não de uma pseudo-sustentação-exclusiva-em-fatos: isso é uma pressuposição totalmente falsa. Até mesmo a física já comprovou, experimentalmente, que a consciência interfere nos resultados de um dado fenômeno observado. Portanto, os “fatos” observados são, em grande medida, projeções do que se quer ou se supõe dever ver, já que tudo que se vê só faz sentido quando se faz uma leitura da realidade, uma interpretação do que se capta, e, assim, uma reflexão do que existe no interior de quem faz essa tradução livre. O problema não é a falta de fé, porque ela sempre existe, mas está em só se querer ter fé na ciência, ou em si mesmo, quando existem muito mais instituições, pessoas e campos de pensamento dignos, completamente dignos de fé e mesmo sem os quais uma pessoa não pode passar sem equilíbrio e paz. Que tal uma pessoa que não tenha fé na hombridade de sua empresa bancária? Ou que não acredite no cônjuge? Ou que não repute nenhum valor à arte? Assim, para uma vida completa e saudável, o indivíduo deve ter fé em diversos âmbitos de realidade simultaneamente.

Incrível que apresente as coisas desse modo no que tange à fé.

Não existe outro.

E o que dizer àqueles que, dizendo terem fé em Deus, alegam faltarem à fé com relação a si mesmos?

Em verdade, têm tão pouca fé com relação a si, como com relação a Deus. Teriam naturalmente mais fé em si mesmas, se tivessem uma genuína confiança no Criador, já que teriam plena consciência de que o Ser Suprema Inteligência não poria uma pessoa inapta para fazer algo que não julgasse capaz. Por fim, precisam relaxar e confiar mais nos próprios instintos e intuições. Muitas vezes, só precisam disso: relaxar. Há pessoas excessivamente treinadas no plano intelectual, o que é extremamente comum nos dias que correm, com populações inteiras sofrendo de uma compulsão ao controle excessivo, como se controlar fosse sinônimo de ser responsável e inteligente, e que pretendem controlar processos que, por inerência, não podem ser dirigidos pela mente consciente, como a digestão dos alimentos. Assim, querem interferir em processos de acontecimento que não lhes compete, atrapalhando o fluxo das ocorrências. Depois de fazer a própria parte, deve-se entregar o resultado a Deus e esperar.

Como, porém, fazer a distinção clara entre o que nos compete e o que compete a Deus?

Pela voz da consciência e do bom senso saberão. Se um inseto não se equivoca nesse particular, o ser humano, é óbvio, também é dotado de recursos para discerni-lo. O problema está em querer fazer pelos outros o que lhes compete, subestimando-os ou não querendo dividir responsabilidades e merecimentos, bem como a falta de visão estratégica que disponha as coisas e etapas de um processo no tempo de modo adequado e harmônico. Uma mente desorganizada tem uma visão confusa da realidade.

A dúvida não é salutar como mecanismo de evitarem-se ilusões?

Tanto quanto a fé, para viabilizar realizações e mesmo a motivação básica para seguir vivendo. A dúvida não deve ser, portanto, encarada como uma força contrária à fé, mas como um fator que lhe é auxiliar. Assim, quando alguém duvida, está avaliando e com isso, filtrando elementos indesejáveis nos seus artigos de fé, para não misturar verdades com imposturas. A dúvida, dessarte, é um mecanismo para amadurecer a fé e não eliminá-la.

Mais algo a ser dito sobre o assunto hoje?

Não. Satisfeitos.

(Diálogo travado em 25 de junho de 2002.)