Benjamin Teixeira
por espíritos
incógnitos.

Dizem que o Brasil está à beira do colapso. Que a crise econômica nunca esteve tão grave. O que teriam a dizer sobre isso?

Há décadas fala-se que o Brasil está à beira do abismo, e sempre sai ele fortalecido das múltiplas crises que o trabalharam. A época do “milagre brasileiro”, do início dos anos 70 se foi, mas com ela ficou a consistência de um processo lento, todavia mais amplo, de amadurecimento que agora já não se restringe à expansão bruta da máquina produtiva, tão-somente, mas alcançou a alma nacional, elaborando, inclusive, a auto-imagem do brasileiro, que não mais se contenta, atualmente, com a identidade de “república das bananas”, caricaturalmente promovida por Carmem Miranda, há pouco mais de meio século atrás, por iniciativa da “política da boa vizinhança”, do governo estadunidense, durante a Segunda Guerra Mundial.

É. Realmente. Somos hoje muito exigentes.

Tanto que existe um fluxo forte de imigração para nações de primeiro mundo, que correspondem ao patamar de exigência interna do brasileiro informado, com relação a nível de organização civilizacional.

E o que se pode dizer ao povo brasileiro?

Que não há progresso sem esforço, sem trabalho continuado. É por meio da determinação em crescer que se desenvolve uma nação. O Brasil está numa fase de construção civilizacional. Está-se edificando cultural, intelectual e até emocionalmente. Não só a infra-estrutura econômico-produtiva é montada. O povo está sendo educado, as instituições estão se desenvolvendo, os valores nacionais depurados e tomando forma, gradativamente. Que se pode encontrar conforto material e facilidades profissionais maiores no exterior, mas que a integridade psicológica e cultural de si e da própria família ficam seriamente comprometidas quando não se está na própria terra, em contato com as próprias raízes, e que vale a pena o esforço de se investir no país. Sim, há daqueles que reencarnaram com o programa de imigrar, mas muitos saem do país como meninos fujões saem da escola, tentando gazear aula. Estão fugindo à responsabilidade que lhes cabe no drama da realização de uma nova situação nacional, para o devido amadurecimento do país para as grandes responsabilidades que lhe aguardam no futuro.

Problema econômico, crise financeira. Só se fala nisso há vários decênios…

E vai-se continuar a falar. Redobrado trabalho exige-se. E o provo brasileiro já deu claras e numerosas demonstrações de ser disposto ao trabalho. A crise torna um povo ou um indivíduo mais maduros. E é o que tem acontecido. O sistema bancário brasileiro, como se sabe, é um dos mais complexos e avançados do mundo, por conta da ciranda louca de oscilações financeiras. Entre os melhores profissionais da finança e do empreendedorismo mundial estão ases brasileiros, assimilados por mega-corporações internacionais, por terem conseguido fazer progressos de suas empresas em períodos de crise. Quem consegue fazer o progresso em meio ao turbilhão, é capaz de enfrentar e solucionar qualquer questão, de vencer qualquer desafio. Se alguém se atentasse para esse efeito altamente salutar das grandes dificuldades, agradeceria a Deus a oportunidade de crescimento intensivo e nunca se afastaria das tormentas, antes procurando atravessá-las valorosamente.

Mais algo a dizer?

Sim, o Brasil não mudou muito sua posição econômica, há vinte anos, mas mudou substancialmente, sua postura política, sua auto-imagem nacional. Saiu efetivamente da adolescência coletiva e é hoje um adulto jovem, cheio de disposição, idéias e vontade de fazer e ser. O Brasil lidera todo o mundo subdesenvolvido, se assim podemos fazer uso ainda da nomenclatura sociológica clássica, e enfrenta até gigantes do comércio mundial, como a indústria farmacológica, com propostas sem precedentes na história do capitalismo, defendendo ideais nobres e vencendo galhardamente. Em mais vinte anos, o Brasil estará ainda mais além. Que tenham fé e compreendam que não se pode ter tudo. Para crescer é necessário labutar. E que, em países ricos, muita gente enlouquece de desespero, desviando-se para os vícios e o vazio da loucura, pela falta de significado em suas vidas confortáveis e sem sentido, sem uma causa, sem um algo por que lutar. No Brasil, sobram causas; faltam idealistas. Que não nos esqueçamos da necessidade de curtir e desenvolver o otimismo, porque povo sem fé, é povo enlouquecido. Basta, como exemplo disso, que se recorde da paixão norte-americana pelo ideal de fazer e vencer e as conseqüências extraordinárias, no correr de séculos, desse padrão nacional, e que se lembre, por reverso, da Alemanha Nazista e da Rússia Stalinista, e se entenderá como o desespero de uma nação pode ser terrivelmente manipulado por facínoras conduzidos ao poder.

(Diálogo travado em 12 de julho de 2002.)