Benjamin Teixeira
pelo espírito
Anacleto.

Sobre dinheiro, Anacleto. As pessoas parecem sofrer terrivelmente pela falta de dinheiro. Um carma que parece geral.

Ninguém sofreria com a falta de dinheiro, se trabalhasse corretamente e se tivesse expectativas modestas quanto a padrão de vida.

Mas há pessoas que não conseguem emprego… Justamente isso: não conseguem trabalhar.

Disse que trabalhassem corretamente, não que tivessem um emprego. As pessoas costumam entreter altos padrões de expectativa para si. Não admitem certas funções, que julgam subalternas, regateando oportunidades de emprego que consideram aviltantes, ou não querem se esforçar por ser criativas e gerar idéias e iniciativas no campo empresarial. O orgulho, o medo e a preguiça, nesse particular, são um trio satânico a fomentar miséria.

Mas e quando existem aflições com relação a dinheiro concernentes a necessidades reais e justas, como as que dizem respeito à educação dos filhos?

Avalie-se cautelosamente o que se está almejando, e logo se notará a ponta de orgulho e de ambição a criar a angústia. Se as pessoas fossem mais modestas, a vida seria tranqüila e feliz. Um pai pode sofrer por não poder colocar o filho em escola particular, ou por não poder patrocinar uma viagem ao exterior. Isso realmente é essencial? Há escolas públicas e pode-se estudar idiomas estrangeiros em terras pátrias. A cultura do consumismo, expressa na mídia, de modo acachapante, é responsável, em grande medida, por isso, insuflando inveja de quem está em níveis mais altos de poder aquisitivo, frustrando a todos, inclusive os que estão em condições ditas privilegiadas, que ou temem perder o que já conquistaram, ou ainda andam aturdidos por adquirir mais.

O que você sugere?

Modéstia. Veja que nem sequer falo em humildade. Modéstia, na acepção que damos aqui, é optar por um estilo de vida mais simples, sem forçar a própria natureza para parecer melhor ou progredir a pulso. As exigências da moda, por exemplo, são um exemplo tirânico disso. As pessoas se sentem na obrigação de renovar o guarda-roupa a cada estação. Não se sintam obrigadas, e uma enorme, supérflua e completamente evitável preocupação com dinheiro será suavizada tremendamente, mesmo porque esse padrão terá repercussões em diversos departamentos da existência do indivíduo, fazendo-o mais econômico em inúmeras situações. A civilização industrial criou uma miríade de necessidades artificiais e a era da mídia potencializou ainda mais essa tendência, engendrando mecanismos complexos de induzir o surgimento de desejos que nem mesmo existem nas criaturas.

Mas, Anacleto: não foi graças ao espírito de insatisfação e de busca de prosperidade que as grandes realizações da Ciência, da Indústria e da Tecnologia surgiram?

Sim. Mas você me perguntou sobre a angústia relacionada a dinheiro. Estamos tratando de felicidade e bem estar pessoal e não de progresso material. Mas, sem dúvida, foi graças a esse espírito de descontentamento que a Humanidade avançou rapidamente, no carreiro evolutivo, nos últimos poucos séculos, estimulando-se a fazer, em poucos anos, o que consumiria evos para ser realizado. Entretanto, esse nível de avanço civilizacional seria realizado de qualquer forma, pelo impulso mais brando, mas que se avulta na alma humana, de realização pelo ideal e não pelos impulsos do ego, como o desejo de adquirir riquezas e assumir posições de poder e destaque na sociedade. Por outro lado, se houvéssemos progredido dessa forma, não haveria o risco de auto-extinção da espécie que hoje existe. A pressa em crescer gerou inchaços doentios no corpo da civilização. Hoje, tem-se mais conhecimento de ciência, do que a sabedoria média do ser humano tem condições para fazer bom uso. A bomba atômica e seus descendentes medonhos como a bomba de hidrogênio são bons exemplos disso. No futuro da humanidade será diferente. As pessoas buscarão o progresso da ciência, da tecnologia, da cultura e das sociedades, pelo mero prazer de participar desse processo de construção civilizacional, pela satisfação em realizar coisas úteis e importantes para o bem comum. A insatisfação geral dos dias que correm compelirá os indivíduos, inelutavelmente, para essa nova fase da civilização humana na Terra.

Disse que “se houvéssemos progredido dessa forma”, ou seja, pelos impulso da alma e não do ego, não correríamos tantos riscos, com o que é forçoso concordar. Esse momento evolutivo, porém, de estarmos sendo motivados, em grande medida, mais pelo ego que pela alma, não seria uma fase inescapável do progresso tanto individual quanto coletivo?

Sim. Dissemos isso, no entanto, para mostrar o reverso negativo, a face destrutiva desse método de crescimento, querendo dizer que o sistema colapsou, de modo que ou será substituído ou a humanidade destruirá a si mesma. Nada acontece por acaso e a Divina Providência aproveita os impulsos egóicos para fomentar o progresso geral, preparando o terreno para o desenvolvimento futuro, em direção aos ideais do espírito.

Mais algo deseja dizer sobre o assunto?

Sim. Que primeiro se tenha uma boa idéia. O dinheiro, então, virá por conseqüência. Que se seja criativo, inteligente, que se faça um bom planejamento, que se encontrem meios de fazer uma boa “venda” do produto intelectual gerado, e os recursos para financiar o projeto surgirão. É assim que o mundo capitalista funciona. Sendo competente nesse sistema, o dinheiro nunca falta. Por fim, gostaria de chamar a atenção para a necessidade psicológica de buscar um emprego ou uma atividade profissional não pela colocação financeira e social propiciada, mas sim pela satisfação profunda, de alma, que possa oferecer. Até analistas e consultores do campo de administração têm percebido essa lei da mente humana. Quem não a obedece paga um alto preço de infelicidade, doença e morte precoce, senão a pior de todas: a morte em plena vida, a morte do ideal e da paz.

(Diálogo travado em 16 de julho de 2002.)