Benjamin Teixeira
por espíritos
incógnitos.

Amigos espirituais, um dos dramas modernos é a questão do desemprego, da empregabilidade, das perspectivas de sobrevivência num mundo cruelmente – e cada vez mais – competitivo. Poderiam nos falar alguma coisa a respeito?

Sim. Deve-se, realmente, mudar o foco da busca de emprego para empregabilidade, e ir até mais além, para o sentido de serviço à utilidade comum. Para quem é apto e tem boas idéias, nunca faltam oportunidades de ocupação digna, com remuneração adequada.

Vocês me pareceram vagos – desculpem dizer. “Ocupação digna” e “remuneração adequada” são expressões muito amplas, dando espaço a uma enormidade de interpretações livres. Parece que quiseram provocar reflexões implícitas a elas, estou certo?

Está. Sempre há trabalho para quem o quer, e sempre haverá formas de sobrevivência razoáveis, para quem procura agir corretamente. Quando falamos em “remuneração adequada”, fizemos alusão ao padrão de qualidade de vida que está ao alcance do indivíduo, sem delírios megalomaníacos, sem os caprichos da ambição ou da vaidade necessariamente atendidos. Muitas vezes as criaturas sofrem por criar expectativas exageradas para si, em função de se auto-afirmar socialmente, esquecendo-se do essencial: a realização interior. Assim, as frustrações profissionais sobrevêm, amiúde, como uma provação salutar a seu amadurecimento psicológico. Todavia, com isso, não propomos acomodação, sob pretexto de desenvolver-se humildade: isso constituiria preguiça e fuga à responsabilidade de fazer o melhor. Aludimos à situação em que a pessoa tentou de tudo, após seguir seu coração e não foi coroado de êxito.

Isso é extremamente subjetivo. Há pessoas que, a seu ver, tentaram de tudo, mas que de fora notamos que, se realmente persistissem, chegariam onde almejavam. Por outro lado, outras que já deveriam ter desistido de seus projetos medonhos, mas que, por demais determinadas, conseguem realizar prodígios diabólicos, como foi o caso de Adolf Hitler. Poderiam clarear um pouco tais noções?

Sim. De fato, tem razão. Todavia, internamente, o indivíduo sabe quando está sendo teimoso e “remando contra a maré” – ou seja: contra os fluxos da Vida – e quando, em reversa maneira, está sendo heróico, num esforço meritório de concretização de um ideal. Se a pessoa está em sintonia com sua consciência, se ela sinceramente não está focada no ego, fazendo um esforço genuíno de superar-se e realizar o melhor, no sentido do serviço comum e da auto-transcendência, ela deve persistir. Mas, ainda quando motivado pelos mais nobres propósitos, há situações em que o bom senso pede que se revejam pontos de vista e até metas ou filosofia de vida. Isso porque, às vezes, a Divina Providência permite que o indivíduo se experimente em circunstâncias diversas para amadurecer, deixando-lhe o encargo de perceber a necessidade de mudar de rota.

O que devemos falar para o cidadão em busca de emprego, principalmente o jovem?

O que vamos falar cabe não só para os jovens em busca da colocação profissional, mas para todos os profissionais, em todas as faixas etárias ou níveis da hierarquia social, já que não existe mais a certeza do emprego eterno. Nada era de fato garantido, no passado, mas a mobilidade social não era tão grande como hoje e os acontecimentos se davam muito mais lentamente, dando uma ilusão de perenidade que propiciava acomodação nas pessoas. Assim, enumeramos certos artigos de estudo a serem observados cuidadosamente:
1. Tirar o foco do dinheiro e pensar na utilidade comum. Assim, entra-se em sintonia com a Vontade de Deus para si, e a inspiração apropriada chega, para conduzir o indivíduo ao terreno de ação mais ajustado a suas necessidades e tendências evolutivas atuais.
2. Para tanto, avaliar qual a área de vocação pessoal. Se já é difícil ser hábil e competitivo em uma área da própria predileção, imagine-se em um campo que desagrada o indivíduo. O princípio do “ócio criativo”, proposto por pensador moderno (*1) é importantíssimo nesse particular. Para atender ao paradoxo de buscar a felicidade (a cultura moderna exige isso) e trabalhar cada vez mais e melhor (exigência dos mercados de trabalho), o indivíduo deve sentir prazer no que faz ou não trabalhará tanto nem tão bem para ser bem-sucedido, muito menos feliz.
3. Mudar o foco do emprego para a empregabilidade. Ou seja: em vez de se perseguir o posto de serviço, concentrar-se no esforço de desenvolver habilidades e aptidões que capacitem o indivíduo a ocupar postos de serviço. Isso é válido tanto para quem está em busca de emprego, como para quem deseja preservar o seu. O esforço de auto-aprimoramento deve ser permanente ou a pessoa já estará se desatualizando.
4. Manter a mente focada na criação e não no enquadramento aos esquemas existentes de trabalho. Ampliar ainda mais o item anterior, associando-o ao primeiro, e, com isso, despreocupar-se da idéia de encontrar empregos certos ou ter o currículo ideal para conseguir os empregos melhores, e sim em gerar idéias que, se não condisserem com empregos, devem gerar tais empregos. Em outras palavras, a solução pode estar não em conquistar um emprego, mas em gerar empregos; partir, sempre que necessário, da condição passiva de encontrar os encaixes adequados no mercado de trabalho, para gerar outros, de acordo com os próprios impulsos criativos.
5. Estar sempre com a mente aberta, consoante os princípios acima expendidos, para, se necessário, mudar de emprego, buscar uma nova formação acadêmica ou montar o próprio negócio, sem esperar que uma crise grave venha impelir a isso, de modo traumático e, principalmente, dificultoso para obtenção de alternativas imediatas e boas.
6. Para a plena execução de todos os itens anteriores, manter-se afastado da arrogância, da presunção, da pressa e da emotividade exacerbada. Auscultar o bom senso, a voz da razão, as sugestões da superconsciência e do ideal e, principalmente e em resumo, a voz da intuição.

Nossa… Isso é fantástico. Mas creio que pouquíssimos estão aptos a se enquadrar perfeitamente nesse seu sistema de descoberta da própria missão profissional.

Sim, e é por isso mesmo que estão encarnados na Terra: para serem estimulados a desenvolver esse conjunto de valores. Não há alternativas. Ou se faz isso ou, simplesmente, estar-se-á se pondo à parte do mercado de trabalho e das engrenagens de produção, criação e decisão da sociedade moderna.

Mais algo a dizer? As pessoas andam tão estressadas diante da questão… Os adolescentes são de dar dó. E quando se fala de homens na meia-idade sumariamente despedidos, para dar vez a profissionais mais jovens, nem se comente…

Que procurem enxergar a vida de uma ótica espiritual. Existe um ângulo positivo em toda tragédia aparente experimentada. Um indivíduo pode ser despedido para ser provocado a desenvolver talentos ocultos, às vezes até para ele mesmo, favorecendo, quiçá, uma guinada totalmente inesperada para melhor em sua vida; e um jovem que se sinta pressionado excessivamente pelo sistema, pode ser levado a questioná-lo, reformulando-o e inovando-o em aspectos de seu interesse. Ou seja: em ambos os casos, não se descambando para a revolta, podem-se auferir extraordinários benefícios das situações amargas. A complexidade e velocidade crescentes da vida contemporânea compelem os indivíduos, cada vez mais inexoravelmente, a procurar referenciais de serenidade, de segurança e de paz, acima do turbilhão do cotidiano. Em outras palavras: a maior desgraça hodierna é impelir os indivíduos à busca espiritual. Seria mesmo, então, uma desgraça? Que cada um, como disse Jesus, busque, “primeiramente, o reino dos céus e sua justiça”que as demais coisas “ser-lhe-ão acrescentadas”. Portanto, voltamos à questão do foco, e, aqui, em particular, o foco fundamental ou o foco no essencial. A crise moderna leva os indivíduos a se questionarem tão a fundo que acaba remetendo-os à sua própria percepção e interpretação das coisas, fazendo-os discutirem o que até pouco era considerado verdades eternas, indiscutíveis portanto. O efeito final, a longo prazo ou médio, destarte – a depender de como o indivíduo reaja à sua crise –, pode vir a ser não só positivo: mas revolucionário e transcendente.

Mais algo a dizer?

O prático, para sugerir caminhos efetivos para tudo que falamos e que pode soar, a ouvidos menos acostumados à temática, muito difuso. Além da busca contínua de conhecimento e preparo em todos os sentidos, para fortalecer a própria empregabilidade e manter a mente aberta para ensejar-se oportunidades diferentes de realização profissional, como a mudança de emprego ou mesmo a abertura de um negócio próprio, deve-se, essencialmente: conhecer-se melhor, por meio de prática auto-analítica, de acompanhamento psicoterapêutico ou aconselhamento profissional, e, por fim, pela procura de um sistema de valores e filosofia de vida, que pode ser uma religião no sentido convencional do termo ou não, que forneça substratos e orientação para as crises existenciais enfrentadas no vórtice da vida moderna. Engajar-se num grupo religio-filosófio, dedicar-se à prática de meditação e/ou oração, devotar-se a serviço caritativo-voluntário (para que se ultrapasse a faixa grosseira da consciência meramente egóica), fazer leituras e estudos no campo do auto-conhecimento e da espiritualidade. Tudo isso é indispensável para encontrar-se a paz e a felicidade, no mundo enlouquecedor ou “transcendendor”(*2) dos tempos que correm.

(Diálogo travado em 1 de agosto de 2002.)

Notas do Médium:

(*1) Domenico de Masi.

(*2) Trocadilho com dois neologismos que os espíritos criaram, para dar a idéia de que situações críticas de confusão de idéias e valores podem levar o indivíduo a buscar – como dizem os teóricos da Ciência da Complexidade – uma ordem implícita no caos, num nível mais profundo de complexidade. Portanto, o que parece enlouquecer, pode, em reverso, estar propelindo à transcendência. Cabe ao indivíduo dar a direção ao processo que sofre.