Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Onde a coragem do passado? Onde a bravura dos antigos guerreiros, em campos de batalha? Vemos homens aboletados em poltronas confortáveis, assistindo a filmes de guerra, obesos e sedentários, canalizando sua agressividade para as películas de cinema, desperdiçando a oportunidade de aproveitá-la no bem comum e de si mesmos, por meio do direcionamento judicioso, para atividades construtivas. Insossos e desvitalizados, alheiam-se em transes de auto-hipnose, para desespero de esposas angustiadas e esquecidas, um transe de introjeção doentia, no afã inconsciente de se desconectar da realidade, no desespero de reencontrar a própria alma, pelo caminho errado, ironicamente, porém…
Mas não estão fazendo tal canalização da agressividade nas ocupações profissionais, Eugênia?
De modo muito insuficiente. Desapareceu o elã, o entusiasmo típicos de quem se apaixona de modo produtivo. Somente em campos de batalha ou em terríveis caças sexuais os homens modernos parecem abalançados a colocar para fora todo o dinamismo e energia que pode mobilizar. Não se deve esquecer que o tempo das guerras hercúleas não cessou. Talvez, muito pelo contrário, já que o campo de batalha, agora, é muito mais sutil e, por isso, as pugnas muito mais difíceis de serem vencidas, já que este campo minado é o próprio mundo interior. A Divina Providência, não por acaso, permitiu que, por tantos evos, houvesse a sanha fraticida das conflagrações bélicas, justamente para que este destemor e esta força espiritual fossem desenvolvidos, para os maiores desafios do espírito, em seu trajeto evolutivo: o que concernem à vitória sobre si mesmo, e à conquista do próprio mundo interior.
Você exclui o gênero feminino desta análise?
As mulheres podem muito, e estão, inclusive, sendo chamadas a cumprir seu papel na liderança das comunidades humanas. Mas não existe, na natureza feminina, de modo original, toda a força vulcânica que a natureza masculina e suas experiências pregressas em campos de luta e morte lhe ofertaram. As mulheres têm potências psíquicas de ordem diversa, como o poder da emoção e do sentimento, o ideal de devotamento à prole e a um ideal espiritual como a família. Mas esta força expansiva para o mundo externo, que pode acelerar, em muito, a chegada do “Reino dos Céus” na Terra, muito de longe está de possuir como o homem. Isto falando não só porque a natureza bio-psíquica dos sexos difere fundamentalmente (e o corpo tem poderosa influência sobre a mente, pela profunda conexão desta ao cérebro, que difere profundamente entre os sexos, como atestam, inclusive, de há muito, estudos de neurociências), como também porque a maior parte dos espíritos encarnados no planeta está em consonância psicológica com suas expressões anatomofisiológicas na matéria, de modo que uma parcela substancial dos espíritos encarnados em condição masculina participou de campos de batalha em pregressas existências.
Que você sugere para que nós homens recuperemos esta “gana” perdida?
Que recuperem o gosto pela conquista, mas por conquistas sérias, nobres, elevadas, como uma nova virtude, um novo patamar de consciência, uma nova modalidade de expressão artística, novos acervos de conhecimento. A ausência da energia agressiva, nos homens, pode fazê-los tediosos e vazios, sem disposição e vontade para viver, inclinados ao vício e a todas as formas de degradação moral. A agressividade, então, originariamente fomentada por Deus, para estimular a criatura a grandes feitos converte-se em energia destrutiva e auto-destrutiva, semeando morte, miséria e dor por toda parte, como quando o erário público é desviado para fins pessoais, por autoridades políticas, que tiveram permissão divina para galgar o poder, em função do bem comum e não para locupletação pessoal e familiar.
Que mais?
Que nos lembremos da “ira divina” de Jesus, quando revira as bancas no templo de Israel, que, a um só tempo, era a casa-máter da religião e do poder constituído de seu povo. Que, amiúde, a inação pode representar exatamente o que parece: omissão, indiferença, descaso. Ao passo que agir, ainda que um pouco mais severa e energicamente do que o necessário, pode indicar o sincero engajamento da criatura no que julga essencial e que, portanto, é-lhe direito e dever oferecer proteção.
Algo mais?
Há quem lute por fora, nas tricas do dia-a-dia: as pequenas armadilhas e traições no ambiente de trabalho, a sanha medonha da fofoca, o dragão da calúnia, a peste generalizada da má-vontade, da inveja e do ódio entre criaturas que foram dadas a coexistir e trabalhar juntas. Se esta energia fosse aplicada nas boas obras, teríamos, rapidamente, a humanidade convertida num grande Eliseu. O paraíso, todavia, é substituído pelo pesadelo, porque as criaturas que participam do drama das relações sociais preferem focar o pior, em vez de voltar suas mentes e suas mãos, seus corações e suas bocas, para a edificação da felicidade geral, já que foge à natureza da felicidade a condição de solidão: ou é partilhada a alegria de viver, ou nula será toda chance de o indivíduo encontrar a bem-aventurança em seus caminhos existenciais.
(Diálogo travado em 6 de fevereiro de 2005.)