Benjamin Teixeira
pelo espírito Anacleto.
Por que, às vezes, parecemos ter a certeza de que algo é certo ou errado e não conseguimos fazer ou deixar de fazer, respectivamente? Esse é um dos maiores dramas do ser humano.
O aprendizado se dá em faixas de aprofundamento cognitivo. As primeiras camadas, superficiais, não oferecem resistência suficiente para enfrentar os desafios de testes mais difíceis. E as provas vêm justamente nesse intuito: de consolidar as conquistas recentes, que ainda habitam as periferias da psique. Com cada experiência, aumenta o grau de conhecimento em torno do ponto lacunoso da alma e, assim, sua presença vai-se aprofundando no espírito, até atingir-lhe o núcleo de identidade última, o que poderíamos chamar, usando nomenclatura moderna, de Self. Nesse nível de apreensão conceptual, o conhecimento deixa de ser um saber, para passar a fazer parte do ser, no indivíduo.
Mas e quando há dúvida de se estar certo? Quando há o medo de se perder uma oportunidade por um preconceito e não por um valor genuíno?
O conceito continua valendo. Se não se tem absoluta convicção de um valor, dúvidas, vacilações, medo de se estar errado surgem. A experiência elimina esses resíduos de insegurança.
O que podemos, todavia, Anacleto, fazer para não cometer grandes erros, para não promovermos grandes desvios da estrada evolutiva?
Não existem fórmulas prontas para isso. Amiúde mesmo grandes desvios constituem matéria-prima com que a Divina Providência realiza sua obra-prima de aprimoramento do ser. Portanto, o que seria dejeto existencial pode se converter em constructo evolucional. Isso não implica dizer que se deva relaxar a guarda, mas que, muitas vezes, o resvalamento em certos equívocos fazem parte do plano de crescimento da alma, favorecendo-lhe o processo de amadurecimento psicológico.
Se, entretanto, deseja um roteiro aproximado do que fazer quando tentado a errar ou quando não souber onde situar a tentação, esse seria: oração, meditação, reflexão e prudência. Porém, que se fique atento a que esse script de conduta não conduza ao puritanismo e ao excesso de cuidados que evidenciam um caráter poltrão.
Mas, eis a questão: é extremamente difícil atingir-se esse ponto de equilíbrio…
Por isso indispensável a experiência, para que a evolução se processe.
Há mais alguma coisa que queira dizer sobre o tema?
Que cada um pondere, em torno de cada dilema vivido, fazendo um esforço possível para não agir sob efeito de emoções, de impulsos momentâneos, colocando, antes de entregar-se a cada ímpeto para ação, a voz do bom senso, da ética e da razão, no sentido de só fazer aquilo que não ferir os princípios gerais de equilíbrio, moral e construtividade.
(Texto recebido em 10 de dezembro de 2001.)