Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Benjamin Teixeira – Eugênia, você deseja falar a nossos internautas?
Espírito Eugênia – Sim.
BT – Sobre que assunto desejaria que eu a abordasse?
EE – Sobre os abusos de poder.
BT – Certo. O que tem a nos dizer?
EE – Que é da natureza humana cometer abusos de poder, ainda que muito sutis. O pai que pune exageradamente o filho, ou que lhe desmerece as opiniões, por ser uma criança. A esposa que explora o marido frágil e carente, vampirizando-o financeiramente. O empresário que abusa da boa-vontade ou da necessidade de funcionários, ganhando pouco e trabalhando muito.
BT – É muito difícil as pessoas se verem como abusadoras. Normalmente, têm olhos para quem as abusa.
EE – Exatamente por isso pedi que falássemos sobre isso. Nessa era de despertar das consciências e de protesto generalizado, as pessoas são, por seu baixo grau de maturidade psicológica, inclinadas a se verem como vítimas. Isso não é útil. Importa que cada um veja, em si, o que precisa ser modificado, ao reverso de procurar falhas alheias, porque, proporcionalmente ao grau de consciência e ao histórico pessoal de facilidades ou dificuldades que cada um porte, muito freqüentemente os acusadores têm muito menos direitos que os acusados. O simples fato de assumir a postura acusatória, já denota um certo déficit de consciência. Quem amadureceu apresenta um alto grau de tolerância às deficiências e ambigüidades alheias. Defende-se, mas de forma cuidadosa e contida, nunca tornando a defesa um ataque vingativo.
O abuso tem diversas expressões e não uma apenas. O abuso sexual talvez seja o menos importante, a não ser quando se trata de crianças, que merecem sempre nossa total proteção, por sua imensa vulnerabilidade emocional e mental, além da óbvia suceptibilidade física. Na vida adulta, o abuso costuma ser generalizado: aos sentimentos, às opiniões, ao modo de ser do outro, suas escolhas, preferências e afinidades. O olhar de crítica ou de desdém é considerado aceitável e normal, e, somado mil vezes, pode conduzir alguém ao suicídio ou a loucura. A palavra sarcástica ou a iniciativa de humilhar alguém, tão comuns nas relações interpessoais, bem revelam o quanto as pessoas, na Terra, têm fortes inclinações a abusar, sobremaneira os mais fracos, ou aqueles que parecem sem condições de se proteger das investidas alheias. A covardia e a vileza, assim, expressam-se, sem punições, e justamente por escolherem situações onde não haja punições, essas pessoas são ainda mais condenáveis, ao reverso daqueles que arrostam o estabelecido, que, ao menos, têm o mérito da coragem.
BT – Mais algo a dizer sobre isso?
EE – Que cada um se recorde da cena em que Jesus, diante da adúltera flagrada “no ato”, na iminência de ser lapidada (apedrejada). Voltou-se para os que se sentiam tão claramente superiores a ela, a ponto de se colocarem na posição de vingadores divinos, decretando-lhe e provocando-lhe a morte: “Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra”. E nós ainda poderíamos dar continuidade ao pensamento do Mestre e parafraseá-l’O: “Quem estiver com pecado menor, atire a primeira pedra”. A adúltera poderia estar se rebelando contra o ditame abusivo, da época, de ser forçada a casar com quem não amava, o que hoje seria muito bem visto e até aplaudido, como coragem inaudita de enfrentar convenções assassinas, como as do tempo de Jesus, em nome de um ideal. Mas a questão é essa: na época ela era tida como um marginal da sociedade, e o Cristo foi considerado muito misericordioso por defendê-la. Talvez não fosse apenas isso, e sim o Mestre estivesse protegendo quem merecia proteção, num momento de extrema injustiça. Na ocasião, Jesus libera a condenada e lhe diz que não tornasse a “pecar”. Estudando etimologicamente o significado da palavra “pecar”, vamos encontrar o indício de que se trata de “errar o alvo”, o que, sem dúvida, ela estava fazendo, em termos, por confrontar todo um sistema social que não se modificaria do dia para a noite. Com isso, queremos chamar atenção para o fato de que, muitas vezes, o que se tem como grande erro, pode ser, em futuras gerações, considerado não só um não erro, como um acerto excepcional, apenas vanguardista demais para ser assimilado pelos contemporâneos de quem se faz o mensageiro do progresso. E que, portanto, muitas vezes, os que atacam alguém por considerá-lo um “abusador”, podem estar agindo muito mais como abusadores, aos olhos de Deus e Seus representantes, que aquele que acusam. E, sem dúvida, ficar contra o próprio Criador e Seus Emissários não parece ser bom negócio para ninguém. Não por outra razão, disse Jesus: “Com a medida com que medirdes, sereis medidos”, ou, ainda mais enfático: “Não julgueis, para não serdes julgados”.
(Diálogo travado em 15 de fevereiro de 2004.)
