Benjamin Teixeira de Aguiar – Eugênia, certa vez o Espírito Emmanuel, por meio de Chico Xavier, afirmou que, como é indispensável não menos do que quinze anos de estudo formal para se conferir um diploma de Engenharia a alguém, de modo a habilitá-lo à realização de projetos de construção civil, por exemplo, não haveria sentido algum em esperar menor período de tempo de preparação para a missão importantíssima de conduzir almas através da atividade mediúnica. Recentemente, tomei conhecimento do caso curioso de um espírito obsessor que subjugava sequenciadamente suas vítimas-médiuns, a fim de fazê-las perpetrarem atos criminosos, e que consumia também quinze anos aproximados para dominar cada hospedeiro(a) psíquico(a). De minha própria experiência, notei que somente após quinze anos de convívio sistemático com você é que tive segurança bastante no ouvi-la, vê-la, falar em seu nome e escrever como seu porta-voz.
Existe algum padrão universal em relação a esses quinze anos de maturação da mediunidade?
Espírito Eugênia-Aspásia – Sim, existe. Esse padrão se apresenta em outros domínios da realidade humana. O amigo Emmanuel apresentou o tempo mínimo que alguém leva para trafegar do início da alfabetização à graduação conclusa. O corpo humano, da mesma sorte, consome tempo equivalente para chegar a um nível básico de maturidade biológica – para a reprodução, por exemplo. Com o transcurso de quinze anos, portanto, pode-se entender que a pessoa passou a pertencer a faixa etária de outra geração.
Para que a mediunidade mature realmente, e não só se estabeleçam laços profundos de comunhão mental e espiritual entre guia e médium, no mínimo três lustros são necessários. A plena adultidade mediúnica, porém, é conquistada somente após três decênios seguidos de exercício responsável e sistemático. Um profissional não chega à excelência quando sai do forno acadêmico, mas apenas depois de acumular um bom tempo de prática em seu ofício. A analogia se aplica ao organismo humano igualmente, que só se torna maduro ao transpor a barreira dos trinta anos de idade. Bons médiuns, dessarte, poderão estar muito bons perto dos quarenta, se começaram na adolescência seu treinamento consciencioso. Mas só estarão magníficos após os cinquenta, quando a maturidade então se consolida em suas faculdades, configurando-se a excelência do canal medianímico.
Obviamente, não estamos levando em conta todos os elementos morais envolvidos. Há almas muito nobres, envelhecidas no cadinho da evolução, que demandam menos tempo para alcançar um patamar ótimo de operacionalidade. Todavia, mesmo para esses casos, observa-se que o grau de lucidez e a qualidade da obra da personalidade em foco são incrementados visivelmente, para cada fase de maturidade considerada. A própria biografia do gênio mediúnico que você citou, Chico Xavier, o revela. Muito embora sua produção psicográfica fosse excepcional desde cedo, somente em ultrapassando o referido marco dos quinze anos de exercício continuado, quando estava próximo de completar quarenta de idade, é que Chico recebeu os livros mais substanciosos e revolucionários de sua lavra mediúnica. Da mesma forma, seu Guia Espiritual Emmanuel só lhe concedeu autorização para falar em público por meios de comunicação de massa, como a televisão (1), depois de atravessada a segunda marca que anunciamos – dos trinta anos de trabalho incessante.
BTA – Muito interessante. Mais algo a dizer?
EEA – Sim. A mediunidade é função muito séria, que não pode ser abordada com leviandade ou espírito de velocidade, ao capricho da perigosa tendência à celeridade que campeia na civilização pós-industrial dos dias que correm. A era da internet, o fluxo intenso de informações, a pressa para tudo, generalizada, subtraem do indivíduo as vivências de profundidade e, com isso, a estabilidade íntima, afastando-o da sabedoria. Que haja eficiência e prontidão em diversos níveis da atuação profissional, mas, no capítulo do essencial, não se pode agir com pressa, ou os frutos esperados da maturidade serão abortados.
As experiências psíquicas de paranormalidade não são um campo a mais para diversão e entretenimento, ou para conquistas fáceis na linha de produção do consumo em massa. Canalizar inteligências avançadas da dimensão extrafísica para o domínio material de existência exige critério, ponderação e um alto nível de sutileza e perspicácia na avaliação de eventos, situações e pessoas. Apenas mentes amadurecidas logram êxito nessa penosa seara. Discernir vozes mentais, auscultá-las e entrever-lhes as motivações subliminares, desmascarar pseudossábios do além e seus sofismas bem elaborados, tudo isso demanda boa dose de paciência, tino e, principalmente, convicção sólida nos próprios princípios e extrema clareza de propósitos.
Muitos desistem do sacerdócio de intercâmbio mediúnico ao facear as primeiras decepções; outros tantos, à altura da milésima expectativa frustrada. Não é de se estranhar. Somente personalidades com preparo bastante para esse sagrado mister podem suportar o longo período de iniciação, sofrendo os naturais conflitos, confusões e dúvidas interiores, intensificados por ataques de toda parte: entes queridos, colegas do mundo acadêmico, companheiros de trabalho e até mesmo correligionários de suas convicções filosófico-espirituais.
A solidão é de tal ordem, que, nos piores momentos, o coração do(a) discípulo(a) candidato(a) à mediunidade mais ativa conta apenas com sua própria consciência e a confiança em Deus. Em meio a turbilhões emocionais dificílimos, nem sequer pode recorrer a seus Mentores desencarnados, por não ter atingido estágio de segurança suficiente para com eles se aconselhar. Neste ínterim, não são raros os que enlouquecem e descambam para as margens de despenhadeiros lamentáveis do livre-arbítrio.
Sabiamente, a Divina Providência apôs um poderoso obstáculo entre os meros aspirantes ao mandato mediúnico e aqueles que realmente têm condições de assumir a extensão de responsabilidades árduas e tortuosas que a canalização espiritual impõe. Encaminhar almas à Divindade – permitimo-nos parafrasear Emmanuel – não é tarefa para qualquer um(a) que se disponha a executá-la, sobremaneira num mundo intrincado e em permanente mutação, como o da atualidade. Os preconceitos, as complexidades da vida moderna, em transformação constante, as oscilações íntimas na própria mente do(a) médium, as seduções e desvios dos sofredores e desnorteados que lhe procuram a ajuda, o assédio obssessivo de entidades malevolentes, tudo isso requer um acurado grau de autoconsciência por parte do(a) pretendente ao posto de liderança no âmbito do ministério medianímico.
Enquanto não estiver relativamente preparado para o encargo de condutor de multidões, de professor para as questões mais relevantes e profundas da existência humana, jamais deve alguém ousar se colocar como intermediário entre os Orientadores da dimensão espiritual e os que buscam orientação, no plano físico de vida.
Estudo persistente, conhecimento geral enciclopédico, humildade a toda prova, capacidade de se abstrair emocionalmente em situações críticas, resistência hercúlea a tentações e, concomitantemente, abertura ao novo, abordagem não discriminatória, poder de síntese, empatia e grande compaixão para com as dores alheias, além, é claro, de espírito de devoção e serviço, sem intenções escusas de autopromoção através das próprias faculdades psíquicas… Esses são requisitos essenciais para que se encontre um(a) bom(boa) médium.
Eugênia-Aspásia (Espírito)
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
7 de janeiro de 2007
(1) De fato, Chico Xavier trouxe a lume os livros mais importantes de sua lavra psicográfica justamente no período aproximado que se estende entre os seus 30 e 50 anos de idade, ou seja, após completar 15 anos de atividade mediúnica ininterrupta. Por outro lado, só recebeu de seu Guia Espiritual Emmanuel o encargo de falar em rede nacional de TV depois de haver concluído o feito das 100 obras publicadas, quando então já contava 59 anos de existência física e 32 de exercício mediúnico contínuo. (Nota do médium)