Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Eugênia, o que você teria a nos dizer sobre dinheiro?

Que é uma força viva, em nome de Deus, distribuindo vida e felicidade, ou morte e tragédia, de acordo com o uso que lhe é dado por quem o aplica.

Em nome de Deus, morte e tragédia também?

Sim, ou eventos trágicos não aconteceriam com permissão divina? O mal contém mensagens implícitas do bem. Um aprendizado a ser feito, ciclos a serem encerrados, novas fases a serem iniciadas.

Qual a melhor aplicação que se deve dar ao dinheiro?

Primeiramente, gostaria de chamar atenção para uma questão fundamental, anterior à que fez, que está nela embutida. Deve-se procurar uma aplicação para o dinheiro. O grande problema para boa parcela da humanidade é que, ao reverso de procurar aplicar o dinheiro, aplica sua vida, seu tempo, suas energias, toda a sua alma na sua aquisição. Aplicam a vida no dinheiro, em vez de aplicar o dinheiro para a vida. O dinheiro é mera ferramenta favorecedora da vida, e não o propósito da vida.
Quanto à aplicação mais correta: toda aquela que, como acabamos de afirmar, vise a favorecer os fluxos da vida, da felicidade, do bem estar, do progresso, do crescimento, da paz, desde as questões mais ínfimas, como o atendimento de um capricho momentâneo (desde que se não se faça caprichoso permanentemente), às mais sérias, como atender à demanda da sobrevivência no mundo material, o patrocínio da educação dos filhos e da própria, o custeio dos pequenos favores da alegria, como as viagens de férias, os passeios de fim de semana, e, por fim, é claro, o investimento benemérito de recursos monetários, em atividades filantrópicas, sociais, caritativas.

O que dizer para aqueles que têm dificuldades sérias em suas vidas financeiras – no que, por sinal, parece que todo mundo se sente incurso.

Sim, por uma questão de desvio de foco, as pessoas costumam superestimar a importância do poder econômico em suas existências. Mas, subtraindo-se os excessos, do milionário que lamenta não estar tão rico como no ano anterior, ao adolescente que se sente miserável por não ser dono do carro importado mais caro do mercado, existem, sim, pessoas com sérias dificuldades em lidar com a energia monetária. Vemos, por exemplo, pessoas que julgam o dinheiro pecaminoso, inconscientemente, muito embora em nível consciente busquem-no com afinco, mas boicotando-se de todas as formas ao alcance de seus tentáculos subconscientes, desde um comportamento inadequado no trabalho, à desmotivação para estudar e aprimorar-se, para ascender profissionalmente e por conseqüência, também em termos financeiros. Vemos também pessoas que se aprazem em ser pobres, porque julgam isso nobre e espiritual, por se sentirem desapegadas de tudo que é material e confortável. E, por, fim, notamos aqueles que francamente hostilizam o dinheiro, em relações complexas de amor e ódio com os valores pecuniários, seja declarando-se contra o sistema político-econômico vigente, seja criando patologias graves de compulsão a compras, indefinidamente endividadas.

Interessante o que acabou de falar sobre compulsão de compras, dizendo que essas pessoas odeiam o dinheiro…

De tal modo que se recusam a pensar a respeito dele. São, normalmente, personalidades de forte traço infantil, que acham que o mundo e as pessoas devem atender a todos os seus caprichos, independentemente de “convenções chatas” como limites de compra, de orçamento, etc. Para suas psicologias narcísicas, o universo deve se mover em função de lhe suprir todas as fantasias, e, megalômanas, acham-se acima de qualquer convenção, direito ou dever sociais, por isso fazendo vistas grossas a dívidas, porque não lhes conferem qualquer valor, por não se enquadrarem em seu esquema neurótico de grandeza, até que um dia o castelo de ilusões desmorona, por se tornar insustentável a situação.

Impressionante… Algo mais acha importante expender sobre riqueza?…

Bom usar esse termo: riqueza. Hoje, analistas do campo, no plano físico mesmo, fazem uma interessantíssima revelação a respeito: aqueles que se dedicam a atividades que gostam – traduza-se: aqueles que vivem os ideais de sua alma – acabam tendo uma chance 50 vezes maior de enriquecer (ficar “milionário”, em suas palavras) que aqueles que se devotam a ofícios que não os agradam.
Além de ser mais ético, espiritual e decente fazer o que se gosta (fazer o que não se ama, apenas pelo dinheiro, não seria algo equivalente à prostituição?), também no sentido meramente objetivo, de probabilidade de sucesso e ascensão profissional, o atender-se às vocações inatas é imprescindível.
E se considerarmos, ainda, todos as implicações de se trabalhar contra a vontade, na saúde (física, emocional e mental), no bem estar pessoal, familiar e social, vamos chegar à conclusão de que é quase suicídio não se seguir a voz da vocação. Aliás, a própria origem etimológica da palavra vocação já manifesta ser uma voz (a raiz da palavra é o verbete latino: “vox”, que significa voz) a Voz de Deus no imo da criatura. Não seguir, portanto, as próprias intuições vocacionais é algo sacrílego, é fugir à vontade divina ao próprio respeito.

Mas não é tão simples assim; não é, Eugênia? Há pessoas que realmente não têm condições de viver seu ideal.

Sim, é verdade. Estou apresentando uma proposta ideal, para cada um realizá-la dentro do possível para o contexto de suas existências, inclusive no sentido de criar a possibilidade de concretizá-la, lentamente, com trabalho inteligente e sereno. Há dignidade e mesmo louvor em sacrificar-se em empregos monótonos, para se poder propiciar a educação e criação de filhos. Há mérito em adiar a realização de um sonho, para não se falhar com compromissos e responsabilidades assumidos com outras pessoas. Mas que ninguém perca de vista sua alma, sua essência, sua vida. Um poderá dedicar seu tempo de lazer à vocação. Outro poderá criar uma atividade profissional paralela, para aplicar-se ao ideal. Aquel’outro conseguirá dar uma guinada, substituindo a profissão de subsistência, pela do coração. Esses três exemplos podem indicar uma seqüência de desdobramento estratégico da vida profissional, em função da meta espiritual maior, ou podem representar o nível possível de concretização de um sonho, conforme o padrão cármico de cada um. Somente a consciência e esforço de cada indivíduo dirá quando se trata de um caso ou de outro: ou seja – de se estar preparando para um salto maior, ou de se reconhecer que se chegou no limite do viável e ter que se ficar com a circunstância paliativa, como ter apenas o tempo livre à disposição ou precisar viver as duas profissões ao mesmo tempo.

Eugênia, você teria algo mais a dizer sobre o assunto?

Não, mas que cada um veja sua vida em função da felicidade, de objetivos que lhe gerem o bem estar pessoal, como estar com a família e os amigos, viver um projeto filantrópico ou dar a vida a uma causa humanitária. Que nunca alguém se prostitua fazendo sua existência, seu tempo, sua alma gravitarem em torno desse deus profano, esse demônio devorador de todas as vidas, que, todavia, é apenas isso: um “daimon” (verbete grego, d’onde provém o vocábulo do Português “demônio”), um “espírito”, que pode ser bom ou mau, de acordo com o que fomenta na vida de cada um, pela aplicação que cada um lhe faz.

(Diálogo travado em 10 de abril de 2003.)