(Região Nordeste, a que mais prospera econômica e socialmente no Brasil.)

Delano Mothé (*), em diálogo com o Espírito Eugênia.
Médium: Benjamin de Aguiar


(Delano Mothé) – A senhora gostaria de comentar alguma coisa sobre a lastimável atitude da moça paulista que atacou pela internet os nordestinos?

(Espírito Eugênia) – O que nós percebemos, sempre que uma espécie de saturação é alcançada, em determinado aspecto do inconsciente coletivo, é que alguém, funcionando como um fio terra do inconsciente, age como o tal “mensageiro da sombra” da psicologia junguiana, só que em funções de caráter coletivo – já que o egrégio psiquiatra suíço aludia a um fenômeno interno, do inconsciente individual.

Recentemente, tivemos a desaprovação nacional (pela imprensa) à vaia (tribal) de uma certa faculdade do interior paulista, contra uma jovem que se mostrava trajada de modo menos pudico. O machismo, disfarçado e projetado num “bom cabide” (porque havia o pequeno detalhe do “inapropriado” da vestimenta da moça, para o ambiente em que se encontrava), mostrou que, no país inteiro, não há eco a atitudes de caça às bruxas, tão comuns no passado, em outras culturas e nacionalidades – no caso, de perseguição fratricida a metade da população humana, pelo pecado imperdoável de haver nascido no gênero feminil da espécie.

Pouco antes, eclodiu, na cidade do Rio de Janeiro (famosa por suas liberdades avançadas, desde o início do século transato), o episódio pitoresco da infeliz psicóloga que foi achincalhada nacionalmente, porque estava pretendendo “curar” gays. O repúdio generalizado a tal iniciativa deixou claro que a sociedade brasileira não aceita mais a homofobia, ao menos em termos conceituais, científicos, acadêmicos e culturais (resistindo o preconceito apenas, lamentavelmente, em guetos familiares e religiosos de retrocesso medieval – o que ainda, infortunadamente, é por demais comum).

Com esta nova ocorrência, mais não temos do que a percepção do “Self Coletivo Brasileiro” – digamos assim –, quanto ao absurdo de os nordestinos serem discriminados, escancaradamente, em regiões do Sul e Sudeste pátrios, justamente as menos eivadas de pureza nacional, com a ingente parcela de contingentes de europeus imigrantes nos últimos dois decênios – pelo que se fazem, nossos irmãos sudestinos e sulistas, “novos brasileiros”, e não “tradicionais brasileiros”, ousaríamos afirmar. A provocação maior para tal catarse foi a vitória terceira de um líder político tão carismático, que elegeu uma sucessora mulher (desculpem o pleonasmo) e não portadora de dons especiais de carisma, proveniente ele do Nordeste da nação, não pelas vias elegantes dos grandes artistas e intelectuais do Norte-Nordeste brasileiros, que rivalizam em pé de igualdade com os de outras regiões do país (se não os superam), mas pelas veredas palmilhadas por aquele grupo que, condenado e perseguido gratuitamente, exilado da fome e da seca, dá sua vida e seu sangue na construção das metrópoles do Sul-Sudeste, sobremaneira a cidade de São Paulo – irônica e injustamente, onde há mais discriminação aos nordestinos.

N’outras palavras, chegou o momento do “Basta” Divino. Tal ordem de impropriedade conceitual e de conduta não tem mais como prosseguir, com um mínimo que seja de respeitabilidade, ante as classes cultas e dirigentes da pátria brasileira – fazendo alusão aqui não a dirigentes no sentido dos que estão encarapitados em cargos políticos ou administrativos de relevo na República, mas a toda sorte de liderança, seja cultural, jornalística, artística, religiosa ou mesmo estudantil.

(Diálogo mediúnico travado em 14 de novembro de 2010.)

(*) Delano Mothé é natural do Estado do Rio de Janeiro, radicado em Sergipe desde 2007.