Benjamin Teixeira
em diálogo com o espírito Eugênia.

Eugênia, você teria algo a nos dizer, para este Natal de 2006?

Sempre há o que se falar, quando se trata de Nosso Senhor Jesus e Suas idéias excepcionais, intemporais, revolucionárias, salvadoras. Vivemos uma era de quebra de paradigmas. As pessoas estão cansadas de hipocrisias, e exige-se, cada vez mais, das criaturas humanas, coerência entre propósitos e comportamento, além, obviamente, da premissa implicada nesta assertiva: a existência (a definição prévia) de propósitos. Cristo representa o nosso ideal, a vocação da alma, o conclamo do coração. Quem não segue um princípio de transcendência, necessariamente se frustra. É impossível ser feliz sem o espírito de serviço a Algo Maior que o ego e seus interesses rasteiros de sobrevivência imediata. Claro que há personalidades em nível de maturidade inferior, que, portanto, têm menor necessidade de viver o espírito. Mas, neste caso, estamos falando de indivíduos excessivamente fisiológicos, primitivos o bastante para estarem próximos da condição animal. Quem for algo civilizado sentirá premências psíquicas diferentes da mera satisfação dos impulsos de sobrevivência no corpo de carne. E, além dos ímpetos do ego – que empolgam, mas não realizam –, imprescindível ouvir-se a voz da consciência que diz: “Sirva, sirva!…”

Fabuloso, Eugênia. Creio que a maior parte das pessoas concordaria com você. Mas parece que é este o problema: concordam, intelectualmente, mas não conseguem aplicar em suas vidas…

Você tocou num ponto capital, numa ferida grave dos nossos dias, que gostaria muito de ventilar. A cultura ocidental, em muitos aspectos hegemônica no globo, é exacerbadamente intelectiva. A supervalorização da inteligência (e da inteligência racional, lógico-analítica), em detrimento do coração, do sentimento (e de todas as inteligências a este relacionadas, como a intuicional, a mediúnica, a afetiva e a moral), tem levado a civilização terrícola, como um todo, à beira do precipício. Urge o desenvolvimento dos potenciais do sentimento no gênero humano no nosso orbe. Somente o amor e a disposição de servir santamente ao próximo, em nome de Deus, que enfeixam uma gama de vivências íntimas multicromáticas, podem salvar nossa espécie, neste planeta, da derrocada final.

Alguma previsão neste sentido? Você está fazendo alguma revelação apocalíptica, Eugênia?

De modo nenhum. Isto, inclusive, já foi tratado, por Nossa Mãe Santa, em Sua carta à humanidade, deste ano (*). Não vai acontecer o pior, porque muitos, sob inspiração d’Ela, agirão no sentido de corrigir os desequilíbrios da nossa época. Mas, sem dúvida, o perigo de que muitos se percam, neste processo grave e complexo de transição civilizacional, desalinhados da diretriz de Nossa Grande Mãe, leva-nos a fazer esta convocação do coração, para que todos ativem o melhor de si e, com isso, se salvem.

Como, Eugênia, em termos práticos?

Ouvindo a voz do próprio coração, em todos os sentidos. Passar mais tempo com os entes queridos, ser mais bondoso, terno, generoso, prestimoso e caridoso, não só com os mais amados, mas também com os companheiros de trabalho, de lazer, de encontros domingueiros de desporto ou religião. Somente o amor nos pode redimir… Isto não é novidade. Passemos, todavia, a aplicar este princípio basilar, em pequenas medidas, mas numerosas e em todos os departamentos de nossas vidas, e nos surpreenderemos com os resultados, no sentido de realização íntima, paz e felicidade.

Vou tornar à crítica recorrente à época natalina: de que se trata de uma mera jogada da indústria do consumo, para vender mais largamente.

Quem realmente pensa desta forma está demonstrando uma ambliopia lamentável. Em culturas primitivas, de todos os lugares e épocas, quanto nas mais avançadas, como a atual, a presença de datas, de convenções e ritos coletivos é universal. Os povos têm seus rituais de passagem, e o ser humano, como atestam a Antropologia e a Psicologia, não dispensa tais mecanismos culturais, para galvanizar e desdobrar conteúdos importantes à sua completude existencial. Obviamente que existe a intenção comercial, na propaganda consumista exagerada, bem demonstrada, inclusive, no estranho desvio da figura de Jesus, o aniversariante, para um bizarro Papai Noel (sobre que já comentamos mais extensamente n’outra ocasião), fazendo com que a reflexão cristã converta-se em orgia alimentar e de permuta de presentes materiais. Todavia, mesmo a troca de presentes e as lautas e ruidosas ceias de Natal oportunizam a confraternização, a reconciliação, a aproximação entre os indivíduos, e isto, sem dúvida, é muito positivo. Não por acaso, inúmeras pessoas se fazem depressivas neste período de “festas” de final de ano, pelos conteúdos difíceis e profundos que são nelas trabalhados. Imaginemos como seria ainda mais complicado se os temas fossem feridos frontalmente, sem os anteparos psicológicos das folias natalinas. Assim como existem ferramentas pedagógicas para a alfabetização infantil, que parecem fugir ao seu propósito educativo (quando analisadas superficial e rapidamente), com seus mecanismos lúdicos – sendo que, ironicamente, os exatos motivos de aparente desvio de foco educativo são os que melhor favorecem o aprendizado –, igualmente a Espiritualidade Sublime autoriza as “distrações” do consumo, as brilhantes árvores de Natal, as musiquinhas pitorescas (semelhantes a cantigas infantis – observem a curiosidade), a fim de que o essencial seja dito e recebido, em profundidade, nos corações, incluindo os menos receptivos e empedernidos, que assimilam a mensagem fundamental à fraternidade cristã, simbolizada em todos os rituais natalinos, por meio da subliminaridade da propaganda.

Alguns, porém, já fazem algo diferente, com atividades caritativas e religiosas deliberadas neste período… De qualquer forma, são também atacados por isso, com a acusação de que só se dedicam ao bem ou só o fazem mais largamente no tempo de Natal.

Os que vão além das meras celebrações e partem para a prática da caridade comemorativa da efeméride cristã são mais maduros espiritualmente que a massa inconsciente da origem e destinação divinas do espírito eterno (a essência de cada ser humano), e recebem maior assistência, no sentido de não soçobrarem em seus intentos nobres, em meio a tanta indução a distrações, que, para eles, são contraproducentes, assim como o caderno de cartografia ou as folhas pautadas atrapalham a escrita fluente do alfabetizado veterano. Estes que se devotam a cultos de socorro ao próximo e de orações coletivas, por ocasião do Natal, treinam seu potencial para a virtude, a fim de que se possam tornar, em futuro, fraternos e amáveis, continuamente, como se mostram no período natalino. Logo, a crítica que se lhes faz, de não serem, no restante do ano, como no Natal, é tão coerente como exigir-se que uma criança seja tão comportada no pátio de recreio da escola, quanto o é em sala de aula. O período natalino constitui um convite coletivo (dirigido à humanidade) ao exercício do amor em níveis mais altos de expressão, de modo a que se possa apresentá-lo, progressivamente mais profundo e amplo, como conquista evolutiva consolidada, também em épocas não-festivas.

(Diálogo travado em 21 de dezembro de 2006. Revisão de Delano Mothé.)

(*) Leia-a nos itens antigos da seção “Destaque”, neste site.

Fonte: http://www.saltoquantico.com.br