Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Eugênia, você teria algo a falar sobre o perdão?
O perdão é uma prática de bom convívio social. Impossível viver harmonicamente e feliz sem ele. Toda vez que guardamos mágoa, dificultamos a própria felicidade. Alguém é mais impaciente. Outrem é mais intempestivo. Mais aquel’outro, guarda paixões animais dentro de si, desgovernadas. Mais adiante, alguém se consome de ambição e ganância. Ou seja: na Terra, ninguém passa isento de falhas a serem buriladas, pelo cinzel da evolução. E é exatamente por esse motivo que a Divina Providência coloca criaturas deficientes umas ao lado de outras, a fim de que se lapidem reciprocamente, no atrito de suas protuberâncias psicológicas e morais.
O que você sugere para quem tem dificuldade de perdoar?
Pensar em si com mais inteligência. O perdão não é algo que se concede ao outro, mas a si mesmo. Quem perdoa se liberta do jugo do inimigo injusto. Quem perdoa coloca um ungüento sobre a ferida que lhe foi feita na alma. Quem perdoa dá-se o maior presente: a alforria da escravidão do ódio e do ressentimento, que tornam o algoz um deus na própria vida, em vez de rechaçá-lo da mente, como intenta, inconscientemente, após a grande injustiça sofrida.
E quanto àqueles que sofreram grandes injúrias?
Mais um motivo para perdoarem: para banirem de suas almas o inferno da presença do ódio, para esquecerem as imagens que os atormentam. A ferida que lhes foi aberta no coração já é dor o bastante, somar-se à própria auto-flagelação do ódio é uma injustiça ainda maior que se comete contra si mesmo.
E há algo prático a dizer sobre o perdão?
Além do fato de que é uma necessidade tão prática e inarredável, quanto obedecer a regras de trânsito, a fim de que se possa viver em sociedade, quero lembrar que, muitas vezes, aquilo que menos se tolera no outro são aspectos de personalidade que têm anversos importantíssimos, produtivos e valiosos. Por exemplo: pessoas irritadiças, inquietas, agressivas possuem enorme carga de energia para a ação, assim podendo se converter em grandes realizadoras. Indivíduos neuróticos com organização, metódicos e perfeccionistas, muitas vezes são os melhores administradores de recursos, patrimônios e negócios, pelo fato de que não descuram dos detalhes, essenciais para a gerência de empreendimentos. Aquel’outros mui ciumentos podem-se fazer excelentes zeladores de almas, como, por exemplo, dirigentes de escolas, de instituições hospitalares ou de asilos para idosos. Quem é muito sexual pode transmutar suas forças – ou pelo menos o excedente delas – para práticas criativas, como as artes de um modo geral, os trabalhos de liderança política, as atividades de escrever e falar em público, entre outros. Ou seja: quase sempre as pessoas se lamentam por alguns indivíduos apresentarem os sinais característicos de aptidões altamente desejáveis. Rejeitam, assim, o refugo da fábrica, junto com a fábrica inteira, ou, como gostam de dizer os norte-americanos: jogam o bebê fora, com a água do banho. Que ponderem, e encontrem, no exercício da tolerância, uma das chaves-mestras da felicidade e da paz, e verão que ser indulgente, mais do que ser indicativo de santidade ou virtude, não passa de mero resultado de maturidade psicológica, lucidez e experiência.
Mais algo a dizer sobre o perdão?
Não, por hoje é só.
(Diálogo travado em 6 de maio de 2003.)