Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Eugênia, uma das mais abomináveis falhas humanas, universalmente reconhecida como tal, parece ser o abuso sexual de crianças, que, segundo levantamentos norte-americanos, teria proporções epidêmicas, com um terço das meninas e um quinto dos meninos tendo sido abusados em algum momento de suas vidas infantis. Outros autores aludem a “pseudo-lembranças”, como sendo construções fantasiosas do inconsciente, semelhantes a memórias. O que teria a nos dizer sobre tudo isso?
Que, de fato, o abuso sexual de crianças é um ato execrável, já que a criança não tem condições de processar o evento, criando cisões horrendas em sua psique, de difícil cicatrização, condicionando relacionamentos problemáticos por toda a vida adulta, exceção feita àqueles que procuram, quanto antes, ajuda psicoterápica adequada, e, mesmo assim, sem muito sucesso na completude da cura.
De fato, muitas das memórias são aparentes, constituindo construções simbólicas do inconsciente, visando a elaborar temas arquetípicos de inter-relação com adultos, sobremaneira os progenitores. Mas, apesar de algumas delas serem “falsas memórias”, a maior parte, lamentavelmente, desses eventos traumáticos é verídica. A atmosfera de impunição do lar, a sombra de poder dos que se exigem manter personas (*1) por demais civilizadas na vida social, pode irromper com quem menos tem condições de enfrentá-la: frágeis crianças em casa, os seres que mais mereceriam amor e proteção de seus usurpadores de inocência. É, sem dúvida, um crime horrendo, que somente hoje é compreendido como tal. No passado, meninas de 12 anos ou menos costumavam ser entregues em casamento a homens adultos, muitas vezes com idade de serem seus pais ou avós. Somente hoje compreende-se tal atitude como errônea, não só no sentindo psicológico como no espiritual.
Por fim, é importante que se atente para o fato de que existem outros abusos, no mínimo tão graves como o sexual, tais como: o abuso físico (não sexual, como o espancamento), o emocional, o intelectual, o religioso e o espiritual. Se eu bato em minhas crianças, quando disponho de outros meios para educá-las, e se o faço de forma severa, estou abusando fisicamente meu filho. Se eu digo: “Pare de chorar, porque não há motivos”, sem examinar, cuidadosamente, os motivos profundos da criança, perpetro abuso emocional. Se eu lhe digo: “Cale a boca, que não é conversa para crianças”, ou: “Pouco me importa sua opinião – opinião de criança não tem vez” realizo um abuso intelectual. Se eu falo para ela: “Sua religião é ridícula. Deve seguir a minha”, dou vazão ao abuso religioso. E, por fim, se digo: “Aqui em casa, todos terão profissões de prestígio, e você deve se formar em Direito ou em Medicina”, expresso o abuso espiritual, que desencaminha a pessoa da rota de sua alma, do seu sentido de propósito e de sentido para viver.
Por fim, com relação à sexualidade precocemente ativada das crianças, importantíssimo que os pais atentem para não estarem expondo seus filhos e filhas a uma erotização da infância. Pais que estimulam comportamentos tais como: menininhas se vestindo, se comportando e dançando como mulheres adultas, inteiramente sexualizadas, o mesmo dizendo para garotos, podem estar cometendo um erro tão grave como aquele que invade a intimidade de uma criança, num abuso sexual propriamente dito. Uma mãe não pode achar bonitinho e aplaudir que a filhinha de menos de dez anos goste de dançar semi-despida de forma erótica e provocante. Um pai não pode ficar orgulhoso de seu filhinho fazer atentados ao pudor, abordando sexualmente mulheres adultas, com apenas 10 ou 12 anos. Muito embora condutas como masturbação infantil e a descoberta do próprio corpo sejam naturais, como afirmam acertadamente os psicólogos do plano físico, e devam ser encaradas com naturalidade, não se pode deduzir que uma criança que age como adulto está dando mostras de maturidade. Ela pode, tão-somente, como uma fruta tirada verde do pé, estar bloqueando o seu desenvolvimento saudável e completo, travando, com a precocidade, aspectos de si que desdobrariam se houvesse mais tempo para se desenvolverem, do mesmo modo que a fruta verde, se ficasse no pé por mais tempo, tomaria forma maior e teria sabor mais palatável e doce que quando amadurece fora do pé. Os pais, ao serem confrontados com a sexualidade precoce das crianças, não devem ter escrúpulos em dizer: “Não há nada demais no que você disse (ou fez), não é sujo ou indevido. Mas você está muito novo para isso, e seria melhor que passasse mais tempo apenas sendo criança, porque você é uma criança, brincando e estudando. Quando você se tornar adulto, será adulto para sempre. Não tenha pressa em chegar lá”. Se a criança insiste na postura precoce, talvez realmente um aspecto dela tenha amadurecido antes de outros (e isso está acontecendo, coletivamente, com a sexualidade, de fato, pelo lamentável bombardeio da mídia em torno da temática), mas os pais, apesar de não deverem reprimir a sexualidade de seus filhos, não podem, de modo algum, esquivar-se de impor limites, como, por exemplo: “Da próxima vez que expuser o seu pintinho em público, vai ficar sem os joguinhos do computador por três dias”, ou: “Da próxima vez que se sentar no colo de um adulto daquela forma, vai ficar duas semanas sem usar seu estojo de maquiagem”.
Muito interessante você entrar nesses detalhes práticos, Eugênia: creio que vai ajudar muito os pais, porque, inclusive, muitos deles são inclinados a fazer vista grossa ou a rirem de ocorrências semelhantes as que você citou como se fossem inocentes.
E não são realmente. A criança é que é inocente, não sua sexualidade precocemente despertada. Devemos proteger o núcleo espiritual da alma da criança dos ataques venenosos de nossa cultura sexólatra, para que elas tenham tempo de desenvolver partes essenciais dos relacionamentos interpessoais, como a amizade com coleguinhas da mesma idade e a relação com figuras de autoridade, como pais e professores. Se deixamos a criança sexualizar-se antes da hora, provavelmente vai focar seus relacionamentos com essa tônica, talvez nunca desperte ou desperte indevida ou incompletamente, para as formas essenciais de amor e relacionamento fraterno, que são mais importantes que os relacionamentos sexuais, já que os relacionamentos sexuais são uma espécie de que eles são a generalidade e não o contrário. Assim, são os relacionamentos sexuais que devem começar com envolvimentos afetivos de alma a alma, e não o inverso. Mesmo porque, vida afora, numa sociedade civilizada como a nossa, a esmagadora maioria dos relacionamentos interpessoais são não sexuais, o que é saudável e desejável. Portanto, aparentes modernidades podem, de reversa maneira, constituir terríveis atentados ao equilíbrio, à inteireza e à maturidade de um indivíduo, tornando-o inapto ou desajustado nas suas interações com o mundo à sua volta.
Mais algo a dizer sobre essa fascinante e palpitante temática?
Não.
Obrigado, Eugênia. Você foi muito esclarecedora. Tenho a impressão de que será de grande valia esse diálogo para os inúmeros angustiados e desnorteados pais da atualidade, que não querem mais ser moralistas, nem tampouco permissivos.
Cumpri o meu dever. Sempre às ordens, para assuntos sérios.(*2)
(Diálogo travado em 29 de fevereiro de 2004.)
(*1) Personalidades socialmente apresentadas, com exclusão dos aspectos indesejáveis de si, que vão para a “sombra psicológica”.
(*2) Os Espíritos Superiores não perdem tempo com assuntos frívolos. É um alerta para aqueles que desejam abordá-los falando de futilidades ou curiosidades vãs. Uma comunicação mediúnica pode-se dar, dentro dessa psicosfera, mas não numa interação com entidades do Plano Maior, e sim com seres perversos, enganadores ou brincalhões do Além.
(Notas do Médium)