Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Eugênia, o que você me diria sobre a vitória nas eleições do presidente norte-americano George Bush, para um segundo mandato na Casa Branca? O mundo inteiro está desolado. Ele parece inapto, inculto e, principalmente, afoito demais para um cargo de tamanha responsabilidade e envergadura, sobretudo em época tão crítica como esta, do pós-atentados-11-de-setembro.

Que as aparências enganam, e que devemos raciocinar considerando a psicologia humana, e, sobremaneira, os resultados finais dos eventos em foco. Jesus ensinou-nos que se conhece a árvore pelos frutos.

Como assim?

Em épocas de crise extrema, em que um perigo grave sobrevém sobre comunidades humanas organizadas, o sistema parlamentar de governo, as posturas moderadas e ponderadas de condução das decisões estatais não são eficazes, já que se exigem posicionamentos prontos e firmes, que contenham a fúria destrutiva dos acontecimentos do momento. Por exemplo, a Inglaterra, no período da 2a Grande Guerra, apesar de sua secular tradição parlamentarista, colocou, com poderes plenipotenciários (apesar de provisoriamente), um homem de posições firmes, no alto comando das forças militares do país, a fim de fazer frente ao inimigo selvático de terras germânicas.

Não estamos entrando no mérito de comparar Winston Churchill, indubitavelmente um gênio do estadismo, com a política mais bisonha, levada a cabo pelo atual presidente norte-americano, mas a necessidade de se colocar, no posto máximo de poder da nação líder do mundo, alguém suficientemente altivo e decidido, mesmo disposto a posturas radicais, para que a irracionalidade de parte a parte seja frenada, pelo medo de retaliações. Não por acaso, após os atentados de 11 de setembro de 2001, apesar de todos os mais sombrios prognósticos de analistas políticos de todo o globo quanto ao que se daria nos meses e anos seguintes, as iniciativas do terrorismo perderam força e organização, diluindo-se progressivamente.

Embora reconheçamos o inconveniente da ótica imperialista e invasiva do povo norte-americano, sob a orientação do atual governo, não podemos deixar de reconhecer que o pior foi contido, pela atuação sem vacilações do atual dignatário da Casa Branca. Quando a razão falta, e, sem dúvida alguma, foi o que aconteceu com os fanáticos seguidores de Alá, somente o medo tem efeito. E, como muito bem afirmou o conhecido “mestre da guerra”, o chinês Sun Tzu: se alguém quer a paz, deve estar pronto para a guerra(*). A reação desproporcional do presidente norte-americano, invadindo um país, depondo seu governo e esmagando opositores, imaginários ou reais, deu aos eventuais novos terroristas, uma vaga noção do que os esperaria, caso dessem continuidade a seus intentos genocidas, porque, apesar de xiitas maometanos terem instinto suicida, não desejam que seus entes queridos, nem suas nações sejam solapadas pelo povo inimigo, que deu mostras claras de estar disposto a pulverizar quem ameace seus cidadãos.

Eugênia, suas colocações são altamente controversas. Creio que muita gente vá se surpreender com sua postura.

Ingenuidade e falta de visão de muitos que supõem que ser civilizado e espiritual é ser tolo e imprudente. Ninguém deixa as portas de casa destrancadas para ir dormir, nem propõe desarmar a polícia brasileira, em prol de ideais humanitários. Dizer que não foi para o bem, em algum nível, a chegada de George Bush ao poder, mais uma vez, é dizer que Deus permite que eventos improdutivos ocorram. Os efeitos de algum acontecimento podem até ser, a curto prazo, negativos, mas, se Deus permite que algo ocorra, um benefício maior será gerado, a médio ou longo prazo. Não sendo assim, poderíamos acreditar que o aparecimento de Adolf Hitler, por exemplo, foi um equívoco da Divina Providência, e é sabido o quanto em termos humanos, e não apenas tecnológicos, avançou a humanidade, após as barbáries perpetradas pelo povo alemão e mesmo pelos aliados, no transcurso da segunda grande conflagração mundial.

Compreendo. Mas, para deixar claro a nossos leitores o nível de interpretação que está conferindo a esse último sucedido ianque, você não quer dizer que estejam erradas campanhas que visem a levar ao poder chefes de governo mais conscienciosos e justos, não é mesmo?

Obviamente que não. Estou apenas alertando para o fato de que, se algo aconteceu, Deus permitiu, e se Deus permitiu, ainda que não logremos divisar as finalidades, num primeiro momento, dado nossas limitações de percepção e avaliação, um dia conseguiremos. Mas, no caso do último pleito à presidência nos Estados Unidos, creio que a decisão foi acertada, em considerando os itens argumentativos que apresentamos acima e, outrossim, em vista da personalidade sofrivelmente assertiva do outro candidato.

O povo norte-americano e o europeu devem se conscientizar da necessidade de debelar a miséria e as graves injustiças sócio-econômicas e culturais que separam povos e indivíduos, mas isso não é tarefa que se possa levar a efeito em poucos anos, como pretendiam os terroristas. Logo, a situação de emergência: de violência e desrespeito aos direitos constituídos entre as nações, deveria ser, primeiramente, debelada, para que, então, somente após isso, possa-se levar a cabo as demais mudanças estruturais, altamente complexas e laboriosas, que demandarão não anos, mas gerações. Imaginar que as coisas pudessem ser diferentes, repito: constitui ingenuidade, muito embora podendo ser idealista e sincera. Se um estado de insegurança internacional de fato se configurasse, alargando as fronteiras da histeria das grandes nações líderes do planeta, aí sim, teríamos eventos terrivelmente trágicos pela frente, e os povos pobres da África e da Ásia seriam, obviamente, aqueles a pagar o preço mais alto.

Você é péssima comigo, Eugênia (risos)! Vai me fazer publicar tese tão polêmica como esta…

Deus não está preocupado em agradar partidos políticos ou a opinião pública. E nós, como representantes da Divindade, não estamos, igualmente, interessados em ser políticos, se isso implicar ser “inverdadeiros”. Quando um professor estabelece o currículo em sala de aula, para estudantes de primário, não lhes pergunta se concordam com o sistema de ensino aplicado, nem com a divisão de matéria e diversas disciplinas a serem ministradas em sala da aula. Mais amadurecidos no carreiro evolutivo, dirigimo-nos à humanidade, como o fizéssemos a crianças, e, embora esclarecendo respeitosamente nossos pontos de vista, não estamos abertos a negociação, assim como pais conscienciosos podem ser psicológicos e amorosos, mas não sujeitos a opiniões ou deliberações por parte de filhos em idade infantil.

Isso fere, eu sei, a vaidade de alguns homens orgulhosos, mas isso também é bom, para que se tornem mais lúcidos quanto à própria condição, ante o concerto das coisas, porque, de fato, muito pouco somos ante a Grandeza de Deus e Suas deliberações sacrossantas e perfeitas.

Mais algo a dizer?

Sim, que a discussão está sempre em aberto. Mas que aguardamos contra-argumentos melhores e não “opiniões desfavoráveis”, porque, obviamente, como condutores da humanidade, não nos impressionamos com isso.

(Diálogo travado em 7 de novembro de 2004.)

(*) Pensamento incluso no clássico: “A Arte da Guerra”, escrito há 2500 anos, no nordeste da China.

(Nota do Médium)

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