Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eustáquio.

“Que se salve a si próprio, se é o Cristo, o escolhido de Deus!”

(Lucas, 23:35).

“Em verdade, te digo hoje: estarás comigo no paraíso.”

(Lucas, 23:43)


Escarnecem de ti, por estares no alto do Calvário, em vez de te socorrerem?

Observam-te com asco e desdém, quando te deveriam copiar o gesto valoroso?

Querem de ti sinais que não fizeram por merecer? Supõem que seja possível fazer-se espetáculo circense com coisas sagradas? Querem brincar, na hora dos assuntos e problemas mais sérios e elevados? Supõem-te louco ou espúrio, por não te adaptares a seus caprichos pueris?

Reconheces-te, porém, apesar de tudo isso, alma imperfeita, e, ao reverso de te sentires vítima martirizada, mal consegue levantar os olhos ao Alto, tão indigno que te julgas ante o Senhor?

Então, amigo, estás a caminho do Céu.
Por mais pecador que te sintas e que sejas, se prossegues em serviço, a despeito de percalços e toda sorte de inconvenientes, pressões a adversidades, és um eleito do Cristo, pelo simples fato de perseverares até o fim, pelo fato de tu mesmo te escolheres para a lealdade integral à Espiritualidade.

Engole, assim, as agressões escarninhas que te fazem, e segue, impertérrito, na senda de auto-redenção que assinala teus passos. O Cristo segue em frente, abrindo-te alas para o paraíso. Se fizeram o que fizeram ao Ungido, o que pensas que poderia ser feito a qualquer um de nós, almas impuras, muito longe da transcendência?

Hoje, amigo, estás angustiado, contemplando a solidão, a ingratidão, o medo. Amanhã, porém, estarás no paraíso, ao lado do Cristo, no estado de consciência que te brotará na alma, pela vivência serena e cristã dessa provação acerba.

Esforça-te, porém, por notar que podes estar já agora no paraíso sem haver disso se apercebido. Porque, afinal, que te importa se todo o mundo estiver contra ti, mas tua consciência estiver em paz? Que importa se forças medonhas pareçam se conjugar contra ti, se estás ao lado de Deus, qual o bom ladrão ao lado do Cristo?

Sim, podes, de fato, ter agido mal em diversas circunstâncias, nesta ou n’outras vidas. Podes, ainda hoje, portar deficiências e inclinações pouco lisonjeiras, mas, se te dispões, sinceramente, a seguir o Cristo, ainda hoje, ainda agora, podes adentrar o paraíso, pela consciência em paz, pelo alinhamento com os divinos desígnios, e pela compensação extraordinária de felicidade e plenitude advindas de se realizar o próprio destino, de cumprir-se uma missão superior, de atender a um propósito divino.

Cruz representa martírio, conflito, suspensão da realidade, na duplicidade cruzada das traves da matéria e da espiritualidade, do animal e do anjo simultaneamente ativos no imo da criatura encarnada, arrastando a alma para uma angústia acima da matéria, sem estar ainda no Céu. Mas, por outro lado, simboliza também uma seta que aponta para Cima, sugerindo ao espírito sofrido que, por mais dolorosa sua conjuntura, trata-se de rápida transição, rumo à ressurreição de vida eterna, que não lhe tardará chegar.

(Texto recebido em 8 de janeiro de 2003.)