Só Sergipe – O senhor hoje é uma referência quando o assunto é espiritualidade e desde tenra idade começaram os seus contatos com o mundo espiritual. Quando o senhor se deu conta de que podia ouvir os espíritos ou conversar com eles?
Benjamin Teixeira de Aguiar – De início, não percebia que me comunicava com espíritos, e sim com pessoas que, em minha primeira infância, confundia com as encarnadas. Somente na segunda metade da infância, dei-me conta de que ouvia (mais do que via) seres que outros indivíduos encarnados não percebiam pelo sensório físico.
O mais forte episódio dessa fase aconteceu quando eu contava 6 anos de idade, num treino de educação física, de que fui excluído pelo professor, por eu ser menor que os coleguinhas – todos mais velhos do que eu, dois anos ou mais. Na arquibancada do pequeno campo de futebol, comecei a ouvir uma voz amistosa, que me confortava e me fazia companhia. Achei estranho, porque, ao meu lado, só havia a pasta escolar.
Essa voz retornou várias vezes, em crises agudas, sempre trazendo lenitivo para os paroxismos dos tormentos que passei na infância, na condição de médium e de homossexual – eu sabia que era gay, sem conhecer nenhuma qualificação técnica, digamos assim, para tal orientação sexual, mas sim por expressões pejorativas e condenatórias, que me rendiam grandes padecimentos. Ao retornar de Florianópolis (onde residi por um ano e meio) para Aracaju, em julho de 1977 (com apenas 6 anos de idade), eu já tinha consciência dos dois “terríveis segredos”.
SS – O senhor lembra como foi seu primeiro contato com alguém que vive em outro plano? Com quem foi e o que esse espírito lhe disse?
BTA – Conforme comecei a dizer na resposta anterior, não me recordo do início, que se perde nas brumas da memória. Mas o episódio mais pitoresco de minha primeira infância foi de um tal “amigo” que brincava comigo, antes de nos transferirmos a Santa Catarina. Portanto, eu tinha quatro anos ou menos – fomos para lá quando eu acabara de completar 5 anos.
Minha mãe biológica, em princípio, encarou isso como fruto de imaginação infantil. Até que, em certa ocasião, ela resolveu adentrar o quarto em que eu estava, preocupada com as pausas que eu fazia na fala, de modo que parecia ouvir um interlocutor, em meio a um diálogo, supondo ela que algum encarnado pudesse haver invadido a casa. Como ela também é dotada de funções mediúnicas ativas, logo que entrou no recinto, deparou-se com um senhor grisalho desencarnado que a recebeu com uma mesura cavalheiresca, à guisa de boas-vindas. Eu lhe disse, então, com a naturalidade da criança que não fazia distinção entre os dois planos: “É esse o meu amigo, mamãe”. Posteriormente, ela veio a descobrir que se tratava do antigo proprietário da casa em que residíamos, falecido há muitos anos.
SS – O senhor pode explicar como foi sua experiência fora do corpo com o espírito Irmã Brígida (Elisete Nabuco, sua tia-avó materna), conforme consta em sua biografia no site Salto Quântico?
BTA – Uma epifania. Estava completamente consciente de contactar “tia Brígida”, como a chamávamos em casa (nome que ela adotou ao fazer seus votos perpétuos de religiosa), só que a via de forma diferente da que eu esperava. Nada de hábito de freira. Cabelos curtos, castanho-claros, próximos do louro, túnica simples, branca. Era janeiro de 1981. Corri ao quarto de minha irmã Marilia, com 7 anos à época (eu com 10), também portadora de sensibilidade mediúnica (tudo indica que a aptidão à mediunidade é geneticamente transmitida), para lhe relatar a experiência, e qual grata surpresa não tive ao encontrá-la sentada à cama, em uma espécie de brando estado de choque, partindo a me dizer, em sua linguagem de criança: “Benjamin, eu vi um fantasma!” Mais curioso ainda: ela descreveu uma tal mulher de cabelos curtos e claros, vestida num “lençol”, descrição que batia com o que eu acabara de ver.
SS – Esse dom o deixou assustado? O senhor conversou com seus pais e outros familiares sobre esse assunto? Como eles receberam a informação?
BTA – Com relativa naturalidade, graças a Deus, porque, como disse, minha mãe é médium, ao passo que meu pai respeita a existência do fenômeno. Durante minha infância, porém, ambos adotaram a abordagem de dizer que eu estava confundindo ruídos do mundo físico com os provenientes da dimensão extrafísica, para me tranquilizarem, toda vez que eu ouvia espíritos circundando (passadas bem audíveis), num cômodo em frente ao meu quarto, onde havia um piano fabricado em 1924. Soube-se depois que era o mesmo senhor, responsável pela construção da casa – minha irmã Marilia também o viu, num velório que acontecera ali, após o decesso de sua esposa. Ele ia e vinha, de um lado para outro, inconsolável… a despeito de tantos anos passados…
SS – O senhor se tornou espírita em 1988, conheceu Chico Xavier em 1990, e em 2008 desligou-se da doutrina e dos movimentos espíritas, declarando a independência e o caráter universalista do Instituto Salto Quântico. O que o levou, digamos, a esse grito de independência? O kardecismo não o atendia mais?
BTA – O desligamento formal do Kardecismo foi resultado de um longo e profundo processo de reflexão. Para resumir a complexa questão, a desvinculação se fez premente, para que houvesse respeito tanto à doutrina espírita quanto à principiologia apresentada pelos(as) Mestres(as) Espirituais que represento e com quem convivo, de modo intenso, desde 1988. As divergências deontológicas tornaram-se significativas, assim não mais havendo espaço para a identidade espiritista.
Todavia, em minha opinião, e com muita convicção – desejo deixar bem claro –, existem pessoas de bem, cumprindo missões importantes, na seara da doutrina espírita, qual ocorre igualmente em outras religiões formalmente organizadas, como o catolicismo e as diversas denominações evangélicas, englobando as tradições espirituais fora do meio cristão. A verdadeira espiritualidade não é sectarista nem proselitista, mas sim pautada pelo respeito à forma de crer e de ver o mundo de todos os indivíduos, incluindo agnósticos(as) e ateus(eias).
SS – Em sua biografia no site Salto Quântico, não há informações sobre sua vida adolescente. Como foi lidar com a mediunidade durante a adolescência, na convivência com os colegas de escola etc.?
BTA – Evitava falar do assunto. E, por muitas vezes, cheguei a questionar se era mesmo médium, porquanto presumia que médiuns viam e ouviam os espíritos o tempo inteiro, a ponto de confundi-los com pessoas encarnadas ou aprisionadas em corpos físicos. Esse tipo de vivência está mais próximo dos distúrbios mentais, como as alucinações visuais e auditivas da esquizofrenia, que indicam fragmentação do próprio psiquismo. Felizmente, não era o meu caso.
SS – O senhor começou o curso de Direito e não concluiu. Qual a sua formação atualmente?
BTA – Nenhuma (risos). Desde que saí da infância, tinha conhecimento de que nunca concluiria um curso universitário, embora não compreendesse o motivo. As funções precognitivas eram-me, inclusive na infância, mais intensas do que as mediúnicas. Só na adultidade, no entanto, surgiram-me os esclarecimentos a respeito. Se eu tivesse um viés científico ou cultural específico, não poderia ser o representante de um conjunto de Seres que falam para integrantes de todas as categorias profissionais, acadêmicas, ideológicas, religiosas etc. Sem me condicionar a uma disciplina do conhecimento em particular, posso ser mais flexível e fiel, no campo do pensamento, a interpretar e canalizar os(as) Amigos(as) Espirituais do Plano Sublime de Consciência.
Outro ponto que caberia destacar é que, se eu não fosse, meramente, um generalista, não me seria possível traduzir, a contento, as respostas e elucidações que esses(as) grandes Professores(as) de domínios extrafísicos de existência apresentam, num entrelaçamento transdisciplinar extraordinário, para as questões que aturdem o público da atualidade.
SS – Quanto ao Salto Quântico, fundado como Sociedade Filantrópica Maria de Nazaré, em 4 de fevereiro de 1992, pergunto: o que é o Salto Quântico? Tem alguma diferença entre a definição científica, que é “transição eletrônica atômica”, e o sentido que o senhor deu?
BTA – Os(as) Instrutores(as) Espirituais que canalizo apontam o fenômeno subatômico do salto quântico como um paradigma do que acontece em várias dimensões da realidade, abarcando o universo humano. Por exemplo, uma pessoa pode, vivenciando uma determinada crise existencial, sofrer um “salto de consciência” e amadurecer enormemente, em curto espaço de tempo, passando a um nível mais alto de entendimento da vida – o que lhe poderia demandar vários anos. Ou seja: “pulam-se”, por assim dizer, etapas de desenvolvimento, como ocorre ao elétron, no interior do átomo.
O mesmo se dá com comunidades, nações e até com a humanidade inteira de nosso planeta. Atravessamos, com a atual crise ecológica (mundial) e político-militar (na Europa), uma fase que pode nos propiciar um salto em nossa visão de mundo e interação com ele. Ou fazemos isso, ou não sobreviveremos, como espécie, sobre a superfície da Terra.
SS – Atualmente, o Salto Quântico atende a quantas pessoas?
BTA – Algumas centenas, em nossos serviços filantrópicos na comunidade Santa Maria, em Aracaju, através do Núcleo de Educação Espiritual e Saúde Irmã Brígida. Algumas dezenas ou centenas de milhares, por meio de nossas palestras e publicações em vídeo, no nosso canal YouTube. Alguns milhões, por nossas páginas no Facebook, em 192 dos 193 países computados pela Organização das Nações Unidas. Por sinal, tenho a honra, por Mercê Divina, de ser presidente de um órgão (o Instituto Salto Quântico) que tem, desde 2018, status consultivo especial junto ao Conselho Econômico e Social (ECOSOC) da ONU.
SS – O senhor começou seu trabalho em Aracaju, estava no rádio e na TV, seus programas tinham uma grande audiência aqui. Em fevereiro de 2020, o senhor se mudou para o Estado de Nova York, mais especificamente em LaGrange. O que o levou a mudar-se? Intuição? Conselho de seu guia espiritual Eugenia-Aspásia?
BTA – Diria que aconteceu uma inescapável convergência de eventos, no sentido de minha transferência para cá. Recebi intuições, desde a infância, relacionadas aos EUA, mas sempre fui muito resistente a aceitar a ideia de fixar residência por aqui, mesmo quando comecei a visitar nosso “Irmão do Norte”, para périplos de palestras anuais, em 1996. Tenho uma forte identidade cultural com o Brasil e com meu “idioma-pátria”: o português. Mas, aos poucos, o Espírito Eugênia-Aspásia me convenceu da importância de estarmos próximos à sede mundial da ONU e da capital simbólica do mundo (Nova York), em virtude da envergadura internacional da organização-movimento que Ela criou por meu intermédio.
SS – O espírito Aspásia é o da pensadora grega, nascida em Mileto, na Ásia Menor? Por que a junção com o nome Eugênia? Como o senhor define seu guia espiritual?
BTA – Ela a princípio ocultou sua personalidade ilustre, porque sabia que, no início de minhas atividades mediúnicas, eu não aceitaria o fato de estar em contato com a Mestra de Sócrates. Somente quando o Instituto Salto Quântico tomou uma dimensão nacional, no início dos anos 2000, Ela afirmou (em 2003) ter sido Aspásia de Mileto e (em 2004) ter reencarnado como a vidente francesa Bernadette Soubirous, que viu Nossa Mãe Maior, em Lourdes, França.
Sempre me incomodei com a atitude de pessoas que, consciente ou inconscientemente, fazem uso de nomes de vultos históricos, supondo-os seus guias espirituais diretos, para fomentar uma aura de importância à sua atividade mediúnica ou, tão só, a si mesmas. Assim, apenas depois de nosso trabalho adquirir proporções significativas nacionalmente, que eu não poderia atribuir a meu mérito pessoal, Ela se permitiu revelar quem foi… quem é.
SS – Em um vídeo, o senhor diz que Lula é “a reencarnação de Dom Pedro II” e que Bolsonaro “é representante de uma espécie de sombra psicológica do país, de tudo que reprimimos no inconsciente”. Estamos às vésperas das eleições e eles despontam nas pesquisas. Seu guia espiritual já lhe disse quem vai liderar o Brasil em 2022?
BTA – Não. Eugênia-Aspásia e o Conselho de Professores(as) que Ela representa não admitem que as funções mediúnicas sejam utilizadas para interferir, de nenhum modo, no livre-arbítrio de indivíduos ou comunidades. Mas me permitem esclarecer as pessoas quanto aos princípios universais de respeito à dignidade, à liberdade e à vida humanas.
SS – Vivemos um momento surreal. Quando estamos saindo de uma pandemia, com o advento das vacinas, assistimos a uma guerra entre Rússia e Ucrânia. Como o senhor interpreta esses dois momentos na história do mundo, com tantas desencarnações coletivas?
BTA – Atravessamos um “turning point” de caráter global. Há uma necessidade urgente de mudanças profundas, em larga escala e de cunho definitivo. E uma transformação de medidas mastodônticas, com efeitos permanentes, nunca poderia ser ensejada sem grandes vicissitudes, de proporções planetárias.
SS – A doutora Emma Francis Stone, da Universidade de Auckland (Nova Zelândia), defendeu a tese “Deus é brasileiro: um estudo comparativo da religiosidade contemporânea na modernidade tardia no Brasil” e dedicou um capítulo inteiro ao Instituto Salto Quântico. E diz que o Salto Quântico promete proteção contra os mais variados perigos aos seguidores, cujo percentual era de acordo com o número de palestras assistidas. O senhor pode explicar, por favor?
BTA – Primeiro preciso esclarecer que sou um ser humano normal, com defeitos e vulnerabilidades comuns. O Discurso de que sou porta-voz, entretanto, procede de Instâncias Superiores, de Dirigentes dos destinos de nosso orbe. Quando isso acontece, de modo autêntico, as Autoridades que governam a civilização terrestre providenciam Sinais que só podem provir da Divindade, a fim de que todos(as) sejam concitados(as) a ouvir o Discurso com respeito e, assim, melhor se beneficiarem. Sugiro que os(as) leitores(as) interessados(as) na temática consultem o link: mariacristo.com.br/endossos.
SS – O que o senhor poderia comentar sobre o fenômeno que foi retratado no documentário “A Cura de Liza”?
BTA – Um desses tais Endossos Divinos que oferecem indicação segura de que Eugênia-Aspásia e Quem Ela representa, como a Própria Maria Cristo, devem ser tratados(as) com os devidos respeito e reverência.
SS – O senhor tem 17 livros escritos. Qual considera o mais relevante? Há algum livro novo a caminho?
BTA – “Maria Cristo”, que defende a tese da existência de uma Mãe Crística da humanidade, que nos merece a mesma reverência que devotamos ao Cristo-Verbo, Nosso Mestre e Senhor Jesus. Está para ser lançado o segundo volume de “Respostas modernas da Sábia Grega”, uma coletânea de diálogos com o Espírito Eugênia-Aspásia.
SS – Como Benjamin Teixeira de Aguiar define Benjamin Teixeira de Aguiar?
BTA – Um homem comum a serviço de uma Plêiade de Seres Superiores que, em Nome de Deus, prestam um serviço de todo incomum à coletividade.
SS – Você poderia deixar uma mensagem de Páscoa para os nossos leitores?
BTA – Desejo a todos(as) os(as) leitores(as) do Só Sergipe, no domingo de Páscoa, uma feliz reflexão, debaixo da inspiração do Jesus Ressurrecto. Que nos motivemos, com o exemplo de Nosso Mestre e Senhor, a renascer, tantas vezes quantas se façam necessárias, dentro de uma mesma existência, transpondo obstáculos, superando limitações, lançando-nos, quanto possível, na direção da fraternidade e da Transcendência!
(Entrevista publicada no portal Só Sergipe em 17 de abril de 2022, domingo de Páscoa)