Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Na mensagem anterior a esta, publicada neste site (*), a amiga Brígida aludiu a “tentação”, e alguns companheiros encarnados não se sentiram incursos na categoria de “pessoas sendo tentadas”. Para esclarecer este tópico capital de nosso crescimento espiritual, vamos enumerar alguns gêneros de tentação dos mais corriqueiros entre gente decente e lúcida, tecendo alguns breves comentários sobre cada um, para, por fim, concluir este rápido e despretensioso ensaio com nossa opinião a respeito, com o propósito que nos traz aqui a falar sobre o tópico.
Tentação à culpa. Amiúde o ser humano se inferniza em pesadelos de auto-flagelo psicológico, por acreditar que, assim, redime-se de erros em que julga haver incorrido. É importante considerar também que:
a) Talvez a pessoa não haja errado quanto pense, nem onde e como supõe;
b) Não é pragmático se martirizar, subtraindo-se forças preciosas que poderiam ser melhor aplicadas no empenho por ressarcir-se pelos equívocos em que se haja resvalado.
Tentação ao desânimo. Muita gente acredita que o desânimo é próprio à condição humana, como característica indissociável da psique da espécie ou como efeito inevitável de se estar num mundo de “provas e de expiações”, em que o mal ainda predomina. Não é verdade. O desânimo, como a origem latina da palavra indica, revela uma desconexão da própria alma, constituindo, destarte, fragmentação ou alienação de aspectos de si mesmo, uma disfunção moral e psicológica, por conseguinte.
Tentação ao pessimismo. Muitos chegam a considerar o pessimismo como um corolário inexorável da inteligência apurada e da muita informação, o que bem dá uma idéia de quão longe andam da verdadeira lucidez, a sabedoria que sabe enxergar além do tatibitate da cotidiano e da superfície dos fenômenos, para divisar grandes panoramas, de perspectivas mais abrangentes. Perceber o mal é óbvio: é a primeira função do senso crítico. Notar o bem que, por conseqüência e por elaboração de processos, possa-se atingir a partir do mal – isto sim, que poderíamos chamar de otimismo lúcido, é extremamente difícil, mas constitui dever de toda mente esclarecida e comprometida com a moral e a espiritualidade.
Tentação ao prejulgamento. Dificilmente há criatura humana que passe sem cometer, amiúde várias vezes ao dia, esta falha que, antes mesmo de ser moral, diz respeito à pobreza dos instrumentais de percepção humanos. Assim, é comum projetarem-se carências, frustrações, ódios e pré-concepções em pessoas, situações e eventos, tomando especulações e impressões íntimas como fatos, freqüentemente resvalando-se para as mais cabais expressões de injustiça, quando não se desce ainda mais no deslize, chafurdando-se na lama escura da maledicência e da calúnia deslavada. Não há ser humano que não cometa falhas na avaliação das intenções, das motivações mais profundas de seus irmãos em humanidade; e, muita vez, somente ao desencarnar tem-se uma pálida idéia dos tremendos equívocos em que se permitiu incorrer neste particular. Obsessões diabólicas têm oportunidade de acontecer, por meio desta deplorável fraqueza humana, que é tentação de toda hora, convertendo crítica construtiva em condenação inapelável; análise necessária de acontecimentos, em sentenças sumárias de desprezo; malícia realista em malevolência cabal; e opiniões pessoais, em verdades eternas a respeito dos outros e de si mesmo.
Tentação à deserção. Inclinar-se a desistir de compromissos assumidos com pessoas, causas e funções sociais diversas; fugir da voz da própria consciência; dar as costas ao próprio ideal, em momentos de crise e de dor moral acerba. Claro que se pode rever o que se tem como objetivo central de vida; que relacionamentos interpessoais podem e devem ser renovados, quando os fins precípuos da existência – crescimento e plenitude, paz e equilíbrio – não estão sendo alcançados. Entretanto, a falta de seriedade com projetos e metas de vida faz com que indivíduos abandonem vínculos afetivos, profissionais e de ideal, no momento em que surge a primeira dificuldade maior. Esforço, disciplina e disposição para renunciar ao passageiro em função do permanente (o que se chama, modernamente, no estudo da “inteligência emocional”, de “capacidade de adiar gratificações”) são imprescindíveis para que se atinja a excelência, em qualquer departamento da existência, do familiar ao espiritual, passando pelo material, e, pasme-se: incluindo-se os setores do repouso e do lazer.
Tentação à perda de fé. A pouca aptidão a pensar de modo mais complexo e profundo, o desconhecimento de si próprio e, principalmente, dos princípios basilares que regem as engrenagens evolucionais do universo levam muita gente a se “decepcionar” com Deus, como se Ele precisasse delas, ou como se Ele estivesse sujeito ao crivo de sua avaliação. A espiritualidade desenvolvida é o acabamento final da longa trajetória de amadurecimento psicológico do indivíduo, embora, em níveis elementares, apresente-se, embrionária ou infante, em todas as etapas do despertar da consciência. Desistir de procurar a Deus e Seus representantes, porque um capricho não foi atendido (por mais que se entenda que o que se não obteve não seja um capricho do ego, como o sucesso material dos filhos) denota um baixíssimo grau de poder de abstração e pensamento filosófico, digamos assim. Deus não deve satisfações a ninguém. Ser Supremo, conduz todas as criaturas ao bem de todos e de cada um em particular, apesar de, sendo Inteligência Máxima, freqüentemente não ser compreendido em Seus projetos de evolução individual e coletiva. Melhor compreender que a espiritualidade seja uma ferramenta condutora à sabedoria e à paz, do que uma varinha de condão para a realização de desejos subalternos relacionados ao ego e suas paixões mesquinhas. Assim, é mais fácil vencer-se esta tentação.
Quem sofre tentações? Responda agora você, diante do que acabamos de desdobrar. Pois é: todos e a todo tempo. Ou seja: estar vivo e ser consciente é o exercício da lucidez, do despertar, do estar “acordado” ou acordar-se em patamares progressivamente mais altos de consciência, de superar os diversos níveis de “adormecimento” das percepções, de parâmetros estreitos de análise e inferência. É o se tornar, gradativamente, um “buda”, que, não por acaso, pode ser traduzido como “iluminado” ou como: “aquele que despertou”.
Agora, sim, retorne ao texto lapidar de nossa adorável amiga Brígida, e veja como lê-lo-á com outros olhos… com outro coração, e, sim: agradecerá a peça magistral de conforto cristão e sabedoria espiritual com que ela o presenteou, ao reverso de sentir que ela não falava nada para você.
(Texto recebido em 27 de dezembro de 2005.)
(*) Eugênia alude ao “Sob o Guante do Mal”, publicado como mensagem do dia 27 de dezembro, que você pode acessar, clicando em “mensagens anteriores”, no canto esquerdo superior desta interface.
(Nota do Médium)