Benjamin Teixeira
pelo espírito Gustavo Henrique.
Rogério se negou a participar de obra caritativa com crianças, e perdeu a promoção que aguardava ter no trabalho, ao final do ano. Tinha seus motivos para fazer economias, é claro, mas o Cosmo também teve o seu, de não premiá-lo.
Constanza nasceu para o serviço do próximo, ouvindo queixas e trazendo consolação para todos, mas negou-se à prática da Psicologia, já que a clínica médica é muito mais rentável que a psicoterápica. Vive frustrada, atraiu para si um marido igualmente mercenário e, de quebra, três espíritos nasceram-lhe como filhos no mesmo padrão cármico.
Otávio recebeu pedido de ajuda para manutenção de programa de rádio de divulgação dos ideais evangélicos, e regateou a doação módica que lhe fora pedida. Bateu o carro, poucos dias depois, em prejuízo superior ao valor que poderia ter cedido, em auxílio fraterno a milhares de ouvintes que seriam orientados conforme os dizeres de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Mércia sentia que deveria se dedicar aos velhinhos da família, mas achou enfadonha a idéia e, principalmente, sacrificial, já que perderia parte de seu fim de semana com conversas e compromissos cansativos. Desenvolveu artrite reumática, com pouco mais de trinta anos, sem haver causa aparente, trazendo as dores da velhice para si mesma, bem antes do tempo.
Douglas namorava moça digníssima, por quem nutria especial estima, mas afastou-se dela, para desposar filha de rico fazendeiro, supondo, com isso, garantir-se um futuro mais seguro e feliz. Atraiu para si, sem saber, uma megera que, para completar, intuindo-lhe as intenções escusas, humilhava-o, dia e noite, na sua condição de comerciante do amor, enquanto ele mesmo teve que assistir ao espetáculo do casamento do seu grande amor com colega de infância, a quem fez muito feliz, com sua doçura, aquela mesma que seria sua, durante toda a vida, se tivesse seguido a voz do próprio coração.
Existe a Lei da Misericórdia Divina, que semeia amor, onde haveria colheita de dor, para aqueles que fazem por merecer, pela dignidade de seus esforços em se aproximar de seu melhor. Mas, para aqueles que tergiversam, no empenho de serem nobres e retos, generosos e fraternos, a colheita de padecimentos atrozes é inevitável, a fim de que aprendam, com a mestra implacável da dor, a cogitarem questões mais sérias que seus interesses intestinos.
Bem-aventurados aqueles que dão e se dão de boa-vontade. Mas ai daqueles que, pensando sempre em si e no interesse imediato, sacrificam os assuntos da alma pelos prazeres do corpo e do ego. Pagarão caro a sua mesquinharia, enquanto os homens e mulheres de bom coração, ainda que errem aqui ou ali, serão agraciados por toda sorte de favores da vida, ocultos ou manifestos.
Alguns poderão se lembrar, ante nossas palavras, dos ricos corruptos e dos poderosos inconscientes. Mas lembramos que não se sabe de sua vida íntima, a conjugal, a familiar, o seu próprio universo psicológico, o campo dos seus sonhos e o clima contínuo de mal estar ou de pesadelo em pleno dia que tenham que suportar… E se há daqueles que, de tão insensíveis, nem a menor ponta de remorso conseguem desenvolver, seguindo aparentemente vitoriosos, enquanto plantam o mal, não fazem idéia, os pobres coitados, da espada de Dâmocles que pende sobre suas cabeças, a ponto de lançá-los, a qualquer instante, dentro ou fora do corpo, em terríveis e inapeláveis suplícios infernais.
Cada um sintoniza com o Amor ou com a Justiça de Deus, conforme sua necessidade evolutiva. Escolha, amigo, o caminho do amor, ou as valas da dor abrir-se-ão sob seus pés, fazendo-o resvalar para os despenhadeiros de uma ou mais existências sofridas, a começar da atual.
(Texto recebido em 18 de outubro de 2001.)