Benjamin Teixeira
pelo espírito Anacleto.
Às vezes, a Divina Providência precisa apelar para recursos dramáticos, a fim de obter resultados necessários no trabalho do bem. Assim é que os seus filhos prediletos são de um modo todo particular aquinhoados com estímulos santos ao crescimento íntimo. Esses êmulos vêm em forma de crises, angústias indefiníveis, quedas lamentáveis, transformações violentas motivadas por tragédias pessoais e familiares. Não há aquele que esteja no mundo, de um modo particular, a serviço do Senhor, que não seja coberto de tentações constantes, sofra assédios continuados ou não seja vítima de ataques nefandos do mal. Tudo para que o bem cresça e se fortaleça, no âmago do candidato ao discipulado do bem.
Nada disso, porém, implica dizer que estejamos fazendo, aqui, uma apologia às forças das trevas, ou que estejamos cultuando o sofrimento. Apenas reconhecemos um fato: não há candidato à Luz Divina que não atravesse a escuridão de si. Os caminhos para isso são diversos, como variados são as personalidades e os caracteres, mas a jornada pela noite escura da alma é indispensável a que se atinja a radiância imarcescível da Luz Divina. As crises morais fazem as vezes de exercícios salutares da espiritualidade do indivíduo, acelerando o processo de amadurecimento da psique, catalisando o processo de incubação do anjo que dormita no imo de cada criatura. Ninguém considera mórbido um fisiculturista sugerir a seu discípulo que suporte dores e cansaço, nos esfalfantes esforços de expandir a massa muscular, nos alteres. Não faz sentido esperar-se caminho mais fácil na atividade mais nobre, complexa e profunda da alma: a auto-transcendência. Ninguém alcança o Supremo Bem, sem longo e laborioso empenho em superar o mal, nas matrizes de fraqueza em si mesmo, rumo à integração plena dos seus conteúdos nos Fluxos da Força Divina.
Se você atravessa uma dessas fases cruentas de provação e amargura, seja ela qual for, medite. Não é por acaso que a Divina Bondade permitiu que chegasse onde chegou. Poderá lhe parecer absurdo que o tal estado de coisas seja uma delegação divina ou mesmo apenas tenha recebido Sua chancela para ocorrer. Mas ninguém pode devassar os desígnios do Ser Sacrossanto: Sua Inteligência está acima de tudo que possamos conceber. Curvarmo-nos a Ela, quando não A entendemos é um sinal de bom senso e de lógica.
Verifique, de um modo todo criterioso, de que forma específica essa quadra de dor pretende lhe lecionar. Há uma lição singular que o Senhor quer lhe passar com essa prova. Qual? Você saberá, ouvindo os recôncavos mais fundos do seu coração, auscultando os refolhos mais profundos de sua consciência. A sensação intuitiva de haver descoberto a verdade (verdade pessoal, espiritual, para esse assunto específico) e a sensação de paz dar-lhe-ão uma noção de quando houver atingido esse padrão de resposta divina.
Portanto, nada de desespero. Nada acontece sob o Céu, sem Permissão Maior. Um fio de cabelo de nossas cabeças, como disse Jesus, não cai, sem que o Pai disso tome conhecimento. Não importa a dimensão de sua dor ou a extensão de seus erros – Deus sabe como sanar todos os seus padecimentos e equívocos e convertê-los em ventura e crescimento. É, inclusive, para incentivá-lo a essa busca de transcendência que Ele-Ela autorizou sua chegada a esse ponto de crise. Agradeça, então, por mais estranho que isso lhe possa parecer agora, essa oportunidade de aprendizado e ascese e entregue-se, confiante, ao processo complicado e doloroso da metamorfose da alma, assim como a lagarta que se rende à tortura da crisálida, a fim de surgir borboleta.
Você, hoje, pode ser lagarta viscosa e pútrida, no interior de seu casulo de acerbas dores morais. Deus, porém, em Sua grandeza infinita, transfundirá toda sua miséria em glória, e todo seu padecimento em ventura.
(Texto recebido em 12 de dezembro de 2001.)