Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.


Você é racista e sua filha se apaixonou por um negro?
É sexista e seu chefe é uma mulher autoritária?
É homofóbico e descobriu que seu primogênito é gay?
Nasceu em “berço de ouro” e, hoje, é falido ou está desempregado?
É cioso de sua reputação e nefanda calúnia circulou a seu respeito?
Gostaria de destaque e vive oprimido no ostracismo social?
Quereria possuir mais títulos, na honradez das formalidades do mundo físico, e a vida lhe roubou oportunidades de maior titulação acadêmica?
Gosta de adulações e, de reversa maneira, tratam-no como um pária social?
Você é um moralista e se viu incorrendo nos mesmos equívocos que condenava nos outros?

Bem-vindo à Terra. E, por outro lado, bem-vindo à vontade de Deus, que abomina facilidades, execra preconceitos, detesta o orgulho e promove tudo, na vida de suas criaturas, no sentido da contra-mão do comodismo, com o fito de emulá-las ao crescimento e ao aprofundamento da sabedoria, da maturidade e da lucidez, bem como da virtude, da grandeza d’alma, da espiritualidade em si mesmas.

Não espere que a Divina Providência o convide a situações confortáveis, no círculo das convenções sociais ou das conveniências econômicas e psicológicas. Obviamente que você deve, tanto quanto estiver ao seu alcance, buscar o bem estar e lutar pela plenitude. Mas é do feitio do Divino Fluxo fomentar circunstâncias críticas, que tirem Suas criaturas da zona de conforto e as lance no mar alto do caos, e, por conseqüência, da criatividade e da transcendência exigidas pela contingência complexa.

Alguns não precisam, nem podem passar por provas tão difíceis, porque são almas mais frágeis, que não suportariam as grandes intempéries da vida. É bem verdade que muitos sofrem pela própria imprevidência e irresponsabilidade. Todavia, mais do que se imagina, a Divina Vontade propicia a queda, para gerar na criatura um poder de vôo desconhecido ou uma capacidade de rastejar até o objetivo, ainda que sangrando e lacerada.

Como distinguir os que estão atraindo conjunturas amargas, por falha nos padrões internos, daqueles que são premiados pela Vida, com quotas mais avantajadas de aprendizado? Os primeiros vivem angustiados, sentem-se impotentes, mostram-se como revéis da sorte, no complexo de vítima em que se comprazem. Os que pertencem à segunda categoria padecem muito, mas são ainda mais felizes, sem muitas vezes sequer se darem conta do quanto padecem para atingir seus elevados fins éticos, espirituais, de ideal, de realização pessoal.

Por fim, nunca mais blasfeme, ao reclamar de Deus, quanto a injunções complicadas encontradas nas veredas de sua existência, porque ou elas foram provocadas por você, ou constituem título nobiliárquico, por ser considerado suficientemente amadurecido e forte para suportar e superar testes mais difíceis, com o que, também, evoluirá mais rápido e fará conquistas para a vida eterna mais expressivas. Nunca suponha ser Deus uma ama seca ou um professor inconsciente, a viciar crianças, deixando-as longe do estudo sistematizado e da disciplina no comportamento.

E, assim, quando se vir convivendo com o colega impertinente ou com o cônjuge de difícil trato, o filho ingrato ou o aperto financeiro, faça o que estiver ao seu alcance para debelar a circunstância desagradável e aprender com ela, expandindo potenciais próprios. Mas agradeça a Deus pelo ensejo de crescimento, em vez de tomar a dianteira na iniciativa extemporânea da fuga. Claro que será sempre livre para buscar conjunturas melhores de felicidade e bem-estar para si. Entretanto, é justamente em meio a crises e esforços-limites – sabem disso os jovens de mais tenra idade – que se desenvolvem as mais importantes fibras do caráter e da alma.

(Texto recebido em 17 de fevereiro de 2005.)