Benjamin Teixeira pelo espírito Eugênia.
Aqueles que se humilham serão exaltados; e os que se exaltam, serão humilhados.
Jesus Cristo.
Escolha sempre a humildade.
Esqueça, definitivamente, os delírios angustiantes do orgulho e da vaidade, que passam excitantes como um vendaval, mas deixam, por detrás de si, territórios imensuráveis de sua existência completamente devastados. Procure ser natural e ser simples – constituem elementos indissociáveis à verdadeira maturidade psicológica.
Não se preocupe em devolver na mesma moeda: isso é uma escravidão atormentante – há muitos agressores gratuitos no mundo terreno: terá que viver, então, continuamente se defendendo e retornando grosserias? O que você sairá ganhando com isso? Isso não seria justamente o contrário do que pretende? – não seria conferir poder a quem não contribui para seu bem estar, para destruir sua harmonia e bem estar íntimos? Por que não optar pelo equilíbrio, pelo domínio de si, pela vitória sobre o desejo de o outro perturbá-lo, permanecendo sereno e feliz, mesmo ante o ataque mais descabido? Sabe-se, inclusive, que essa é uma das formas mais finas de revide – um conjunto de mensagens subliminares é assim transmitido:
Você é tão insignificante para mim, que sequer é capaz de me afetar.
Se você quis me fazer me sentir mal: exploda de raiva: eu estou ótimo! e vou continuar, a despeito de todos os seus esforços em contrário e de sua revolta por causa disso.
Obviamente que não buscará o asserenamento com essa intenção, ou se estará ainda na sintonia do mal, corroendo a tranqüilidade e harmonia interiores, e mesmo sendo venal e hipócrita. Agir com esse propósito é o que caracteriza o cinismo e o deboche, com nítidos indícios de sadismo. Apenas, com a apresentação desse fato, postulamos como é visivelmente superior e eficaz a conduta da imperturbável serenidade, a ponto de os representantes mais inteligentes do mal entenderem ser conveniente simulá-la. Santos e místicos de todos os tempos têm sido retratados, com acerto, por obras artísticas e relatos escritos, como dotados de serenidade em níveis de excelência. De fato, a serenidade que a humildade confere é um dos sinais mais inequívocos da genuína sabedoria – um atributo dos seres mais desenvolvidos.
Assim, no exercício da humildade, não pense que o sentirão como fraco. As pessoas não são tão bobas como parecem (principalmente aos bobos). Quando alguém se acalma não por medo e sim por coragem de domar-se, isso é pressentido, como uma alteração na atmosfera ambiente. A fraqueza é intuída quando alguém se retrai por medo, no que temos a subserviência. Portanto, paradoxalmente, quando tentar superar seu orgulho, que tanto exige respeito, respeitá-lo-ão ainda mais. E se, por outro lado, não o considerarem, pouco importa: prefira a paz que a simplicidade propicia à alma, ao tormento que a arrogância e a presunção geram.
Humildade é fonte de poder: poder sobre si. Com ela, tem condições de gerir melhor sua casa mental e tornar-se livre dos impositivos caprichosos e infantis do ego: vingança, retaliações, necessidade de auto-afirmação, constante preocupação com a opinião alheia. Escolha a liberdade – ser humilde é ser livre do julgamento alheio, do império das aparências, liberdade para ser você mesmo e ser feliz.
Sim, você não vai se santificar do dia para a noite, e perder totalmente todos os pruridos de orgulho ferido e de desejo de auto-afirmação. Experimente, todavia, o exercício da humildade, e notará que, em pequenos gestos de candura e humanidade descobrirá uma manancial de alimento para sua alma, em forma de paz e de estímulo ao seu bem estar profundo.
Dê telefonema amistoso, a alguém com quem anda estremecido.
Escreva carta singela a alguém com quem gostaria de reatar laços de urbanidade, mas com quem reconhece ser inviável tentar contato pessoal.
Seja gentil e atencioso com quem não seria, principalmente pessoas que lhe inspiram desprezo ou desdém. É aí o território precioso do treinamento da legítima humildade. Curvar a cabeça ante os poderosos é norma comum. Reverenciar crianças, tratar, com zelo prestimoso, pessoas colocadas em posição social ou cultural inferiores, ser indulgente e mesmo carinhoso com aqueles que incorrem em faltas de inteligência ou de atenção. Tudo isso são grandes oportunidades de se expandir no campo da humildade e conquistar largos terrenos à sabedoria – é a liberdade e à verdadeira felicidade.
Mais que qualquer atitude em si, empenhe-se por vivenciar, continuamente, como uma disciplina diária, o estado de espírito da humildade, reconhecendo sua pequenez e limitação, no que perceberá, claramente, que a humildade, antes que uma virtude moral, constitui um piso fundamental de lucidez. Quem é orgulhoso distorce a percepção dos fatos, dos acontecimentos, da própria natureza e dos outros. Vê tudo de través, como se estivesse numa sala de espelhos, quais aquelas dos parques de diversão na Terra. Melhor a verdade, que informa, previne e dá espaço à boa administração de uma situação, à mentira que ilude e abre espaço a perigos de todas as ordens, a começar pelas atitudes disparatadas, completamente dessintonizadas com as realidades com que pretendem interagir.
Sim, amigo(a), defenda-se, sempre que se fizer necessário, mas sempre calmo e racional – ou não se tratará de uma defesa e sim de um gol contra, a favor exatamente do que mais seu inimigo quer: destruí-lo.
Destarte, fique atento aos impulsos de defesa justa: são um disfarce capcioso do ego, a insinuar a proteção das necessidades narcisistas, exageradas e irracionais do amor-próprio, nesse caso: orgulho-próprio. Auto-estima não é brandir espadas a torto e a direito, qual se estivesse em pleno campo de batalha. O campo de batalha não está fora: está dentro de nós. Dom Quixote de la Mancha, de Cevantes, em sua mítica luta inglória contra um moinho de vento, convencido de que enfrentava um dragão medonho, reproduz bem o absurdo patético da miopia emocional e moral humanas, ao não enxergar a tolice do ser intempestivo e prenhe de brios. Não por outra razão, um dos traços imediatamente associados à vulgaridade, à ignorância e à falta de informação é o indivíduo ser dado a cenas espalhafatosas e melodramáticas de raiva, a que, pejorativamente, chama-se de briga de cortiço ou briga de cabaré, sendo que essas, tão-somente, de modo caricatural, revelam quão deprimente é toda manifestação tempestuosa de indignação, e que, de tão deploráveis, apesar de trágicas, têm fortíssimo tom cômico: o ridículo da estupidez humana.
Escolha crescer. Escolha ser livre. Escolha ser feliz. O catedrático não se mede com a criança do pré-escolar. Se você realmente quer amadurecer, terá que agir de acordo com os ditames do bom senso e da moral mais elevada, enxergando, nas criaturas que se confiam às fantasias do orgulho e às tempestades do ódio, crianças infelizes e doentes, talvez adultas no corpo e na inteligência, mas definitivamente bebês no coração.
(Texto recebido em 26 de maio de 2001.)