Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

 

 


Encerrado o culto do Evangelho que realizo pontualmente às 14 h, a mentora espiritual Eugênia tomou da palavra e disse:

“Para os estudos da tarde de hoje, abra o Evangelho de São João, no capítulo 8, versículos 35 e 36.”

Não por acaso, estava ela oferecendo a base bíblica de um dos temas que nos surgiram à palestra ontem, por provocação dos circunstantes, e sobre que, sob inspiração dos orientadores desencarnados lá presentes, aludi ao homem “sarkikos” (carnal) e “pneumatikos” (espiritual), sendo que o primeiro deveria se submeter a um sistema rigoroso de obediência a regras e princípios, ao passo que o segundo poderia viver a verdadeira liberdade. Por outro lado, destaquei, conforme proposição de Jung, a necessidade de enxergar estes “dois homens” dentro de nós mesmos: as funções inferiores do psiquismo exigindo educação; as superiores, merecendo a liberdade de manifestação. Seguem-se o trecho do Evangelho indicado por Eugênia e seu comentário instrutivo.

“Ora, o escravo não fica na casa para sempre, mas o filho sim, fica para sempre. Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres.”
(João, 8:35-36.)


Segundo depreendemos facilmente do texto evangélico, não há necessidade de angústia e dor, sentimento de estar sendo oprimido ou coagido, para se seguirem os ideais de disciplina e de bom senso, que a espiritualidade inerente à mente humana sugere. Quem se sente sob o império da coerção psicológica, quando contactando e vivendo as realidades espirituais, padece de grave miopia, que será sanada com o tempo, que será tão curto quanto seus esforços favorecerem a assimilação profunda desta lição do Cristo.

Se, assim, no trato com as questões da oração, do estudo digno, do empenho na melhoria íntima, da prática da caridade e das atividades diversas da instituição espiritual de que faz parte, você se sente padecendo as constrições do ego e do id, respectivamente: o eu humano (centro decisório-racional) e o eu inferior (feixe de instintos e necessidades basais), atente-se para a verdade de que o Eu Superior (núcleo de idéias e sentimentos transcendentes), a centelha divina na intimidade do seu coração, pode libertá-lo de todo embaraço e depressão, instigando-lhe ânimo renovado, para as tarefas a cumprir, que lhe são assinaladas pela consciência, pela voz da intuição e do ideal.

O “Filho”, como dito na passagem bíblica – ou o Self, na linguagem arquetípica da psicologia jungiana – conduzi-lo-á, assim, a novo padrão de consciência, alimentando-lhe o desejo de crescer e de ser feliz, comunicando-lhe a alegria indefinível e incomparável de se estar conectado ao Fluxo Divino, sendo continuamente alimentado pelo suprimento inexaurível das Forças da Luz. Neste estado, então, saberá você escolher e desejar com acerto progressivo, caminhando para a condição dos Espíritos Sublimados, que nunca erram em suas conclusões e decisões, por já haverem superado todas as barreiras e conflitos entre sua vontade e a de Deus.

Ademais, nestes conflitos e dilemas interiores, que grosseiramente podemos resumir, de modo maniqueísta (para simplificar com intuitos didáticos, pois que se trata, em verdade de um “continuum” evolutivo), como a peleja entre as forças da retaguarda e os vetores conscienciais da vanguarda, que você enfrentará enquanto for humano, recorde-se de que existem inteligências desencarnadas ou encarnadas que, por emanações mentais, infiltram-se, mais freqüentemente do que gostaria de admitir, nos tecidos de seu psiquismo, pelo mecanismo da ressonância mental, retroalimentando-se inclinações primitivas ou patológicas ou, de reversa maneira, potencializando-lhe as tendências mais elevadas ao serviço solidário, à busca da sabedoria e da auto-superação, sem, todavia, paradoxalmente, elidir-lhe o livre-arbítrio, inviolavelmente ativo. Cônscio disto, busque, pela prece, o amparo destes que lhe falam à câmara secreta do coração e da intuição, na linguagem inarticulada do amor, da alegria, da paz e da ponderação criteriosa, bem como, por outro lado, combata as expressões atávicas da depressão, do tédio, da irritação, do pessimismo, do cepticismo e da desconfiança, quando não do interesse subalterno e outras intenções inconfessáveis do “baixo mundo” de sua psique.

Faça isto, entretanto, como dissemos acima: em regime de esforço sereno e não de obrigação constringente, porque o que é de Deus flui e alegra e o que é do mal trava e infelicita.

Por fim, respeite seu ego-racional, tanto quanto seu sistema de preservação física, atendendo, tanto quanto o bom senso permitir, aos apelos de ambos. Mas jamais deixe de ser regido, acima de todas as outras forças – priorizando-lhe os reclamos –, pelo seu Centro Espiritual, a voz da superconsciência, aquela que Jesus dizia: O Filho que está ligado ao Pai – ou Atman que é “parte” de Brahma, conforme a terminologia hinduísta – ou seja: sua divindade latente, que se comunica com o Criador.

(Culto do Evangelho do Evangelho do Salto Quântico, de 6 de junho de 2005.)